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Como historiadora pesquisadora de povos originários, sinto-me no direito e na obrigação de fazer esta nota de desagravo, diante do que vem ocorrendo em Santa Catarina com a situação indígena, manipulada diturnamente pelo jornalista Moacir Pereira.
1 – Em data de ontem, 13.12.2013, repassei para meus contatos a “Carta de Repúdio às manifestações anti-indígenas de Santa Catarina”, que está mais abaixo, assinada por mais de uma centena de entidades e pessoas muitíssimo gabaritadas e cientes do que assinavam, e com a qual concordo plenamente.
2 – No mesmo dia, pouco adiante, recebo o seguinte e-mail:
—– Original Message —–
From: moacir pereira
To: urda
Sent: Friday, December 13, 2013 4:08 PM
Subject: Re: Para divulgação – CARTA DE REPÚDIO ÀS MANIFESTAÇÕES E AÇÕES ANTI-INDÍGENAS DE SANTA CATARINA
Carissima Urda
Lamento profundamente que voce esteja dando aval para tanta asneira, tanta desinformação e dados tão fortemente manipulad. Se voce concorda mesmo com o que está ali escrito contra minha atividade profissional, gostaria de dispensá-la de remeter novos e-mails para meu endereço. Cordiais saudações. Moacir Pereira
3 – No primeiro momento, acreditei se tratasse de uma brincadeira, pois quem é o jornalista Moacir Pereira para se sentir proprietário das possibilidades de expressão neste estado ou em qualquer outro lugar do mundo. Tanto eu quanto a mais de centena de pessoas e entidades que assinaram a Carta de Repúdio tem tanto direito à livre expressão quanto qualquer jornalista, direito este garantido pela Constituição Federal.
4 – Num segundo momento, entendendo que a prepotência do já referido jornalista chegara às raias do absurdo, pensei em simplesmente deletar seu endereço e jogá-lo para o ostracismo da minha vida, já que nada ele acrescenta mesmo, de bom, aos meus dias neste mundo.
5 – A minha formação em História e a minha ligação com os povos originários, no entanto, me disseram que havia que se fazer algo em prol da Justiça e do Direito dos seres humanos que ele vem perseguindo diuturnamente há muito tempo, e então vi a necessidade de, no mínimo, fazer esta Nota de Desagravo, que agora repasso aos meus contatos.
6 – Para que não soe como uma atitude oca, anexa a esta nota estão quatro arquivos sobre o assunto, sendo um dossiê com um apanhado geral sobre o blogue de Moacir Pereira, onde fica claríssimo o que ele pretendeu negar no e-mail mais acima, numa tal desconsideração para com a inteligência alheia que fica-se a pensar se há alguma inteligência em tal jornalista.
7 – Também anexas, duas cartas que falam por si, além de uma fala de Reno Caramori ao programa de televisão “Bom dia Santa Catarina”. Se alguém repassar esta nota sem algum dos arquivos, eles poderão ser pedidos diretamente a mim, através do meu e-mail [email protected].
8 – Aproveito para comunicar ao jornalista Moacir Pereira que deletarei seu endereço tão logo transmita esta nota, conforme sua solicitação.
Sendo que a carta abaixo e os arquivos anexos falam por si, considero que o desagravo que queria fazer já está devidamente feito.
Atenciosamente,
Urda Alice Klueger
Escritora
Bacharel, licenciada e especialista em História
Doutoranda em Geografia pela UFPR
da Academia Catarinense de Letras
do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina
etc.
CARTA DE REPÚDIO ÀS MANIFESTAÇÕES E AÇÕES ANTI-INDÍGENAS DE SANTA CATARINA
Nós, organizações, entidades e pessoas abaixo assinados, vimos a público manifestar nosso repúdio aos meios de comunicação RIC Record, Grupo RBS, Blog do Jornalista Moacir Pereira, Jornal Cidade de Joinville, Sites como Antropowatch e Questão Indígena, que, nos últimos meses, têm veiculado notícias falaciosas e preconceituosas, além de fomentar opiniões declaradamente anti-indígenas. Estes veículos que deveriam primar pela verdade, pela imparcialidade e pela transparência, bem como pelo respeito a Constituição, têm, ao contrário, veiculado apenas as visões dos grupos que se opõem aos direitos dos povos originários, sem dar espaço a outros setores da sociedade e aos próprios indígenas.
