Fotos da autora e Rosângela Bion de Assis.
Em Novembro de 1979 foi violentamente sufocada na capital a Novembrada, uma manifestação popular contra o Regime Militar, que vigorava no país desde 1964. Curiosamente, o evento explodiu por causa de uma homenagem prestada ao Marechal Floriano Peixoto, o qual no século XIX originou o nome Florianópolis, que substituiu o antigo nome da cidade, Desterro.
Pouco mudou com relação ao tratamento de caráter de censura prestado às manifestações populares. Um grande exemplo disso aconteceu na semana passada no dia 23 de agosto de 2012, onde a direção da escola Jacó Anderle, localizada no norte da Ilha, cancelou em cima da hora, sem explicitar o motivo, o debate com candidatos à prefeitura do município o qual havia sido organizado por lideranças populares de Florianópolis.
A verdade, meus caros, é que a capital com o maior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil é bem menos bonita que os prédios da avenida Beira-mar Norte e bem menos iluminada que a noturna ponte Hercílio Luz. Com uma economia baseada no turismo e no funcionalismo público a grande batalha dos governantes é esconder a todo custo os bolsões de pobreza existentes. É negado à população pobre do município o direito à moradia digna, ao acesso à cidade e de exercer sua democracia eleitoral através da organização de um simples debate entre candidatos.
Um fato bastante curioso do local em que moramos é que a grande mídia não está preocupada em exercer seu papel de veículo de formação, informação e comunicação da sociedade e sim em ser uma grande aliada na política de exclusão dos setores menos abastados da sociedade, utilizando estratégias como a de distorcer a imagem das comunidades em que essa população reside.
A Vila do Arvoredo, por exemplo, a qual convive com o problema das dunas engolindo seu espaço, sofrem com o argumento de que está localizada em cima de um aquífero, poluindo-o. O que os “grandes” jornalistas esqueceram-se de informar é que o Costão do Golf também está poluindo o aquífero assim como as lindas casas e condomínios. Também não informaram que a população do local deseja sair da localidade, mas com o valor da indenização governamental de 3 mil reais não é possível se estabelecer em nenhum outro local na Ilha da Magia.
A comunidade do Papaquara depois de ser assolada por enchentes e despejos dos moradores ainda espera pelos alugueis sociais e as casas prometidas, mas eu me pergunto: onde está o Hélio Costa ou o Cidadão J.A. para cobrar essas promessas?
Outra notícia intrigante foi sobre a comunidade da Ponta do Leal, um lugar estratégico para a construção da Beira-mar Continental, a localidade foi acusada de ter até banheira de hidromassagem, mas não ter tratamento de esgoto. O mais ridículo nessa informação é que o tratamento de esgoto é de responsabilidade da administração da cidade e não da população.
Certa vez conversando com uma moradora ela me informou de outro grave problema: o preconceito. Delatou-me a dificuldade de arrumar um emprego caso descobrissem ser moradora da comunidade que já foi apelidada de Vila da Miséria. Outro entrave era o de comprovar a residência, pois os acessos a elementos básicos como luz e água estavam estabelecidos de forma clandestina em toda a localidade.
Além da estratégia de colocar a sociedade contra as comunidades a grande mídia também ignora acontecimentos populares como esse espisódio do dia 23 de agosto citado acima. E ficou claro também como os candidatos a prefeito também se utilizam da segunda estratégia. Afinal, foram convidados os candidatos Gean Loureiro (PMDB), César Souza Junior (PSD), Ângela Albino (PCdoB), Janaína Deitos (PPL), Gilmar Salgado (PSTU) e Elson Pereira (PSoL). Apenas os dois últimos compareceram e diante do impedimento de entrar na escola pública, discursaram na calçada para os estudantes e trabalhadores desamparados pelo poder público que estavam escoltados por policiais como criminosos.
A tal escola pública que impediu a população de adentrar seus portões localiza-se ao lado de um terminal de ônibus, que são a única alternativa de transporte coletivo na cidade e com a tarifa única de 2,90 deixam bem claro que o acesso à cidade é para poucos.
No fundo eu sempre simpatizei muito mais com o feinho nome Desterro, mas com toda a censura eleitoral e exclusão populacional que tenho presenciado em 8 anos de manezinha , tenho certeza que o nome Florianópolis faz muito mais sentido com a capital em que moramos, só falta uma placa na entrada escrita: “Viva a ditadura!”.
*Livia Monte é psicóloga, e Diretora de Recursos Humanos da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura – CpCC.
A cagada começa muito antes da mais recente ditadura militar brasileira, a leva de moradores, depois dos nativos, isto é, a primeira geração de nãonativos foi de soldados. Isso era a caserna em forma de ilha,altamente militarizado, não será por isso a homenagem ao general mão-de-ferro? Não será esse militarismo que marca a cultura local até hoje?
Interessante notar que nossos grandiosos candidatos ignoram o chamado popular e ainda permitem que as pessoas que buscam seus direitos sejam massacrados por policiais que ali só obedecem as ordens vindas direto por estes.
Gean quem não sabe, tentou desviar um terreno pra Maçonaria, negada por esta teve que devolver à prefeitura.
Angela Albino sempre se configurou na luta do transporte para conseguir isso que ela tem hoje, força popular para tentar se tornar prefeita.
Cesar Junior se preocupou mais com os pobres que os outros dois, mas falhou em realmente atender as necessidades quando lhe foi dado a chance.
Aos senhores do PSTU e PSOL apenas aproveitaram o momento para angariar votos para seu partido e para si mesmos e assim manterem-se na eleição.
Estamos perdidos, não existe um partido de DIreita ou de Esquerda decente para que realmente haja uma disputa de sistemas e de entendimentos políticos, hoje só existe uma linha política em Florianópolis e ela se chama corrupção!