Por Marco Vasques.
Criado em 1998 pelo Ministério da Educação, o Enem tinha como objetivo inicial avaliar o desempenho dos alunos ao término do Ensino Médio. Logo após, ampliou seu escopo e passou a servir de instrumento de entrada em universidades públicas e de orientação para o alcance de bolsas nas universidades privadas. Recentemente ele vem tentando ajustar o pérfido mecanismo de chegada às universidades.
É mais que sabido que existe no Brasil uma elite econômica, que abdica de lutar por seus direitos (saúde e educação públicas de qualidade, por exemplo) para aderir aos sistemas privados que oferecem tais serviços. O resultado é sabido também. Pagam a preço de ouro o ensino básico e médio de seus filhos que estudarão em universidades gratuitas.
Com o sistema de educação pública combalido e abandonado, resta aos desfavorecidos economicamente estudarem em universidades particulares. Claro que pobres e ricos devem ter direitos às universidades públicas. Não se trata de banir os ricos das universidades públicas. Mas com o circo armado da maneira que está fica difícil rir e brincar, já que os ricos ficam com as lonas, as mágicas e as arquibancadas e os pobres com o vazio ensurdecedor do vão no solo após a passagem da caravana.
A rapaziada do CQC perguntou a um parlamentar catarinense o que significa a sigla Enem e ele não soube sequer dizer o significado da primeira letra. Mas alguém esperava mesmo que ele soubesse? Por aí já se vê em que mato estamos metidos. Um matagal infernal, cheio de cobras e leões. Por isso, talvez, tanto rugido. É admissível que uma prova dessas, aplicada a todo Ensino Médio brasileiro, traga um e outro problema localizado. As pessoas são falíveis e os processos, infelizmente, são corruptíveis. Não podemos aceitar sem nenhum questionamento o que estamos presenciando. Não podemos aceitar, óbvio, o vazamento das questões, mas também não podemos deixar de observar e refletir o motivo da cruzada contrária ao Enem.
O massacre que a mídia e alguns setores da sociedade vêm fazendo ao Enem pode nos levar a algumas perguntas: por que tanto interesse em denegrir, apedrejar e invalidar o Enem? Quais interesses estão em jogo? A quem beneficia o modelo atual que temos de seleção para se entrar nas universidades? Por que a mesma mídia não se dedica a aprofundar a questão dos famigerados modelos vigentes? Por que motivo esta elite econômica não abandona o setor privado da saúde e da educação e passa a exigir o que lhe é garantido constitucionalmente? Por que todos os outros sistemas de seleção, notórios em suas fraudes, não passam pela mesma sabatina?
As respostas são evidentes.
Publicado no jornal Notícias do Dia [21/11/2011]