CUT e centrais fecham acordo histórico com governo da Venezuela para salvar vidas

A capital do Amazonas enfrenta um dos mais dramáticos quadros da pandemia no Brasil, por falta desse insumo essencial aos pacientes internados com COVID-19

Imagem: Reprodução.

A CUT e o Fórum das Centrais Sindicais (CUT, Força, UGT, CTB, CSB, NCST), que, juntas, representam dois terços dos trabalhadores brasileiros, acabam de firmar um acordo histórico com o governo da Venezuela para ampliar o fornecimento de oxigênio hospitalar a Manaus. A capital do Amazonas enfrenta um dos mais dramáticos quadros da pandemia no Brasil, por falta desse insumo essencial aos pacientes internados com COVID-19.

“Esse acordo é uma conquista do movimento sindical, da classe trabalhadora. Mostra, mais uma vez, que sabemos agir frente a um governo federal incompetente e criminoso, para salvar vidas dos trabalhadores, mostra também a solidariedade entre os países latino-americanos, entre o Brasil e a Venezuela, diante de uma crise sanitária que assola nosso país. Faremos tudo o que estiver ao alcance da CUT e do Fórum das Centrais para impedir que trabalhadores morram por falta de oxigênio. Toda gratidão ao povo venezuelano e ao presidente Nicolás Maduro”, disse Sérgio Nobre. Foi do dirigente cutista a iniciativa de procurar o governo da Venezuela.

Pelo acordo de “colaboração e solidariedade de classe”, a Venezuela fornecerá 80 mil litros por semana de oxigênio hospitalar à capital do Amazonas. As Centrais mobilizarão o trabalho de logística (transporte e distribuição do produto). “Estamos mostrando como se faz a diplomacia dos trabalhadores”, afirmam os presidentes das centrais.

Esse volume de oxigênio que será enviado a Manaus semanalmente, conforme o acordo entre o governo Venezuelano e o Fórum das Centrais, é equivalente à soma de três dias de produção das fábricas locais que fornecem o insumo à capital amazonense.

O primeiro comboio com oxigênio deve chegar ao Brasil na semana que vem. As Centrais Sindicais vão mobilizar todos os seus entes – estaduais, sindicatos, federações, confederações – e também a IndustriAll Brasil neste trabalho urgente para garantir o envio de caminhões à Venezuela para a retirada do oxigênio que será levado e distribuído em Manaus. “É uma troca baseada na cooperação e isso se chama solidariedade de classe”, afirmam os presidentes das Centrais.

Os dirigentes também já iniciaram nesta quarta-feira (20) o contato com os governos estadual e local para articular e encaminhar essa cooperação e também com a iniciativa privada, especialmente o setor de transporte e autopeças. O objetivo é conseguir peças e insumos para garantir a escala da produção da fábrica de oxigênio e de caminhões. A Venezuela enfrenta embargo dos Estados Unidos e falta de produtos e não é reconhecida pelo governo Bolsonaro.

“Lamento que o Brasil enfrente um boicote do seu próprio presidente da República. Nós sabemos bem o que é sofrer um boicote, mas aqui na Venezuela temos governo, temos um presidente que governa para o povo e pelo povo”, disse o ministro das Relações Exteriores venezuelano, Jorge Arreaza.

RESPOSTA RÁPIDA

O governo Maduro respondeu rapidamente ao chamado do Fórum das Centrais feito na semana passada. Foram duas reuniões seguidas: a primeira, política, realizada na noite desta terça-feira (19), com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza e a segunda, técnica, na manhã desta quarta, com o vice-ministro Carlos Ron e Pedro Maldonado, presidente da Corporacion Venezoelana de Guayana, que produz o oxigênio. A Venezuela já doou e entregou, com sua frota, mais de 130 mil metros cúbicos de oxigênio ao Brasil, apesar de o governo Maduro não ser reconhecido pelo governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) , que apoia o boicote dos Estados Unidos imposto pelo país.

“Sabemos da dificuldade pela qual o Brasil está passando e sabemos da importância da solidariedade entre trabalhadores. Nosso presidente Nicolás Maduro vem da luta sindical, por isso quis dar uma resposta imediata ao chamado das centrais brasileiras”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Carlos Ron.

Os dirigentes sindicais brasileiros agradeceram e destacaram a importância desse acordo, que salvará vidas ante “um governo brasileiro genocida, incompetente, negacionista e omisso”. “Toda gratidão ao povo e ao governo venezuelano”, disseram.

Na reunião com o ministro venezuelano, os dirigentes sindicais brasileiros detalharam a situação da crise sanitária no Brasil. O chanceler disse que a Venezuela empenhará toda ajuda possível “aos irmãos brasileiros e latino-americanos porque vocês [brasileiros] estão sofrendo um boicote do seu próprio governo”. “Nós, aqui, sofremos boicote dos Estados Unidos, vocês aí, do presidente, mas nós temos um governo para o povo, pelo povo”.

O vice-presidente da CUT nacional, Vagner Freitas, e o secretário de Relações Internacionais, Antonio Lisboa, além de participar das duas reuniões, compõem o grupo formado para conduzir os termos de colaboração estabelecidos no acordo.

“Nosso total agradecimento à solidariedade do povo venezuelano, do presidente Maduro. A Venezuela está dando uma lição de solidariedade ao Brasil e ao mundo. Ações como essa deixam claro que um outro mundo é possível, principalmente com solidariedade de classe”, disse Vagner Freitas.

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