Por Tali Feld Gleiser.
58 rue des Trois Frères, 75018 PARIS. Fermé. (Fechado).
Ele disse que estaria na galeria desde as sete da noite e já eram as sete e trinta e cinco. Decidi dar uma volta pelo bairro de Montmartre, coração da boemia parisiense junto com o bairro de Montparnasse. Subi até a Rue Lepic 54, onde morou Vincent Van Gogh com seu irmão Theo e cheguei até a basílica Sacre Coeur. Um mar de turistas assistia a uma obra de marionetes, outro oceano assistia a um mágico e o restante tirava fotos, todos acompanhados de pelo menos uma garrafinha de água.
Em Bateau Lavoir me misturei com uma turma que escutava várias histórias sobre o seu mais ilustre hóspede: Pablo Picasso. Um pouquinho antes que a guia perguntasse quem era eu, que não estava antes no grupo, me despedi de Picasso e os outros pintores e fui à procura do artista que queria visitar essa noite: o argentino José Cúneo.
A galeria Trois Frères já estava aberta. O dia ainda era claro, mas na sua vitrine escura se destacavam duas caixas luminosas. Encontramos o Cúneo desenhando na sua tablet, um elemento que ele nunca sonhou que existiria quando saiu da sua Argentina natal havia vinte e seis anos. O que sabe ele aprendeu em cursos de desenhos, mas sobre tudo desenhando e desenhando. Procurando novos ares, ele voou para a Europa e se estabeleceu em Paris, onde publicou seus trabalhos na revista Écho des Savanes e na primeira revista gay francesa Gai Pied. Nesta cidade foi onde leu toda a obra (em francês) de Copi (1939-1987) escritor, cartunista e dramaturgo argentino de culto, radicado em Paris, militante do movimento de liberação Lésbico Gay Bissexual e Transexual. Fui “possuído por suas peças de teatro e romances”. O escritor chileno Alejandro Jodorowsky tinha aconselhado Cúneo a que abordasse em suas histórias em quadrinhos a temática gay no ambiente parisiense, desde uma ótica hilária, algo que também fazia Copi na revista Gai Pied. Quando Copi faleceu, ofereceram a Cúneo justamente a página dele.
La Boca
Villa Poissonière
E Copi é um dos personagens que aparecem na Caixa Luminosa do Bicentenário, uma reconstituição histórica do Cabildo Aberto de 1810 com personagens atuais como Cristina Fernández e Néstor Kirchner, o cantor Tanguito e os próceres argentinos daquela época, entre outros.
É difícil descrever essas caixas tridimensionais. São cenas urbanas com todos seus mínimos detalhes habitadas por personagens caricaturescos. Um dos seus trabalhos mais queridos é aquele que representa um ônibus de Buenos Aires. Cúneo conta que quando foi para Paris, um dos elementos dos quais mais sentiu falta foi do “colectivo” que ele pegava todo dia para ir trabalhar. O trecho representado na Caixa Luminosa é a Avenida Corrientes, onde morou muito tempo e trabalhou. Ele se lembra da noite mágica dessa parte da cidade porque ela nunca acaba; tudo aberto: bancas, livrarias, restaurantes.
O público da Argentina, Holanda, Suíça, França e Estados Unidos já desfrutou destas caixas mágicas e absolutamente originais.
A sua mais recente exposição termina dia 14 de setembro com um show de tango de Juan Ramos da Associação Cambalache às 21 horas.
Quem estiver em Paris, prestigie este excelente artista latino-americano em:
Galerie 3 F
58 rue des Trois Frères
75018 PARIS -M°Abesses
Aberta de segunda a domingo de 15 à meia-noite.
E também faça uma visita virtual às esculturas em www.josecuneo.com