Cúpula da OTAN, um retorno à Guerra Fria?

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Londres, (Prensa Latina) A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Gales parece oficializar hoje o retorno da Europa à Guerra Fria com o anúncio de medidas de contenção contra uma suposta ameaça russa. Com a presença do presidente estadunidense Barack Obama, na cidade de Newport, que elevou ao máximo as medidas de segurança aplicadas por Londres, a cúpula da aliança atlântica procura um novo sentido para sua existência, depois de 65 anos de fundada.

A suposta ameaça de Moscou, que se nega a reconhecer um governo de ultradireita estabelecido na Ucrânia em fevereiro, depois de um golpe de Estado realizado com aprovação do Ocidente, converte-se no argumento para justificar, além disso, maiores despesas militares.

Foi só começar a reunião da OTAN, da qual participam cerca de 60 chefes de Estado ou Governo, e seu secretário geral que se despede do cargo, Anders Fogh Rasmussen, enfatizou a necessidade de conter a Rússia por sua suposta participação no conflito ucraniano.

Ramussen, que desde meados de 2013 faz questão de que os estados europeus freiem a tendência a reduzir seus orçamentos militares, considerou necessário reforçar as estruturas da OTAN na Europa do Leste.

A cúpula de dois dias no Celtor Minor Hotel da cidade de Cardiff, em Newport, discute uma reforma das já existentes forças de mobilização rápida para criar um contingente de cerca de cinco mil homens com bem mais mobilidade e equipamento.

Pelo menos cinco companhias da OTAN integrariam as NRF, por suas siglas em inglês, que estariam sob comando do Reino Unido, com efetivos da Dinamarca, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Noruega e Holanda, destaca o jornal The Guardian.

A aliança atlântica também analisa a possibilidade de estabelecer cinco novas bases na Polônia, Estônia, Letônia, Lituânia e Romênia, ainda que a imprensa local destaca que para isso ainda falta atribuição financeira e uma definição de lugares específicos.

Por outro lado, a reunião do presidente ucraniano, Piotr Poroshenko, com Obama, o francês François Hollande, a chanceler alemã Angela Merkel, e os premiês britânico, David Cameron, e italiano, Matteo Renzi, pareceu rondar a proposta de conceder à Ucrânia status de sócio estratégico da OTAN.

Tal condição permitiria a Kiev receber financiamento para compra de novos armamentos, algo ao qual Poroshenko se referiu ao concluir o encontro, realizado antes da abertura da cúpula.

Mas, como o The Guardian adverte, tais propostas não indicam a disposição dos aliados a ir a uma guerra por Tallin ou alguma localidade ucraniana, mas são consideradas um sinal a Moscou de que eles possuem a intenção de agir.

No entanto, o posicionamento de tropas de forma permanente ou “por longo tempo”, como de forma eufemística anunciam, na Europa do leste violaria radicalmente a Ata Fundacional de 1997, assinado por esse bloco e pela Rússia.

Em seu momento, o presidente russo Vladimir Putin denunciou a negativa da OTAN a somar um protocolo adicional ao tratado para limitar as armas convencionais na Europa e o perigo para a Rússia do escudo antimíssil estadunidense.

Agora, Obama e alguns sócios da OTAN como Cameron, além dos governo da Polônia, do Canadá e as citadas repúblicas do Báltico, consideram necessário anular o pacto de 1997 para poder mobilizar as forças que quiserem à Europa do leste.

Tal posição é recusada pela Alemanha, o que demonstra as divisões dentro do tratado em relação à crise ucraniana e ao papel desempenhado nela pela Rússia.

Por outro lado, só quatro dos 28 países da aliança cumpriram com um compromisso de 2006 para levar as despesas militares a dois porcento do Produto Interno Bruto.

Mas o Reino Unido parece forçar outros sócios da aliança a cumprir com o mencionado compromisso, ao anunciar pouco antes da cúpula um contrato para vender à Letônia 123 tanques Scout por um valor de 64,8 milhões de dólares.

A OTAN, que realiza sua primeira cúpula no Reino Unido em 25 anos, custodiada por 9.500 soldados, aviões de combate e helicópteros, bem isolada por uma cerca de 20 quilômetros de comprimento, também enfrenta o rechaço de centenas de pessoas em Newport.

Manifestantes convocados pelos partidos Socialista e dos Trabalhadores, assim como a coalizão Stop the War (Parem a guerra) e o grupo Red Block, gritavam palavras de ordem pela paz e contra a cúpula.

Mas a lista de justificativas para a existência da aliança atlântica se estende aos acontecimentos no Iraque, onde a aviação dos Estados Unidos bombardeia posições do movimento sunita Estado Islâmico (EI).

Rasmussen reconhece que o governo iraquiano até agora não fez pedido algum de ajuda à OTAN, “mas se o fizesse, estudaríamos seriamente essa possibilidade”, apontou.

A direção da OTAN esperaria até o próximo dia 11 por uma posição definitiva do governo iraquiano, dirigido de forma provisória por Nouri Al-Maliki, para definir sua volta ao país, revela The Guardian.

Pelo momento, altos oficiais britânicos trabalham como assessores na comunidade curda iraquiana, em guerra com o EI, além de colaborar no transporte de ajuda “não letal” enviada por países como Albânia, incluídas 10 toneladas de coletes antibalas.

No entanto, Cameron admitiu a possibilidade de uma participação direta de seu país em ações de combate no norte do Iraque, onde aviões Tornado do Reino Unido realizaram missões de reconhecimento. À localidade curda iraquiana de Irbil viajou o tenente-general Sir Friman Mayall, enviado do ministério britânico para o Oriente Médio, informa a publicação britânica.

De qualquer forma, a cúpula de Newport promete se converter em “histórica” pela decisão da OTAN de voltar definitivamente a uma Guerra Fria com a Rússia, o que implicaria um diferendo no plano político e inclusive militar entre ambas partes.

Fonte: Prensa Latina.

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