Por Leonardo Cecchin, para Desacato.info.
Recentemente foi deflagrada a maior operação da história da Polícia Federal, a Carne Fraca – que para além de seu escândalo levantou debates sobre a criatividade policial na hora de nomear as operações. Grandes empresas como BRF (Sadia e Perdigão) e JBS (Friboi), as maiores financiadoras de campanha nas eleições presidenciais de 2014, estão envolvidas no caso, além de nomes do agronegócio brasileiro.
Os diferentes níveis de discussão, se assimilados, apontam ao mesmo problema. Após esse escândalo se tornar público, aqueles que não comem carne (vegetarianos) passaram a se gabar, dizendo que são os mais saudáveis, quando na verdade as verduras vegetais e frutas brasileiras são carregadas de agrotóxicos, assim como a soja de transgênicos. Logo percebe-se que o cerne da questão não se encontra no hábito alimentar de cada um, mas em escala maior, como os alimentos são produzidos e levados às nossas mesas. Essa operação mostra que assim como os outros ramos da produção, o objetivo não é fazer a melhor mercadoria, ou oferece-la à um preço mais acessível. O objetivo é o lucro, e em nome dele os grandes empresários fazem de tudo. Como vi uns dizendo, se pudessem nos vender merda enlatada, e isso desse lucro, fariam.
Já outros, depois de avançarem da desilusão sobre as empresas, se questionam por quê o Estado, as agências reguladoras, os Ministérios responsáveis, não fiscalizam, garantem a qualidade e punem os corruptos e gananciosos? Para isso, o Estado deveria ser um mediador entre os interesses dos ricos e dos pobres, como alguns pensam que é. Mas sua função não é essa. Assim como o cassetete em micro escala, o Estado é um instrumento de dominação, de uma classe social sobre outra. A classe dominante desse tempo são estes próprios que nos vendem papelão e agrotóxicos disfarçados de comida. As agências e os governos vendam seus próprios olhos para o favorecimento destes senhores, e a divulgação dessa operação não é em vão. Certamente já era de conhecimento dos governos, mas estava guardada como carta na manga para ser posta à mesa num momento propício.
E este momento é o qual a Operação Lava-Jato e o governo Temer organizam uma abertura e submissão do país ainda maior (se é que é possível) ao imperialismo. Perseguindo as empresas corruptas brasileiras para abrir espaço às estrangeiras. E nesse ponto vi muitas pessoas de entregando à um nacionalismo à moda de Getúlio Vargas, onde para deter os estrangeiros defendemos nossos burgueses brasileiros. Mas essa não é a saída. Seja Coca-Cola ou Friboi, todos os empresários reduzem nossas vidas à lixo para lucrarem, nossa luta deve ser contra todos eles, sejam brasileiros ou não, por um país onde a produção de alimento esteja submetida às necessidades da população, não ao mercado.
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