Por Jeniffer Mendonça, Ponte.
ATENÇÃO: a reportagem contém descrição e imagens de agressões físicas contra a mulher.
No último dia do julgamento do feminicídio da advogada Tatiane Spitzner, nesta segunda-feira (10/5), a defesa do acusado Luis Felipe Manvailer decidiu fazer uma demonstração das agressões que ele praticou contra a vítima. Usando a própria colega, o advogado Claudio Dalledone Junior apertou com força o pescoço da advogada Maria Eduarda Lacerda, chacoalhando-a. Depois, simula um enforcamento e repete o movimento no pescoço, cuja força a faz cair no chão.
Manvailer foi condenado em primeira instância a 31 anos, nove meses e 18 dias de prisão por homicídio qualificado, com a qualificação de feminicídio, além de fraude processual por ter agredido e jogado a esposa do quarto andar do prédio onde moravam, em Guarapuava (PR), e deve indenizar a família da vítima em R$ 100 mil (leia aqui a sentença). O caso aconteceu em 2018 e a condenação se deu por quatro votos contra três de um júri formado por sete homens. Cabe recurso à decisão.
As imagens foram transmitidas pelo canal do Tribunal de Justiça do Paraná e podem ser vistas na íntegra a partir das 2h58min20s. Na gravação, Claudio diz que pediu para que Maria Eduarda aceitasse participar da demonstração, alegando que Tatiane não morreu por causa das agressões e sim pela queda e que, por isso, o crime não poderia ser configurado como feminicídio.
Para a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e especialista em gênero Claudia Patricia de Luna Silva, a violência empregada pela defesa de Manvailer foi considerada um “show de horrores” em uma situação em que a violência contra a mulher já era objeto do julgamento. “Não se fazia necessário ao argumento do advogado uma espetacularização e a promoção de uma violência contra uma outra mulher para que se fosse realizada a defesa do acusado”, critica. “A gente observa que aquela encenação foi tão violenta ao ponto de deixar marcas no pescoço da colega. Aquilo foi um show de horrores.”
Com a repercussão das imagens, Claudio e Maria Eduarda gravaram um vídeo em que justificam que exerciam o direito pleno de defesa. “Foi feita uma dinâmica para que o cidadão jurado tivesse consciência de que seria impossível uma esganadura sem deixar marca”, declarou o advogado. “Ela não teve nenhuma lesão, ela não foi subjugada, ela é uma advogada iniciante e uma excepcional mulher na advocacia que muito nos orgulha em fazer parte da nossa equipe”, prosseguiu.