Crônicas Palestinas n°729 não: Hummus e BDS

Por Tali Feld Gleiser, para Desacato.info.

Os povos do mundo estão demonstrando a sua solidariedade com a Palestina e pedindo, entre outras coisas, que o Estado sionista pare o massacre em Gaza. Após 34 dias, só alguns governos da Nossa América têm se expressado contra os ataques de Israel. Os Estados Unidos, o Canadá, a Europa e os países árabes seguem com a sua cumplicidade nojenta. Mas  quando o bombardeio acabar “definitivamente”, o problema terá terminado? Deixamos as ruas e voltamos para casa com a consciência tranquila? O genocídio do povo palestino começou até antes de 1948, com o nascimento da ideologia sionista.

 “O movimento sionista formou-se a finais do século XIX, com o objetivo de criar uma pátria para os judeus através da formação de um “… movimento nacional para o retorno do povo judeu à sua pátria e a retomada da soberania judaica na terra de Israel… A criação de um Estado nacional judeu num país com uma minoria judia muito pequena so poderia ser aceitável mediante o deslocamento forçado da população indígena existente junto com a implementação de novos colonos judeus…

A ideia da “transferência” no pensamento sionista foi  descrita rigorosamente por Nur Masalha em “A expulsão dos Palestinos. O conceito de “transferência” no pensamento político sionista, 1882-1948”, e se resume nas palabras de Israel Zangwill, um dos primeiros pensadores sionistas que, em 1905, declarou que “se queremos dar um país para um povo sem país, é uma bobagem permitir que seja o país de dois povos”. Yosef Weitz, ex-diretor do Departamento de Terras do Fundo Nacional Judeu, foi ainda mais explícito quando, em 1940 , escreveu que: “… Deve ficar claro que não tem lugar no país para ambos povos (…) a única solução é a Terra de Israel, pelo menos uma Terra de Israel ocidental sem árabes. Não tem espaço aqui para o compromisso. (…) Não tem outra opção que transferir os árabes de aqui para países vizinhos (…) Não dá para deixar nem uma aldeia só, nem sequer uma tribo de beduinos…”.1

 Uma das ações que todos podemos levar à prática é não comprar produtos com o código de barras 729, que é código que corresponde a Israel.

 boicot israel

 E o que é o BDS?

Movimento global BDS (Boicote – Desinvestimento – Sanções) é uma plataforma informal de activistas, grupos sociais e organizações que, a nível mundial, coordenam os seus esforços, em resposta ao Apelo lançado pela sociedade civil palestina, para pressionar Israel a cumprir com o Direito Internacional e a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Para proporcionar um espaço para informação, análise e permuta de ideias e de experiências para todos os participantes no Movimento, foi criado o websitehttp://www.bdsmovement.net, gerido pelo Comité Nacional Palestino para o BDS.

O Apelo da Sociedade Civil Palestina

Em 9 de Julho de 2005, 171 organizações representativas dos três segmentos integrantes do povo palestino – os refugiados, os habitantes dos territórios ocupados e os palestinos cidadãos de Israel – incluindo partidos políticos, sindicatos, associações, coligações e outras organizações, subscreveram o seguinte Apelo:

“Um ano após a histórica decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) que declarou ilegal o Muro construído em território palestino ocupado, Israel prossegue a construção do Muro, em total desrespeito pela decisão do Tribunal. Trinta e oito anos após a ocupação por Israel da Margem Ocidental (incluindo Jerusalém Oriental), da Faixa de Gaza e dos Montes Golã, Israel continua a expandir os colonatos judaicos. Israel anexou, unilateralmente, as zonas ocupadas de Jerusalém Oriental e dos Montes Golã e está agora a anexar, de facto, grandes porções da Margem Ocidental com a construção do Muro. Israel está também a preparar – à sombra da sua retirada da Faixa de Gaza – a construção e expansão de colonatos na Margem Ocidental. Cinquenta e sete anos depois de o Estado de Israel ter sido criado em território maioritariamente objecto de limpeza étnica dos seus proprietários palestinos, uma maioria de Palestinos são refugiados, muitos dos quais apátridas. Além disso, o arreigado sistema de discriminação racial de Israel contra os seus próprios cidadãos Árabes-Palestinos permanece intacto.

