Monstro, animal, fundamentalista, louco, estes foram os adjetivos empregados para falar sobre Welligton de Oliveira que no dia 7 de abril de 2011, entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, deixando 12 crianças mortas.
Antes que me crucifiquem aqui, dizendo que o objetivo deste texto é defender o Monstro, gostaria de dizer que fiquei muito abalada com a tragédia e que não, não é minha intenção defender ninguém e sim provar que nós somos tão monstros quanto ele.
Talvez por isso o odiemos tanto, pois ele é a personificação de tudo que há de ruim em nós e isso é tão doloroso que foi preciso segregá-lo, diminuí-lo, para que assim possamos nos desviar, fingir e não assumir nossa parcela de culpa neste episódio.
Agora um questionamento para os que ainda não se convenceram de que são monstros:
-Qual a diferença entre a chacina da Candelária e a chacina de Realengo?
Permitam-me responder parafrasenado as idéias da filósofa Judith Butler: há corpos que importam e outros que simplesmente não importam. Monstruoso, não é mesmo?
Claro que esse jovem de Realengo não foi nada original, quantas vezes vimos esses casos no país do Tio Sam? Um dos mais famosos aconteceu no dia 20 de abril de 1999 em que dois garotos abriram fogo contra professores e alunos na escola Columbine, localizada no estado do Colorado.
Assim como no caso brasileiro, no qual os culpados foram apontados como a loucura de Welligton e a falta de segurança nas escolas, os Estados Unidos também tinham os seus culpados para Columbine. Eram eles: os desenhos animados violentos e astro de rock Marilyn Manson.
No longa metragem Tiros em Columbine, documentário produzido pelo polêmico Michael Moore e inspirado nesse episódio de 1999, o réu Marilyn Manson ao ser perguntado sobre o que diria para os garotos de Columbine e a comunidade, respondeu:
-“Eu não diria uma única palavra para eles, eu ouviria o que eles têm a dizer, pois foi isso o que ninguém fez.”
Finalmente a personificação do medo, Marilyn Manson, abriu os olhos dos outros monstros para a verdadeira situação de Columbine e Realengo, que representam nada mais que a decorrência de uma sociedade monstruosa marcada pela segregação e a não escuta, onde os tiros são a única forma de se fazer ouvir.
Rubem Alves certa vez escreveu: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Então o que faremos? Eliminaremos os desenhos animados infantis? Prenderemos os roqueiros de aspecto diferente? Segregaremos a loucura decorrente de uma sociedade louca? Colocaremos detectores de metais na portas de nossas escolas?
Eu não sei quanto a vocês, quanto a mim Rubem Alves acabou de ganhar sua primeira aluna para o curso de escutatória.
Imagem: laboratoriopop.com.br