A escalada do governo Netanyahu contra Lula não deve ser lida como crise diplomática entre países. Isso é um erro crasso de análise! Trata-se de uma investida política da extrema-direita mundial, que funciona em rede, contra um governo democrático que querem enfraquecer.
Explico:
1/ está marcado um protesto pró-Bolsonaro crucial para a sobrevida da extrema-direita brasileira nesta semana e a extrema-direita israelense está jogando para incendiar a opinião pública brasileira e fortalecer Bolsonaro. Eles funcionam por fortalecimento cruzado, entendam isso.
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2/ isso explica os tuítes em português, totalmente fora do tom do ministro de relações exteriores de Israel, Israel Katz, do partido de extrema-direita de Netanyahu o LIKUD. Para quê isso se não para intervir na política interna do Brasil?
3/ antes disso, em novembro do ano passado, o embaixador de Israel no Brasil encontrou Bolsonaro, líder da oposição, no Congresso Nacional no q foi então considerado uma clara intromissão em assuntos internos por qualquer um que entende minimamente de relações internacionais.
vale notar que, na minha opinião, errou o governo brasileiro ao não expulsá-lo naquela ocasião ou, ao menos, convocá-lo para dar explicações.
4/ sobretudo pq o encontro veio no bojo daquele episódio hiper controverso da prisão de supostos terroristas do Hezbolah no Brasil por uma ação da polícia federal q segundo o próprio Netanyahu em rede social, contou com a colaboração da agência de inteligência de Israel, o Mossad.
vale notar de novo que, na época, alguns analistas mais ainda atentos viram nisso uma ação de contra inteligência para, na verdade, incidir sobre a opinião pública brasileira e sua percepção sobre a guerra curso, considerando hostil pelo governo Netanyahu.
5/ por falar em inteligência e contra inteligência, começava a vir a tona, nessa época e com mais força a partir de janeiro, o escândalo da Abin paralela que tinha como centro um software de espionagem israelense usado pelos bolsonaristas para espionar adversários
6/ o q interessa aqui é q se este software – o FirstMile -foi adquirido formalmente pelo Estado Brasileiro no pelo governo Temer, não é o caso do Darkmetter, um programa criado pelo exército de Israel e adquirido informalmente pelo Gabinete do Ódio segundo reportagem do intercept
7/ é preciso mais pesquisas e investigações, mas é possível dizer que as colaborações formais e informais entre a extrema-direita brasileira e a extrema-direita israelense são intensas e é a luz delas que, na minha opinião, os ataques despedidos a Lula devem ser interpretados.
8/ aliás, essa colaboração é global. Ou Já nos esquecemos que Milei, eleito, fez sua primeira viagem internacional para Israel e, na sequência, de passagem nos EUA, fez uma peregrinação por símbolos da comunidade judaica no país ?
9/ é por tudo isso, a meu ver, que dentro do espaço politico-diplomático disponível, o governo Biden e os principais governos Europeus ameaçados pela extrema-direira ficaram ao lado de Lula e não de Israel.
As fotos para lá de simpáticas de Blinken com Lula agora de manhã em Brasília seguida de declarações e, principalmente, não -declarações evidenciam que crise diplomática é delírio de quem não entende o que está acontecendo.
10/ só a imprensa provinciana e o extremo-centro igualmente desavisado não perceberam o verdadeiro contexto político em jogo e viram nesse episódio uma oportunidade de atacar Lula para enfraquecer a esquerda e puxar seu governo mais ainda para a direita.
11/ demorou, mas acho que perceberam e estão se reposicionando.
12/ em tempo, eu não compartilho da visão, a meu ver distorcida, de que Lula negou o holocausto e flertou com o antissemitismo. Lula, de maneira negociada com líderes mundiais, subiu o tom consideravelmente para alertar Israel que o massacre de Rafah no Ramadã não será tolerado.
13/ não usou a palavra holocausto, mas mencionou Hitler. O fez para alertar que a luta contra o fascismo, ontem e hoje, também conta com articulação global. O resto é resto pessoal.
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