Artigo encaminhado por Rafael Celeste.
Por UST – Venezuela .
Chavismo e oposição discutem pelas costas dos trabalhadores.
Desde a saída de Chávez do país no início de dezembro do ano passado, a Venezuela atravessa uma significativa crise política. Tanto o governismo quanto os diferentes setores da oposição, representados pela Mesa da Unidade Democrática, vêm debatendo e polemizando a respeito da solução “adequada” a tal crise.
A Assembleia Nacional de maioria chavista outorgou a Chávez permissão indefinida para seu tratamento e recuperação; o Tribunal Supremo de Justiça, também de maioria chavista, ratificou esta decisão e concedeu a Chávez a possibilidade de continuar como titular da Presidência da República sem assistir ao ato de posse em 10 de janeiro de 2013, tudo isto contra os artigos 231, 233 e 235 da Constituição Nacional.
Esta discussão é muito importante, e vai além dos aspectos formais da legislação que encheram o debate entre ambos os setores burgueses. O conteúdo da discussão entre eles é sobre o regime mais conveniente para garantir a governabilidade ante uma eventual e muito possível ausência permanente de Chávez, que é o atual chefe do regime bonapartista.
Por isso não se estranhou a presença dos presidentes do Uruguai e da Nicarágua, de Evo Morales da Bolívia e, entre outros, do chanceler da Argentina e do vice-presidente cubano numa concentração convocada para mostrar apoio popular às decisões, além de receber o apoio explícito de Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do governo do Brasil. Até Insulza, Secretário Geral da OEA (com o apoio do imperialismo norte-americano) – o mesmo que deu aval ao golpe parlamentar no Paraguai – respaldou a decisão de continuidade do vice-presidente Maduro.
A cúpula das Forças Armadas, que detém uma parcela importante do poder, também cerrou fileiras e deu respaldo a Nicolás Maduro, seguindo a vontade de Chávez de que as Forças Armadas sejam o “patrono da unidade cívico–militar”. É que o que está em jogo não é somente a situação interna da Venezuela, já muito complicada sem Chávez. O aprofundamento da crise pode desestabilizar a situação política em toda a região.
A situação econômica e a possibilidade do ajuste
Apesar das afirmações do setor governista sobre um crescimento econômico de 5,5% do PIB e um desemprego abaixo de 7%, a situação econômica do país não é nada simples para os trabalhadores: uma inflação de 20,1% no fim de 2012 golpeia seus já magros salários, que não conseguem nem comprar a cesta básica, atualmente em 3.568,79 Bs. O emprego informal e precário abunda no país.
A escassez, a estocagem de alimentos e a especulação são outros flagelos que golpeiam o nível de vida da classe trabalhadora. Hoje brilham por sua ausência produtos tão necessários como a farinha de milho, o papel higiênico, a manteiga e o açúcar, entre outros.
Importantes setores econômicos como a manufatura, a agricultura e a mineração terminaram o ano com crescimentos anêmicos. Mas nem todos perdem neste cenário, os bancos privados viram seus lucros aumentarem 93% em 2012, em relação ao ano anterior. Uma mostra de que, com o governo do PSUV,os banqueiros vão muito bem.
Da mesma forma, o governo vem preparando um pacote contra os trabalhadores, que já foi anunciado pelo Ministro Jorge Giordani no início de dezembro do ano passado. A reaparição da doença de Chávez e o panorama eleitoral obrigaram a atrasá-lo, mas trata-se unicamente de um recuo tático, porque evidentemente, independentemente do retorno de Chávez ao cargo presidencial – ou não – os trabalhadores e os setores populares vão ter que enfrentar os ajustes postergados.
O pacote anunciado previa o aumento da gasolina e das tarifas dos serviços públicos, também perfilava uma desvalorização monetária que alguns analistas calculam em 46%. Igualmente prevê-se um aumento do pagamento dos juros da dívida externa, que chegará a US$ 15 bilhões de dólares em 2013.
Os trabalhadores não podem esperar nada de bom desta disputa
Por sua vez, os trabalhadores e os setores populares, que levaram Chávez à reeleição, participam do debate como testemunhas passivas, sem ser consultados para nada. Assistimos a um cenário onde o chavismo e a oposição burguesa se digladiam em nome da Constituição e da democracia e negam aos trabalhadores o mais elementar direito democrático de saber o real estado de saúde de Chávez.
O silêncio e a cumplicidade das centrais e direções sindicais
Enquanto o povo suporta todas estas penúrias, a maioria das direções sindicais acompanham as decisões do PSUV sem abrir a boca e nada fazem para enfrentar, com os trabalhadores e suas organizações, a escassez, a estocagem e o brutal aumento dos preços. Como de costume, os setores patronais fazem bons negócios ocultando os produtos de primeira necessidade ante as mornas ameaças do governo e a total inação dos dirigentes sindicais que mantêm os trabalhadores desmobilizados e confusos.
A UST, respeitando as expectativas e preocupações do povo trabalhador pela saúde de Hugo Chávez, alerta que nada bom pode ser esperado das disputas e negociações entrea cúpula do PSUV e do MUD. São os próprios trabalhadores, com suas lutas e sua organização independente, nos locais de trabalho, nos bairros operários e populares, os que tirarão o país desta situação, defendendo suas conquistas e avançando a uma saída operária, isto é,a luta por um governo dos trabalhadores.
Tradução: Marcos Margarido
Importante ver uma posição de esquerda crítica e independente de Chávez. Ao contrário do que alardeiam o governo chavista e instituições como a ONU a Venezuela está longe de ter superado problemas históricos como o analfabetismo e de ser um exemplo de combate à pobreza e desigualdades sociais. Na Venezuela, também tem muita repressão aos movimentos sociais, seja por parte de Chávez ou da oposição do MUD. Viva a luta da classe trabalhadora! Viva o socialismo e não a demagogia!