Por Paulo Silva, da redação de UFSC à Esquerda.
A afirmação que consta no título deste texto pode parecer chocante para alguns, principalmente para aqueles que acreditavam que por ser o pólo mais dinâmico da universidade, aquele setor que não tem amarras com o trabalho e que tem mais liberdade, os estudantes seriam a vanguarda da luta dentro da universidade. Aquele setor, que como em Córdoba (Argentina, 1918), teria capacidade de entusiasmar o conjunto dos trabalhadores com seus questionamentos, com a sua ousadia política e que construiu junto dos trabalhadores outro tipo de universidade, a universidade que ainda habita a mente e os corações de boa parte dos que militam na universidade.
Infelizmente, no momento atual, não é o que vemos. Grande parcela do movimento estudantil perdeu a capacidade de pensar a grande política, as grandes questões postas, as questões que realmente importam. Estão presos, isto sim, no universo da pequena política, aquela das pequenas causas. Estão preocupados, não em como fazer um movimento capaz de enfrentar as atrocidades postas pelo Capital, mas em como irão fazer a disputa com uma ou outra força, em como manterão seus “feudos”, aquilo que chamam de bases sociais.
A reunião do Conselho de Entidades de Base que aconteceu ontem (12/04/17) é um exemplo muito concreto de como operam a pequena política, e dessa crítica não escapam a maioria das forças que atuam na universidade. Ao mesmo tempo em que se fala em construir a Greve Geral do dia 28 de abril, contra a reforma da previdência, ao mesmo tempo em que fala em ampliar e dar corpo à discussão da contra-reforma da previdência nas bases estudantis, se nega ao estudante a participação no comitê de luta que organizará as mobilizações até esse dia. Essa, por exemplo, foi a proposta realizada pelos centros acadêmicos que possuem em suas direções integrantes da Juventude Revolução (CALL, Letras, e CALA, Arquitetura, principalmente).
O natural seria, entretanto, que os estudantes somassem na construção do comitê unificado que já existe e conta com a participação dos setores docentes e técnicos administrativos. São esses dois setores que vem tomando a frente nas lutas da universidade desde 2015, e que fazem um enorme esforço para a realização de uma política de unidade. Esses setores, diferente do segmento estudantil, têm a clareza de que diante das atrocidades que se comete contra os trabalhadores e contra a universidade, a unidade entre estudantes, técnicos e docentes é fundamental, e é a única política capaz de organizar uma força para o enfrentamento verdadeiro.
Além de evitarem a construção do comitê unificado pela grande maioria dos estudantes, pois criam um organismo em separado, outro comitê, só de estudantes, ainda dificultam que os que construirão a luta decidam os rumos dela, fazendo com que o poder de decisão desse espaço esteja restrito apenas aos centros acadêmicos. Nada mais equivocado! A única coisa em que estratégias equivocadas como essa podem resultar é o enfraquecimento geral da luta.
Com que propósito este tipo de estratégia é proposta, devem se perguntar nossos leitores. Bom, para respondermos esse tipo de questionamento podemos pensar em algumas hipóteses. A primeira diz respeito ao controle da direção política que o comitê terá, ao limitar o poder decisório a representantes de centro acadêmico fica muito mais fácil fazer “acordões” entre as forças e decidir os rumos do movimento. A segunda diz respeito à “proteção das bases”, ou seja, impedir que o conjunto de estudantes em que estas forças exercem influência encontrem outros estudantes, o que pode causar um enfraquecimento na influência exercida. Ao fazerem estudantes de diversos cursos se encontrarem para debater os rumos do movimento essas forças que fazem política de “feudo” eleitoral, visando resultado em eleições, perdem influência na medida em que os estudantes encontram perspectivas diferentes de organização e de política, colocando-os em direção diferente da política que a força em questão aponta. No momento em que nos encontramos, em que as eleições de DCE estão começando a serem debatidas, essas hipóteses não podem ser consideradas sem importância.
Felizmente, a proposta que estamos debatendo neste texto não foi aprovada, apesar do resultado apertado (foram 11 votos a 12, com uma abstenção). A proposta aprovada foi de que o comitê estudantil seja aberto a todos que dele desejarem participar e que todos terão peso igual na decisão dos rumos do movimento. Que propostas como essa consigam ganhar corpo e a simpatia de setores da esquerda da universidade (como o MAIS, JCA, e outros) é motivo de preocupação.
Propostas deste tipo, que levam as lutas para o caminho da derrota, são encobertas por falas que parecem radicais, muito mais à esquerda, que parecem preocupadas com a mobilização das bases estudantis. É a formula exposta por Lênin em O Esquerdismo, causam confusão, desestabilizam os debates e encobrem sua essência problemática com palavras do léxico socialista.
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Fonte: UFSC à Esquerda.