Não permitem que se expresse a voz das lideranças desses povos, omitem as principais razões da situação de vulnerabilidade dos indígenas e criminalizam movimentos sociais e profissionais, especialmente indigenistas, antropólogos e operadores do direito, que, no responsável exercício de suas funções, atuam no sentido de colocarem em prática os preceitos constitucionais.
Lamentamos a ignorância e o desconhecimento de pessoas desinformadas que atacam as culturas indígenas em todos seus aspectos, especialmente no tocante aos seus direitos territoriais, garantidos pelas Constituições Federal (Artigo 231) e Estadual (Artigo192), que se referem ao direito à terra, condição crucial para manutenção de seus usos costumes e tradições. Destacamos ainda que o Brasil é signatário também da Convenção 169 da OIT e da Declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas de 2007, que reconhecem os direitos humanos e territoriais dos povos originários.
Não culpamos estas pessoas, que, muitas vezes, de forma tão difícil quanto a dos indígenas tentam sobreviver num país desigual e injusto como o Brasil. Mas não podemos aceitar que empresas que recebem do Estado concessão pública dos meios de comunicação, destinadas a informar a população, produzam e reproduzam inverdades, promovam o preconceito étnico, calem as vozes indígenas e induzam a população à violência! O poder público e estas empresas são responsáveis pela observância dos princípios constitucionais, no que tange ao direito de todos os cidadãos à informação correta (Art.221).
Os órgãos públicos devem controlar o que estas empresas e grupos veiculam de forma leviana, obrigando-os a trazerem informações adequadas, verídicas e imparciais, ao contrário do que vem sendo feito. Consideramos especialmente grave a omissão das vozes de atores fundamentais envolvidos no processo de reconhecimento dos direitos dos povos originários, em especial, das lideranças indígenas.
Os povos indígenas de SC (Guarani, Kaingang e Xokleng), desde décadas têm participado, pacientemente, de negociações com diversos órgãos, na expectativa de verem seus direitos constitucionais efetivados. São centenas de famílias aguardando a homologação das terras Pindoty, Pirai, Tarumã, Morro Alto, Araçá’i , La Klãno, Toldo Imbu, Toldo Pinhal e Xapecó Glebas A e B, em Santa Catarina.
A demora no processo de reconhecimento das terras impede a reprodução da vida dos indígenas, e torna sua situação altamente insegura e precária. As mídias, acima citadas, contribuem mais ainda para o acirramento da vulnerabilidade, prejudicando não apenas as antigas gerações, mas também jovens e crianças indígenas.
A Terra Indígena de Morro dos Cavalos (Palhoça-SC) aguarda há duas décadas pela homologação de suas terras. Discordamos totalmente da ideia veiculada por estas empresas/imprensa de que as mortes, acidentes e engarrafamentos na BR 101 sejam de responsabilidade dos Guarani. É da responsabilidade dos órgãos públicos as prerrogativas de fazerem a demarcação das terras e a construção dos túneis na região,conforme já foi determinado pelo TCU e acordado com o povo Guarani e com o DNIT. “É a construção desses túneis que desintrusará a terra indígena, evitará congestionamentos da BR, e os frequentes acidentes e mortes.”
Basta de violência! Basta de mentiras!
Basta de uma imprensa parcial, que desinforma e é descomprometida com a verdade!
Pela homologação das terras indígenas Pindoty, Pirai, Tarumã, Morro Alto, Araçá’i, La Klãnõ, Toldo Imbu, Toldo Pinhal e Xapecó Glebas A e B.
Exigimos do DNIT a construção dos túneis no Morro dos Cavalos, que é a alternativa acordada e mais viável economicamente e, ambientalmente, garantirá condições dignas de moradia, de trabalho e de vida aos Guarani na região.
Pelo RECONHECIMENTO dos direitos dos povos originários!
Pela homologação da Terra Indígena Morro dos Cavalos
Assinam esta carta:
Comissão Guarani Ñemonguetá SC
Comissão Guarani Yvy Rupa SP
ABA – Associação Brasileira de Antropologia
Associação de Juízes pela Democracia.
