Por Wilson Santos.
Uma conversa despretensiosa com o secretário de Saúde de Brumadinho, Júnio Araújo Alves, revela mais um lado doloroso após a criminosa tragédia da barragem da Vale: a cidade já registrou dez tentativas de suicídio, das quais três resultaram em mortes. Segundo ele, a literatura sobre o assunto diz que esse número deve ser triplicado, por causa da sub-notificação, o que é alarmante para uma cidade do porte de Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, com seus 37 mil habitantes. O rompimento da barragem provocou 248 mortes e ainda há 22 pessoas desaparecidos na lama.
Araújo tem outros números que tornam mais gritante essa consequência silenciosa do estouro da barragem no dia 25 de janeiro: a prescrição médica para uso de medicamentos do grupo ansiolíticos cresceu em torno de 80% na rede pública. Para o grupo de antidepressivos o derrame é 60% maior. Há casos em que o consumo isolado de remédios de um desses grupos explodiu em 150%.
Tudo isso havia sido previsto pelos protocolos técnicos elaborados por especialistas logo após a tragédia. Não fosse a desenvoltura do secretário junto ao governo federal para conseguir credenciamentos emergenciais para a rede pública, o município estaria em situação ainda pior. Sem contar que uma articulação entre os ministérios públicos Estadual e Federal forçou a Vale a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) garantindo o repasse de R$ 31 milhões para o SUS local. Algo que simplesmente minimiza o estrago provocado pela mineração sem controle. Mais que revoltante, esse cenário confirma como a crueldade daquela tragédia não tem limite.