Por trás da declaração antecipada de vitória e da acusação de fraude em caso de derrota nas eleições, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenta causar uma “agitação”, “instigando as pessoas a não aceitarem um eventual resultado desfavorável” a sua reeleição. É o que avalia a doutora em Relações Internacionais e pesquisadora do Instituto Nacional de Estudos Políticos sobre os EUA, Neusa Maria Pereira Bojikian, em entrevista na manhã desta quarta-feira a Rafael Garcia, do Jornal Brasil Atual.
“Vejo isso como uma provocação muito grande. É uma ameaça às instituições democráticas dadas como consolidadas”, observa a pesquisadora. Dias antes da apuração dos votos, Bojikian avaliava que essa manobra de Trump, embora previsível, não se configuraria, devido a diferença de votos, que dava uma margem maior de vitória ao candidato democrata, Joe Biden.
As pesquisas erraram?
Até o momento, no entanto, Biden lidera as projeções, mas com apenas 238 delegados, contra 213 votos para Trump. A disputa é ainda mais apertada nos chamados estados-chave. E, mais uma vez, a decisão pelo próximo presidente que chegará à Casa Branca deve ser decidida pelos estados do meio-oeste, o chamado Cinturão da Ferrugem. Em 2016, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin optaram por Trump depois de elegerem consecutivamente Barack Obama. As pesquisas mostravam que, no pleito deste ano, o candidato democrata recuperaria sua vantagem. Mas o início da apuração abriu caminho para Trump.
“Isso é muito frustrante porque as pesquisas maciçamente mostraram vantagem para o Biden nesses estados e outros. E o que estamos vendo é que mais uma vez essas pesquisas erraram”, aponta a pesquisadora.
Cenário incerto
A expectativa é que o cenário seja confirme apontavam as pesquisas com a apuração dos votos enviados por correio. Parte dos especialistas já previam que a apuração das urnas começaria pelos votos presenciais, o que daria maior vantagem a Trump. Mas que eles seriam desbancados pelos votos enviados, que supostamente revelariam o favoritismo de Biden. Em função da pandemia, mais de 100 milhões de eleitores votaram antecipadamente. Mesmo assim, Bojikian pondera que “tudo está incerto, mais do que 2016”.
“O resultado ainda é parcial e a gente pode ver uma mudança nos próximos dias. Alguns estados ainda vão continuar apurando seus votos, como jornais estrangeiros estamparam nessa madrugada em alguns sites. O (resultado no) estado do Arizona deu ao candidato democrata alguma esperança. Mas é só isso mesmo, alguma esperança”, conclui a pesquisadora.
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Redação: Clara Assunção