Associação dos Docentes da Faculdade de Educação- ADFAED – UDESC
Cáritas Brasileira Regional Santa Catarina
CTI – Centro de Trabalho Indigenista
CIMI – Conselho Indigenista Missionário – Regional Sul
Coletivo Catarina de Advocacia Popular
Coletivo Divuant de Antropologia – SC-RS
Comitê Interuniversitário – COMINTER- SC
Comitê em defesa das Florestas de Santa Catarina
Centro de Direitos Humanos e Cidadania Ir. Jandira Bettoni – CDHC de Lages e Região Serrana
Coletivo Anarquista Bandeira Negra Florianópolis SC
Coletivo Catarina de Advocacia Popular
Coletivo DivuANT – Divulgar ANTropologia – SC e PR
FEEC – Federação das Entidades Ecologistas Catarinenses
Fórum Catarinense pelo fim da violência e exploração sexual infantojuvenil
NEPI- Núcleo de Estudos sobre Populações Indígenas – UFSC
Movimento Nacional de Direitos Humanos em SC – MNDH-SC
NEA – Núcleo de Estudos Ambientais – UDESC
Núcleo de Estudos sobre Saúde e Saberes Indígenas (NESSI/UFSC)
Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe (MUSA(
NEPI- Núcleo de Estudos sobre Populações Indígenas ( UFSC)
NEA – Núcleo de Estudos Ambientais (UDESC)
Núcleo de Estudos sobre Saúde e Saberes Indígenas (NESSI/UFSC)
NUER – Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas – UFSC
Núcleo de Pesquisa em Fundamentos da Antropologia -A-Funda/UFSC
Núcleo de Estudos Arte, Cultura e Sociedade na América Latina e Caribe (MUSA/UFSC)
ADFAED – Associação dos Docentes da Faculdade de Educação UIDESC
Rede Nacional de Advogadas e Advogados Popular – Renap/SC
Núcleo Setorial Ecosocialista – PSOL
Transes – Núcleo de Antropologia do Contemporâneo (PPGAS/UFSC)
Marcha Mundial das Mulheres- SC
INCT IBP- Instituto Brasil Plural (UFAM/ UFSC)
Alexandre Araújo Costa – Professor Titular- UECE- Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas – Ceará
Angela Maria de Souza – Antropóloga e professora – Unila
Andrea Ciacchi- antropologia – UNILA
Arine Pfeifer Coelho, jornalista.
Ari Ghiggi Junior – Programa de Pós Graduação em Antropologia Social – UFSC
Ariel Felipe Tornquist Sartori- Estudante- GECA Grêmio estudantil do Colégio de Aplicação UFSC
Bárbara Maisonnave Arisi- Antropóloga –Diretora do Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História – ILAACH – Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História da UNILA
Beatriz Catarina Maestri – Antropologa e Provincial das Irmãs Catequistas Franciscanas.
Carina Santos de Almeida – Doutoranda em História – Laboratório de História Indígena Labhin- UFSC
Carmen Sílvia Moreira Garcez – ISA ( Instituto Sócio-ambiental) Campeche- SC
Carmen Susana Fava Tornquist (cientista social e professora UDESC–SC)
Cleto João Stülp – Padre da Diocese de Chapecó, SC
Cleymenne Cerqueira – jornalista
Clovis Antonio Brighenti – Historiador e Membro do Cimi Regional Sul
Danilo Moura Instituto Palmares (Minas Gerais)
Daniela Félix – Advogada e professora – RENAP – Coletivo Catarina de Advocacia popular
Daniel Gordillo Sánchez – Estudante de Antropologia – Universidade para a Integração da América Latina – UNILA
Denise de Veiga Alves- Advogada SP
Diego Eltz Antropólogo UFRGS RS
Pe. Domingos Luiz Costa Curta, Coordenador Diocesano de Pastoral, Diocese de Chapecó, Chapecó/SC
Eduardo Luís Ruppenthal – ambientalista, biólogo e professor/RS
Edviges Ioris – Antropóloga PPGAS/UFSC
Elaine Tavares – Jornalista- IELA – Instituto de Estudos Latino americanos
Evelyn Martina Schuler Zea – Antropóloga PPGAS/UFSC
Elison Antonio Paim – professor da UFSC
Erli Aparecida Camargo – Conselheira Nacional do MNDH
Getúlio Narsizo – Professor
Gilson Moura Henrique Junior – Historiador- Psol- RJ
Giséle Neves Maciel – Doutoranda Geografia UFSC
Haliskarla Moreira de Sá – Geógrafa – Florianópolis/SC