À luz das persistentes violações, por Israel, do Direito Internacional; e

Considerando que, desde 1948, centenas de resoluções das Nações Unidas condenaram as políticas colonialistas e discriminatórias de Israel, por ilegais, e reclamaram soluções imediatas, adequadas e eficazes; e

Considerando que todas as formas internacionais de intervenção e de construção da paz não conseguiram convencer ou forçar Israel a cumprir as leis humanitárias, a respeitar os direitos humanos fundamentais e a pôr fim à sua ocupação e opressão do povo da Palestina; e

Tendo em vista que consciência popular da comunidade internacional tem, historicamente, abraçado a responsabilidade moral de combater a injustiça, como exemplificado na luta pela abolição do apartheid na África do Sul através de variadas formas de boicote, desinvestimento e sanções; e

Inspirados pela luta do povo da África do Sul contra o apartheid e dentro do espírito da solidariedade internacional, da coerência moral e da resistência à injustiça e à opressão,

Nós, representantes da sociedade civil Palestina, apelamos às organizações da sociedade civil internacional e à consciência dos povos em todo o mundo, para imporem amplos boicotes e implementar iniciativas de desinvestimento contra Israel semelhantes às aplicadas à África do Sul no tempo do apartheid. Apelamos a que pressionem os seus respectivos Estados para que imponham embargos e sanções contra Israel. Convidamos, também, os Israelitas conscienciosos a apoiar este Apelo, a bem da justiça e da paz verdadeira.

Estas medidas punitivas não-violentas devem ser mantidas até que Israel cumpra a sua obrigação de reconhecer o direito inalienável do povo Palestino à autodeterminação e cumpra plenamente com os preceitos do Direito Internacional:

1. Pondo termo à ocupação e colonização de todos os territórios árabes e desmantelando o Muro;

2. Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos Árabes-Palestinos de Israel à plena igualdade; e

3. Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados Palestinos ao regresso às suas casas e propriedades como estipulado na resolução 194 da ONU.”

Este Apelo foi adoptado, em 13 de Julho de 2005, pela “Conferência das Nações Unidas da Sociedade Civil Internacional pela Paz no Médio Oriente”, realizada em Paris.2

 Empresas que ajudam a financiar o Estado sionista3

 productos bds

Hummus e BDS

 hummus

 Na semana passada estive na cidade de Zumárraga me hospedando na casa da minha amiga (quase) palestina Antzine Biain e me ofereci para fazer hummus. Compramos os ingredientes que faltavam: grão-de-bico, limão e tahini. Subo as compras ao apartamento e só lá me ocorreu  checar o código de barras. Horror! O  tahini tem o código 841! Fazia alguns dias tinha começado a circular o que se vê na foto a seguir:

 codigos de barras equivocados 871 841

Quando Antzine chegou, contei para ela o horror de que logo nós duas tivéssemos comprado un produto da marca Monki com o código 841, que na realidade deveria ser boicotado. Voltamos para a loja, explicamos para a dona (quem entendeu perfeitamente) e trocamos por outro tahini (3 euros mais caro). Retornamos para casa e Antzine começou a revisar os códigos de barras dos outros produtos que tinha. Mais horror: 841 por todo lado, os tentáculos sionistas estavam na lentilha, o atum, a maionese, a cerveja! “Não é possível”, disse, “aqui tem que ter um erro”. Efetivamente, pesquisando na internet descobrimos que o código de barras 841 pertence à Espanha e o 871, à Holanda. Portanto, o único código (até agora) que corresponde a Israel é o 729. A conclusão é: para qualquer outro código tem que olhar na origem, se for Made in Israel, esse produto não deve ser comprado se você concordar com o boicote. Não esqueçam que um dos motivos da queda do regime de apartheid da África do Sul foi o boicote comercial, esportivo, cultural, acadêmico, etc.

A “crise” na Palestina não termina com o cessar-fogo “definitivo-até-o -próximo-bombardeio”. A Ocupação israelense na Palestina segue, os colonos continuam nas suas fortificadas colônias, a reconstrução de Gaza será muito complicada, a cadeia a céu aberto não será desmantelada, crianças palestinos seguirão sendo presas, as humilhações cotidianas ainda serão a diversão dos soldados israelenses, o governo e a maioria dos israelenses insistirão em que são as eternas vítimas e por isso o Estado de Israel deverá ter caráter judeu, o que para eles é muito democrático e justo, as resoluções da ONU (sem comentários), o Direito Internacional e os direitos humanos (entre eles o direito ao retorno) do povo palestino seguirão sendo violados sistematicamente.

Portanto, todos temos uma arma para contribuir para que o longo e planejado genocídio do povo palestino acabe e que a propaganda israelense não tenha mais efeito. Essa ferramenta é o BDS. Depende de nós…

 eu nao compro

Fuentes:

1 http://www.mppm-palestina.org/index.php/campanha-bds/91-que-e-movimento-bds

 2 O constante deslocamento forçoso do povo palestino. Por Amjad Alqasis.

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=168215

Lista de produtos e por que devem ser boicotados.

http://www.profesionalespcm.org/_php/MuestraArticulo2.php?id=19781

 http://www.anovademocracia.com.br/no-133/5425-boicote-desinvestimento-e-sancoes

Uma receita de hummus http://www.gastronomiaycia.com/2008/01/10/hummus-pure-de-garbanzos-delicioso-y-nutritivo/

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