Por Cida de Oliveira.
Maior crime ambiental da história do Brasil, o rompimento da barragem da Samarco em Mariana completa cinco anos na próxima quinta-feira, 5 de novembro. Mesmo depois de todo esse tempo, a mineradora e suas controladoras Vale e BHP ainda não reconstruíram as casas das mais de 430 famílias que ficaram sob a lama. Para chamar a atenção da população para o descaso dessas grandes companhias que se arrasta – com a complacência das autoridades – o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) inicia uma extensa agenda de manifestações e atividades a partir deste sábado (31).
Ato político e cultural das mulheres atingidas em defesa da vida será transmitido pelas redes sociais do MAB Nacional a partir das 15 horas. Confirmaram participação Mariana Andrade Sobral, defensora pública do Espírito Santo; Deborah Duprat, ex-subprocuradora Geral da República; Érica Kokay, deputada federal (PT-DF); Nalu Faria, liderança da Marcha Mundial de Mulheres e da Frente Brasil Popular. Além destas, também estarão presentes Letícia Oliveira, liderança do MAB; Maria Cussaya, atingida pela Vale em Moçambique; Claudia Ortiz, militante da organização Rios Vivos, da Colômbia; e Marílis Pena Peres, do Centro Martin Luther King, de Cuba.
Na terça-feira (3), a partir das 15 horas, haverá transmissão de ato sobre a luta internacional e a solidariedade entre os atingidos por barragens. Confirmaram participação o ativista Juan Pablo Soler, da organização colombiana Rios Vivos; Sonia Mara Maranha, do MAB; Karin Nansem, da organização Amigos da Terra Internacional, do Uruguai. O debate será concluído com as participações de Silvia Molina, pesquisadora do Centro de Estudos para o Trabalho e Desenvolvimento Agrário, da Bolívia e Martin Mantxo, ativista ambiental do País Basco, nas Espanha.
Construção solidária
Na sexta-feira (6), uma casa construída de maneira solidária pelo MAB será doada à família de Yolanda Gouveia. Mesmo tendo sua antiga moradia seriamente danificada, com estrutura abalada e rachaduras, ela não é reconhecida como atingida pela Fundação Renova. A instituição foi criada para gerir as indenizações pelo crime da Samarco, mas tem sido duramente criticada pelas vítimas e pelas entidades defensoras.
Yolanda, o marido Douglas e seus três filhos (foto abaixo) tiveram sua antiga casa abalada por trincas e rachaduras causadas pela trepidação pela passagem de máquinas e caminhões pesados das empresas, carregando minérios pelas ruas estreitas de bairros afastados do centro de Barra Longa.
De acordo com o MAB, a entrega da casa estava prevista para março. Mas as fortes chuvas que atingiram Minas Gerais em janeiro e fevereiro impediram o avanço dos trabalhos. Na sequência veio a pandemia. A construção foi retomada a partir do final de julho. O total investido na obra foi de R$ 85 mil, arrecadados em campanha coletiva, solidária e voluntária entre atingidos de todo o país, além de doações de entidades parceiras e doações individuais. A lição dada pelo MAB é que a solidariedade, que a Vale não pratica, venceu a falta de dinheiro, que a mineradora tem de sobra.
Crime denunciado
Desde o começo do mês, o MAB realiza a jornada de lutas “Vale com a Injustiça nas Mãos: 5 Anos sem Reparação na Bacia do Rio Doce”. O objetivo é mostrar à sociedade a situação em que está a população afetada pelo crime da Samarco.
“Os problemas causados em Minas Gerais e no Espírito Santo a partir do crime, que tirou a vida de 20 pessoas e causou impactos profundos no meio ambiente da bacia do Rio Doce, são muitos. Falta emprego e renda, não têm acesso a serviços de saúde, porque a população passou a apresentar novas doenças. Também ficaram sem opções de lazer, a partir da destruição do rio”, afirma Thiago Alves, da coordenação do MAB.
Além disso, os atingidos têm denunciado manobras e tramoias que marcam os embates a favor da empresa na esfera judicial. Em muitos casos a Justiça se mostra aliada das mineradoras, dificultando a promoção de um processo reparatório justo e com participação efetiva dos atingidos pela barragem de Fundão.