Duas crianças indígenas Yanomami morreram, na última terça-feira (12), após serem sugadas e “cuspidas” na correnteza do rio Parima tomado por uma draga usada no garimpo ilegal, na cidade de Alto Alegre, em Roraima. O corpo de um dos meninos, de 7 anos, foi localizado e a outra criança, de 5 anos, ainda não. O indígena Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), afirma que a comunidade Makuxi Yano é uma das mais afetadas pelo garimpo ilegal. Em 2020, foram atingidos 118,96 hectares de floresta degradada na região.
“Estamos enfrentando há seis anos uma briga contra o garimpo ilegal na terra Yanomami. São mais de 20 mil garimpeiros desmatando a nossa terra e nossos rios. A presença do garimpo está aumentando e violando mais nossos direitos. A atividade é inconstitucional, é um crime, e estamos correndo risco”, alertou Dario à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
Segundo os relatos, os meninos brincavam no rio que banha a comunidade Makuxi Yano, quando foram arrastados. A associação entrou em contato com o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-Y), que acionou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e solicitou apoio ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y), mas ambos não se manifestaram. O Corpo de Bombeiros também foi acionado.
“Acionamos a Funai, pois há uma coordenação específica sobre os povos Yanomami que monitora a proteção territorial, porém, não temos nenhum posicionamento, nenhum sinal positivo de apoio”, relatou Dario.
Violência contra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, e parte da Venezuela. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, em mais de 360 comunidades.
De acordo com o vice-presidente da HAY, a violência está crescendo muito contra a comunidade Yanomani. “No ano passado, assassinaram dois indígenas aqui e, recentemente, houve um tiroteio contra nossa comunidade. Agora, tivemos um parente atropelado por garimpeiros. A gente não sabe como fazer, porque as autoridades sabem do problema, mas não fazem nada. O governo federal não age e não sabemos quem procurar mais”, lamentou.
Outras duas crianças, de 1 e 5 anos, morreram afogadas após caírem no rio enquanto fugiam dos disparos de garimpeiros armados que invadiram a comunidade Yakepraopë em maio, na região do Palimiu, também em Roraima.
Na avaliação do indígena, o aumento da violência tem aval do governo federal. “Bolsonaro quer liberar o garimpo, a exploração em terras indígenas. O governo federal está envolvido nesse garimpo ilegal, que também ocorre em outros territórios. Eles apoiam essas atividades, então não há esse posicionamento em defesa dos nossos direitos”, criticou.