CPI da Covid escancara ‘omissão intencional’ de Bolsonaro na pandemia, dizem especialistas

Ao recusar vacinas da Pfizer, governo federal colocou vidas em risco propositalmente

Foto: Michel Dantas/ AFP

Os depoimentos de testemunhas durante a CPI da Covid mostram que o governo Bolsonaro se omitiu e negligenciou o combate à pandemia de maneira intencional. Para especialistas, o relato do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, sobre a recusa do governo federal em adquirir vacinas deixou explícita a falta de ações do presidente da República para garantir a saúde da população.

Nesta quinta-feira (13), o representante da Pfizer afirmou que Bolsonaro ignorou três ofertas apresentadas pela empresa em agosto do ano passado para a aquisição de vacinas. Em cada uma das oportunidades, foram apresentadas duas propostas: uma de 30 milhões de doses e outra de 70 milhões.

Na avaliação de Wagner Romão, professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp, a omissão de Bolsonaro resultou na perda de milhares de vidas. “A CPI da Covid está provando que houve negligência intencional do governo para não buscar a vacina, que é a única salvação para a pandemia. O governo recusou comprá-las o mais rápido possível, o que pouparia dezenas de milhares de vidas. Portanto, os relatos desmontam a postura de Jair Bolsonaro, que finge que atuou para comprar os imunizantes”, afirmou ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

Negligência

A sessão da CPI da Covid também foi marcada pela tentativa de senadores governistas de desqualificar e atacar a credibilidade da farmacêutica Pfizer. A intenção dos senadores era justificar e mesmo respaldar a omissão negacionista do governo de Jair Bolsonaro.

Romão acredita que cada vez mais Bolsonaro está perdendo a disputa das versões, pois está claro que o presidente apresentou, ao longo da pandemia, muitos depoimentos contraditórios. “Bolsonaro disse que a vacina da Pfizer poderia transformar as pessoas em jacaré e demorou para que admitisse a possibilidade de compra. Ele tenta destruir a imagem das vacinas há muito tempo, o que induz parte a população a não se vacinar. A CPI explicita que Bolsonaro sempre foi contraditório com a questão das vacinas e seu governo errou muito, mas errou porque quis”, acrescentou.

O imunologista Gustavo Cabral, PhD e pesquisador da USP sobre desenvolvimento de vacinas, afirma que a recusa de Bolsonaro em negociar a vacina com a Pfizer foi prejudicial, pois poderia garantir mais do que as 70 milhões de doses ofertadas.

“O governo federal esnoba o vírus desde o começo da pandemia, num ato de crueldade. Ele fala tanto de economia, mas esquece que é preciso manter sua população viva. A partir do momento que ele negligencia a compra de vacina, atira no pé do Brasil. A Pfizer fez uma oferta inicial que poderia ser muito mais explorada, fugindo da competitividade financeira do exterior. Com um acordo de compra, o Brasil conseguiria um número muito maior de vacinas do que foi oferecido”, disse à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.

Acompanhe a entrevista de Wagner Romão

Acompanhe a entrevista de Gustavo Cabral

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