Curso apresenta debate sobre conservação de arquivos populares

Imagem: Feilipe Augusto Pinto Maia.

Por Fernanda Alcântara.

O curso Introdução aos Arquivos Populares, oferecido no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, tem como objetivo a capacitação básica para a conservação de documentos das organizações populares.

Concebido pelo coletivo de Arquivo e Memória do MST em parceria com o coletivo Nuestro Sur, o projeto propõe um debate a respeito dos cuidados com os arquivos, catalogação e classificação não só de arquivos, mas também da memória das organizações sociais e populares.

O sociólogo e biblioteconomista Carlos Henrique Menegozzo ministra as aulas, que tiveram início no primeiro sábado de abril (06) e devem terminar na terceira semana de maio. Participam do curso representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Levante Popular da Juventude, CUT, Biblioteca Popular Carlos Mariguella, Escola Florestan Fernandes, Biblioteca Terra Livre, Centro de Documentação e Memória da UNESP (Cedem), entre outros.

Para Jullyana Luporini, do coletivo de Arquivo e Memória do MST, a ideia prioritária era conseguir conversar com outros movimentos e espaços para além do MST e compartilhar um olhar mais cuidadoso sobre os documentos. “ Nem toda organização tem as mesmas condições de trabalho e de tratamento com os arquivos. Queríamos mudar a forma como as pessoas normalmente tratam alguns materiais para que daqui a 20, 30 ou 50 anos ainda seja possível ter acesso a esses documentos”, afirmou.

Segundo ela, é comum que as pessoas se preocupem com um documento apenas no momento em que eles estão sendo produzidos, mas se descuidem na conservação histórica. “Pode ser uma circular de reunião ou uma ata, às vezes elas fazem parte da nossa história política. É preciso pensar sobre como estes documentos devem ser guardados, conservados e classificados, para que as informações contidas nestes documentos não se percam”, afirmou.

Arquivos Digitais

O conteúdo pedagógico da oficina vem trabalhando também a perspectiva de cuidados básicos da ciência arquivística, principalmente sobre os documentos digitais, que aparecem cada vez mais nesta dinâmica. “Tentamos mostrar que, apesar das plataformas digitais parecerem muito seguras, temos que ter uma série de cuidados. Um exemplo é que, há 20 anos atrás, as pessoas pensavam que o disquete era um suporte seguro para se guardar as informações, e vimos que isso ficou obsoleto”, refletiu Jullyana.

Segundo Jullyana, a defesa da memória, especialmente quando estamos falando de documentos populares, é garantir que as informações sejam sempre acessíveis, mesmo que a tecnologia fique ultrapassada. “Isso implica em backup, cópias e principalmente pensar em preservar em plataformas diferentes”, afirmou.

A turma é formada desde pessoas que já atuam em centros de documentação até quem apenas tem a preocupação de como conservar documentos que estão sendo produzidos em diversos espaços. Assim, a dinâmica é construída coletivamente, fazendo com que as atividades desenvolvidas alternem entre teoria e oficinas práticas.

O importante, para Jullyana, é a conscientização sobre a importância de preservação, principalmente na conjuntura atual. “A conservação de documentos tem relação direta com a disputa de narrativas da nossa história e do campo popular. É uma tarefa política, e precisamos fazer com que as pessoas e os militantes entendam a importância desta tarefa politicamente”, concluiu.

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