Isabel Santana de Rose – antropóloga e professora visitante da FAFICH – UFMG
Ivanildo Claro da Silva – Diretório Municipal do Psol de Cascavel – Professor da Rede Pública Estadual
Ivan Cesar Cima – Professor
Jacson Antonio Santana- Coordenador do Cimi Regional Sul
Jean Tible- Professor Fundação São André – SP
João Alfredo Telles Melo – Advogado, professor de Direito ambiental e vereador (Psol) Fortaleza –Ceará
Kaio Domigues Hofmann – Antropólogo e funcionário da FUNAI-SC
Leopoldo Gerhardinger Cavaleri- Oceanógrafo doutorando em estudos ambientais UNICAMP
Lino Fernando Bragança Peres – Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC e vereador (PT) – Florianópolis(SC)
Luzia Cabreira – Advogada Coletivo Catarina de Advocacia Popular
Luis Fernando Paiva – Estudante de História – Diretório Acadêmico Oito de Maio – UDESC – SC
Luis Henrique Fragoas Pimenta – Geógrafo- SC
Luis Roberto Marques da Silveira – arquiteto e professor –do Curso de Arquitetura e Urbanismo /CTC/UFSC)
Lise Török – Jornalista – Câmara de Meio Ambiente e Saneamento do Fórum da Cidade
Margareth Castro Afeche Pimenta Arquiteta e urbanista UFSC
Mauricio Santos Matos – Belém/PA, servidor público, Comitê Metropolitano Xingu Vivo
Márcia Londero – Socióloga – Divisão do Indígena da Secretaria Estadual de desenvolvimento rural – Porto Alegre/RS
Nilo Sérgio Aragão – professor – Psol/Ceará
Marcelo Zelic – Vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais – SP e membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo – Coordenador do Projeto Armazém Memória
Maria Selenir Nunes dos Santos – Sela – Artes plásticas – UDESC Florianópolis
Marcos Alexandre dos Santos Albuquerque – Antropólogo, professor na UERJ e membro do CAV/ABA
Marcos Lanna- Professor do Programa de pós graduação em Antropologia social UFSCar – SP
Margareth Castro Afeche Pimenta – Arquiteta e Urbanista – Professora da UFSC
Osmarina de Oliveira – Geógrafa e membro do Cimi – Regional Sul
Paulo Pinheiro Machado (Historiador/ Diretor do CFH/UFSC)
Raquel Mombelli – antropóloga UFSC
Ricardo Leining- antropólogo e biólogo, funcionário FUNAI-SC
Raúl Burgos – Professor – Programa de Pós Gradução emn Sociologia UFSC
Tania Pacheco – Historiadora Blog Combate Racismo Ambiental
Tárzia Medeiros coordenação estadual da Articulação no Semiárido, Natal/RN
Telma Piacentini- Núcleo Distrital do Plano Diretor Campeche -SC
Thiago Arruda Ribeiro dos Santos – Mestrando em Antropologia – PPGAS/UFSC
Vanessa Ramos – jornalista
Vanessa de Souza Ferreira – Assistente Social
Vera Lucia Nehls Dias- geógrafa- Mestrado em Planejamento Territorial e Desenvolvimento socioambiental – UDESC
Vilênia Porto Aguiar – Engenheira Agrônoma, doutoranda em Ciências Sociais da Unicamp e consultora – SC
Waleska Aureliano- Antropóloga – Museu Nacional -UFRJ – RJ
Concordo contigo Aurélio no que tange a primazia na possuição da terra, porém, creio que a simpatia da sociedade não é maior pelos indígenas do que pelos negros. Por outro lado, a invasão africana foi também forçada pela aberração civilizatória européia, embora não possuindo a terra desde o começo, como os índios, nela foram obrigados a se instalarem, e dela tiram também o seu sustento, logo, paritários estão com a causa indígena.
Parabéns aos subscritores. Porém, com todo o respeito, peço todo o cuidado, para que a questão indígena seja suprema e não se misture com racismo (propagandeado por ativistas da raça negra e Quilombolas), pois isso pode prejudicar muito aos índios e à simpatia da populaçáo à luta dos indígenas .
Lamento mas, Urge compreender , que os negros fazem parte do grupo de indivíduos que invadiram as terras dos índios , ainda que muitos negros vieram de forma diferente dos primeiros europeus.