Cúpula das Américas: Vitória da Pátria Grande

brotesPor Raul Fitipaldi, para Desacato.info.

A Eduardo Galeano in memoriam.

Qualquer companheiro operário que gosta de futebol me dirá que estou certo: 33 x 2 é goleada em qualquer lugar do Mundo. E foi. 33 pátrias nossas, incluídas aquelas que você vê com uma lupa no mapa do Caribe, isolaram os Estados Unidos e deixaram que o Panamá cumprisse na região o papel triste que cumpre Israel no globo: votar servilmente com os Estados Unidos. Uma ressalva, o Panamá, diferentemente de Israel, atuou distinto na época de Omar Torrijos. Quem dera que fosse independente de novo com qualquer virada de vento! Assim também a ilha colônia, a linda Porto Rico.

Se 33 a 2 pareceu-lhe muito, bem pior para a direita apátrida da América Latina e Caribenha foi aceitar que mais de 50 anos de agressão ianque não dobraram a bravura incomparável do Povo Cubano e seus líderes. Na Cúpula das Américas, Cuba foi recebida como a irmã prodigiosa que, apesar da brutalidade imperial e dos seus comparsas, voltou ao convívio desta reunião que, até hoje, era mera paisagem retórica para a política regional. Desta vez não. Cuba, a Venezuela e todas as nações estavam fortes, unidas, altivas e cheias de dignidade frente ao decante espantalho norte-americano.

Foi belo, foi inesquecível, foi nossa história desatada das amarras, cara a cara com o agressor, derrotando-o na política. Vencendo-o naquela coisa que disseram não mais existia, a ideologia. Viu-se a consistência da resistência, do acúmulo histórico, do desejo de uma definitiva independência ainda em transe.

Para os mais desavisados, intoxicados pela maquinaria das grandes redes televisivas, talvez, foi mais um fim de semana de sol no Sul do Brasil. Não foi só isso! Foi o fim de semana em que a união que começou a cimentar-se em 2005 em Mar del Plata, quando o Comandante Chávez, Nestor Kirchner e Lula, mais os Povos da América, mandaram a ALCA ‘aocaralho’ e que foi tomando corpo. Unidade rara, por vezes inconsequente, assimétrica, subdesenvolvida, e tudo mais, no entanto, UNIDADE ao fim. A primeira unidade desde as gestas de Bolívar, Martí, Morazán, San Martín, Artigas e tantos outros. Unidade de sentimentos que teve um parêntese grande até a Revolução Cubana, e maior ainda até o surgimento do Libertador de Mentes, Hugo Chávez Frías. Mas sim, dentro desse parêntesis houve fulgores libertadores nas mãos valentes de Zapata, Villa e Sandino. Mais perto ainda, Gaitán, Arbens, Bosh, Guevara e Allende. A unidade plasmada com o sangue dos nossos povos, regada pelos ideais de liberdade sintetizados na poesia de Mário Benedetti, Violeta Parra, Armando Tejada Gómez e Sílvio Rodríguez.

Saibam, companheiros mais jovens, que houve um tempo em que todos, absolutamente todos os países da região, menos o México, votaram pela expulsão de Cuba da malfadada OEA. E hoje, todos de forma unânime a receberam. Os tempos mudaram.

Companheiros novos, levem em consideração que esta democracia ainda imperfeita custou centenas de milhares de homens, mulheres e crianças. Saibam que a irmã Venezuela se começou a libertar depois de sofrer o maior massacre acontecido nesse país, sob mando ianque e oligarca: o Caracaço, há, historicamente, poucos anos, em março de 1989.

A liberdade e a democracia destas pátrias, desta Terra Sagrada da Pacha Mama, foram feitas fazendo barricadas de sangue por cada canto onde houve nobre resistência. Campos e montanhas onde índios, negros, mestiços e pobres em geral derramaram seus melhores anos para salvar a Pátria Grande do jugo maldito do Império. Esse império, já com minúscula, ‘ganhou’ 33 votos contra sua vil agressão contra a pátria de Chávez e só conseguiu o voto favorável de um circunstancial vassalo. Império com minúscula que teve que ouvir o discurso de Raúl Castro desenhando sua crucial derrota. Foi um dia histórico para a humanidade, a civilização e a paz. Porém, império ajoelhado não é império morto. O Tio Sam apenas está ferido e, portanto, poderá ser mais feroz e monstruoso.

Os fantoches comunicacionais do Brasil baixaram o perfil da Cúpula e a limitaram às anedotas de rotina: acordam viagem de Dilma aos Estados Unidos, houve apertão de mãos de Obama e Castro e outras quinquilharias informáticas. Realmente os meios de comunicação, que receberam na Cúpula duros tapas no rosto, tanto de Cristina Fernández como de Rafael Correa, dão asco. São asquerosos, servis, apátridas, mentirosos. Sempre estiveram do lado das piores ditaduras. Nunca duvidaram em medrar com a dor de populações inteiras. Nunca se curaram da relação promíscua com todo e qualquer poder se este era antipopular, oligárquico, estrangeiro, imperial. Esses fantoches não poderiam atuar de outro modo. A Unidade da Pátria Grande é um reto insuportável para os impérios comunicacionais. Eles esconderam e esconderão a derrota que, no solo violado do istmo do Panamá, a Pátria Grande lhe impôs ao Grande Irmão. Do mesmo jeito que escondem e seguirão escondendo a desgraça que sofrem os negros, os índios e os imigrantes nos Estados Unidos, “a maior democracia do mundo”.

Nós, novos companheiros, somos obrigados a contar a história. Porque quando muitos jovens de menos de 40, digamos, assimilam o discurso da inutilidade, e até da morte das ideologias, por má informação, pelo comportamento ruim de uma parte da classe política, por falta de uma boa educação pública, os mais velhos precisamos fazer algumas afirmações contemporâneas. Por exemplo, afirmar, sem dúvida alguma, que a vitória histórica que ontem a Pátria Grande obteve frente ao Império é resultado da visão ideológica dos libertadores, da persistência política dos líderes dos movimentos sociais e dos partidos políticos progressistas da América Latina e do Caribe. Devemos afirmar que embora nossas democracias sejam deficientes ainda, a pior democracia é melhor que a mais incruenta ditadura.

A Resistência da América Latina e do Caribe, com mais de 200 anos de caminhada, começa a ter brotos com os quais vestir essa árvore que se ergue do ventre da Pacha Mama. São os primeiros brotos apenas. Só chegaremos ao topo dessa árvore de liberdade com a Independência Definitiva, democrática e pacífica; assim o reivindica esta Terra de amor que seguirá marchando por justiça e inclusão.

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