De Carona no Poder Público

Por Carlos Henrique Pianta da Silva.

Em Florianópolis, assim como em Santa Catarina, tudo é privado. Não há nada público na terra dos servidores públicos. Aliás, nem eles são verdadeiramente públicos, porque atendem às necessidades do Município e do Estado, que por sua vez, não atendem às necessidades da população, e sim, a interesses privados e particulares. Nessa onda privativa estão também os terminais de ônibus “integrados” da Capital catarinense.

Teoricamente, eles são gerenciados por uma empresa chamada Cotisa (Companhia Operadora de Terminais de Integração), porém na prática, além de gerenciar, a empresa é a dona dos terminais e determina o que pode e o que não pode adentrar às suas catracas. Um exemplo: a Cotisa permite que apenas uma publicação seja distribuida nos terminais de ônibus, o jornal “O Carona”. A referida publicação, na verdade, é um panfleto de anúncios. Quase tudo em “O Carona” é anúncio, o resto são matérias para fazer mais propaganda para algum anunciado ou para puxar o saco de alguma autoridade, ou órgão público. Ou seja, de jornal, só tem o nome.

Questionado sobre este inexplicável monopólio, o responsável pela Cotisa, Marcelo Biasotto, foi curto e grosso: “Trata-se de contrato entre a Cotisa S.A. e o Jornal “O Carona”. A Cotisa S.A. é empresa de direito privado e não tem interesse em ampliar distribuição de periódicos nos terminais”. E de novo, interesses privados ocupando um espaço que deveria ser para uso público. Afinal os terminais foram contruídos e são mantidos com dinheiro público. É… em Floripa nada é público.

Neste contexto de incoerências, a Prefeitura de Florianópolis mostra mais uma vez que gosta de brincar com esta cidade e com a população que a habita. Depois de aumentar o valor das passagens do transporte público, aterrar cada vez mais o já violentado mar que a cerca, não cumprir acordos financeiros com os trabalhadores municipais, superfaturar shows e árvores horríveis. A mais nova pegadinha do prefeito Dário é o Projeto Floripa Letrada.

O projeto resume-se em disponibilizar livros e revistas nos terminais do Centro (Ticen), Rio Tavares (Tirio) e Canasvieiras (Tican) para que os usuários do transporte público os possam ler nas “viagens”. Até então, um projeto interessante, mas como de costume na política de Florianópolis, algumas coisas são obrigadas a não fazer sentido.

Na Edição n 72 de “O Carona”, distribuída em 10 de agosto de 2010, a notícia do projeto é destacada na capa e intitulada por: “Projeto democratiza livros nos terminais de ônibus.” Porém, segundo a própria matéria, só poderão ser doados aos terminais livros de romance, conto, poesia, ficção, auto-ajuda, crônica, aventura e biográfico. Já as revistas têm de ser sobre cultura, ciência, música ou variedades.

Se alguém tentar doar um exemplar de “A origem do Capital”, “Veias Abertas da América Latina”, ou das revistas “Fórum”, “Caros Amigos”, ou qualquer outro livro e revista de política, economia, história, ou com um assunto que possa incentivar na população a crítica, o questionamento do Status Quo, do modelo de sociedade atual, não vai conseguir.

A democracia da Prefeitura de Florianópolis e da Cotisa não é tão democrática assim, seja pela limitação dos livros que podem ser doados ao novo projeto, a censura da empresa Cotisa à distribuição de outras publicações nos terminais, o cerceamento da liberdade de ir e vir com os repetitivos aumentos da tarifa de ônibus, entre outros “presentes” nada democráticos.

A solenidade de lançamento do projeto será em 24 de agosto às 11h no Ticen, fica a dica para a população florianopolitana levar até lá sua salva de vaias, ou de ovos, para prestigiar mais uma palhaçada financiada com o seu dinheiro.

3 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom o texto Carlos! A maioria das pessoas não se da conta do que tem por trás de um projeto “cultural”…
    Vamos levar ovos e vaias concerteza! Fora Dário Berger!

  2. É ridículo um terminal público ser cabo eleitoral de apenas um veículo. O projeto da prefeitura é legal, no entanto, deve ter dado um abraço amigavel no marcelo (dono do jornal O carona), pois ele é o dono do terminal. Não é pra menos, o jornal o carona está parecendo um flyer de divulgação, pois tem mais anúncios que qualquer outra coisa. O pouco que é escrito, é espaço reservado a camara de vereadores. uhauahahuahuahau

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