Democracia: entre o conflito e a “birra”

02/12/2015 – Tuíte do presidente da Câmara Eduardo Cunha, dizendo que a pedido das ruas, o pedido de impeachment foi acolhido.

Por Thiago Burckhart, para Desacato.info.

Vivemos tempos sombrios, não só em termos sociais, mas também em termos político-institucionais. Desse modo, discutir a democracia nesse cenário tão conturbado é premente e urgente, tendo em vista que alguns setores político-sociais ainda pedem a volta de um regime institucional autoritário, marcado pelo medo e pelo ódio. A democracia, na sua acepção moderna, representa a vontade das maiorias (mas com o devido respeito às minorias e seus direitos) e a construção de meios de participação social e política.

Para além disso, a democracia pode ser entendida a partir de uma noção de experiência. Experiência que compõe, entre uma série de circunstâncias, a defesa do regime institucional contemplado pela Constituição Cidadã de 1988. A experiência democrática deve buscar a cada dia seu aprofundamento, ou seja, é algo que deve sempre procurar a dinamicidade e o aprimoramento.

Um dos elementos centrais de qualquer democracia é o conflito. Conflito entendido como embate e debate de ideias, proposições e políticas, que manifesta a pluralidade de visões dentro de um espaço. Toda democracia deve admitir em seu cerne o conflito e torna-lo legítimo na medida em que garante a liberdade de expressão como condição precípua.

É isso o que distingue a democracia do autoritarismo – apesar de que a linha entre essa dicotomia é muito tênue –, pois num regime autoritário não há liberdade e espaço para o conflito, fazendo com que o pensamento único, e a obediência dos corpos e das mentes ao mesmo, predomine.

Conflito X “birra”

A democracia, assim como qualquer outro regime político, pode vir a ser corrompida. A corrupção desse regime por ocorrer por diversas formas, sendo uma delas a negação do conflito e sua substituição pela “birra”, pela teimosia, pela pirraça. A “birra” é definida pelo Dicionário Aurélio como: “1 – insistência numa mesma ideia ou comportamento; 2 – comportamento ou reação exagerada e sem motivação racional, geralmente originada por um capricho ou uma contrariedade”.

O cenário político institucional atual é uma clara demonstração desse processo antidemocrático. Um cenário marcado por atitudes irracionais em prol de causas irracionais. A irracionalidade é transmitida no plano da linguagem, do discurso e transforma em vítima todo aquele afetado por um vazio de pensamento e uma incapacidade de discernir sobre as questões políticas.

Se o conflito é o que marca a democracia, a “birra” é o seu contrário, ou seja, a marca de uma prática antidemocrática, que possui potencialidades perversas na esfera da arena política institucional. Mas não só nela, pois seus efeitos são sentidos por toda a sociedade.

Imaturidade

A “birra” é um sintoma da imaturidade político-institucional e da conservação de um ideário conservador incompatível com a democracia. Para muitos, a democracia ainda é vista como a necessidade de impor sua única visão e vontade, esquecendo-se que uma das outras características desse regime é o respeito à vontade da maioria, sobretudo quando expressa por meio do voto popular.

Mas é entre pedidos de impeachment sem fundamento e apoio a figuras por causas irracionais, que só servem para autopromoção de certos setores golpistas, que a “birra” vai se impondo como degradação da política brasileira. Uma degradação que exige ser entendida (por isso a necessidade de compreender a “birra” como categoria política) e contestada no plano da linguagem e do diálogo, e por meio dele maturar o pensamento e a prática política brasileira.

 

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.