Por Daniel Giovanaz.
Das 100 maiores cidades brasileiras, as três que possuem menores taxas de óbitos por covid-19 viveram semanas de lockdown. Petrolina (PE), Taubaté (SP) e Ribeirão das Neves (MG), respectivamente, ocupam as melhores posições do ranking. Os números, obtidos juntos às secretarias municipais, foram organizados pela empresa de consultoria Macroplan e divulgados pela revista Exame na última sexta-feira (26).
Conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 15 de abril de 2020, os estados e municípios podem decretar medidas restritivas para enfrentamento ao coronavírus. O governo federal, desde o início da pandemia, posiciona-se contra qualquer política de isolamento.
O Brasil vive o auge da pandemia e ultrapassou, no último domingo (28), a marca de 310 mil mortes por covid.
Um olhar sobre as três melhores cidades do ranking mostra que a importância do confinamento foi colocada em xeque em diferentes períodos de 2020. Este ano, com o aumento dos casos em escala nacional, todas elas recorreram novamente a restrições de movimento como forma de contenção da doença.
Oscilações em Petrolina
Com 65,3 mortes por coronavírus a cada 100 mil habitantes, Petrolina adotou as primeiras medidas restritivas no início de maio de 2020, quando havia apenas um óbito confirmado por covid.
Na época, o prefeito Miguel Coelho (PMDB) postou um vídeo nas redes sociais pedindo que os cidadãos só saíssem de casa para serviços essenciais e anunciando que se reuniria com as forças de segurança para aprimorar as medidas de contenção.
O comércio foi fechado no mesmo mês, apesar do protesto de empresários locais.
A reabertura gradual das lojas, shopping centers, igrejas, administração pública, parques e orla fluvial, a partir de 1º de junho, fez o número de casos disparar 152%, segundo o Boletim 09 do Comitê Científico do Consórcio Nordeste.
Diante desse aumento, a Prefeitura determinou lockdown de 14 dias em 13 de julho e conseguiu estabilizar a situação novamente.
O prefeito e a secretaria municipal de saúde parecem ter aprendido a lição. Desde aquele período de flexibilização, as atividades econômicas não voltaram a operar 100% na cidade – conforme as recomendações do governo estadual.
Leia mais: Fiocruz pede lockdown por 14 dias no Brasil para reduzir transmissão da covid-19
Em 2 de fevereiro, Petrolina anunciou que não haveria pontos facultativos no período de carnaval, para evitar aglomerações.
No último dia 4 de março, a Prefeitura publicou um novo decreto alterando o funcionamento nos serviços municipais, com mudanças de horário de trabalho e redução da capacidade para conter a transmissão do vírus.
Foram proibidas as reuniões presenciais e todas as viagens de funcionários municipais foram canceladas. Profissionais que não fazem atendimento ao público passaram a trabalhar remotamente.
Em paralelo, as medidas recentes do governador Paulo Câmara (PSB) também contribuíram. Desde o dia 18 de março, Pernambuco está em quarentena.
A cada novo anúncio de restrições, a administração municipal de Petrolina enfrenta boicotes das associações empresariais, que discordam do fechamento. Este mês, em que a taxa de ocupação dos leitos de UTI chegou a 100% duas vezes no município, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e o Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) protestaram contra a Prefeitura no estacionamento das lojas Havan.
Taubaté seguiu à risca orientação estadual
A 140 km de São Paulo (SP), Taubaté tem 73,7 óbitos por covid a cada 100 mil habitantes e começou cedo a editar medidas de isolamento, em coordenação com o governo estadual.
A quarentena iniciada em 22 de março de 2020 foi renovada em 7 de abril, com flexibilizações em alguns setores. O transporte público voltou a funcionar com capacidade reduzida.
No final de maio de 2020, a Região Metropolitana do Vale do Paraíba, onde fica Taubaté, entrou na fase laranja, enquadrada na fase 2 do “Plano São Paulo” de enfrentamento ao coronavírus.
O funcionamento dos setores com possibilidade de reabertura – imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shopping – foi submetido a restrições de fluxo, de horários e com medidas de distanciamento e higiene.
O segundo semestre de 2020 foi marcado por flexibilizações, e a população deixou claro à Prefeitura que não estava disposta a se colocar em risco. Em 8 de setembro, as aulas presenciais recomeçaram, mas nenhum aluno apareceu. Uma pesquisa feita pela secretaria municipal de educação mostrou que apenas 5% dos professores se sentiam seguros para retornar às atividades.
As medidas restritivas mais duras foram restabelecidas em janeiro de 2021. O decreto entrou em vigência no dia 19 daquele mês, com vetos à circulação de pessoas em espaços e vias públicas no período noturno. Desde 5 de fevereiro, o comércio está autorizado a abrir oito horas por dia, com 40% da capacidade.
Em dois meses, a Operação Preservação da Vida, coordenada pela secretaria de segurança pública municipal, realizou 704 abordagens em Taubaté para garantir a efetividade do lockdown. Ao todo, foram interrompidas 147 festas clandestinas que promoviam aglomerações.
A Prefeitura de Taubaté segue à risca as determinações estaduais, com medidas ainda mais rígidas. O governo João Doria (PSDB) prorrogou até 11 de abril a Fase Emergencial de combate à pandemia. As políticas mais restritivas de circulação e atividades vigoram desde 15 de março.
Até esta data, o lockdown será mantido das 20h às 5h. Continuam proibidas as retiradas presenciais de produtos em restaurantes e lanchonetes, o atendimento em lojas de material de construção, celebrações religiosas coletivas e atividades esportivas em grupo.
Lojas e restaurantes podem funcionar em sistema drive-thru ou por delivery até as 20h. Atividades administrativas não essenciais do serviço público e da iniciativa privada devem ser realizadas por teletrabalho.
Ribeirão das Neves teve abre-fecha
Com 86 mortes a cada 100 mil habitantes, a cidade-dormitório Ribeirão das Neves se beneficiou das restrições impostas pelo prefeito de Belo Horizonte (MG), Alexandre Kalil (PSD). Afinal, a distância é de apenas 44 km, e o fluxo de trabalhadores caiu drasticamente durante o lockdown.
Assim como Petrolina, Ribeirão das Neves oscilou nas medidas de isolamento. Antes mesmo de confirmar o primeiro caso de covid, o prefeito Junynho Martins (PSC) decretou situação de emergência em saúde pública, suspendendo aulas e fechando parques e órgãos públicos para conter a disseminação do vírus em 18 de março de 2020.
O prefeito ainda pediu ao governador Romeu Zema (Novo) que tomasse medidas com relação ao funcionamento de bares e restaurantes, para evitar um colapso.
A oscilação começou em 21 de abril de 2020, quando a Prefeitura foi pressionada a reabrir comércio e igrejas. Em contrapartida, Belo Horizonte mantinha uma quarentena rígida por tempo indeterminado, o que evitou uma explosão de casos de covid.
Em 13 junho, as regras voltaram a endurecer. Academias, lojas de roupas, de calçados e artigos de festas foram proibidas de funcionar, em resposta a um boletim epidemiológico da secretaria estadual que registrou 166 casos e três mortes pela doença.
A reabertura parcial do comércio não essencial, incluindo bares e restaurantes, ocorreu no final de agosto.
Com um aumento gradativo dos casos até o início de 2021, Ribeirão das Neves aplicou novas medidas restritivas em janeiro. A Prefeitura seguiu à risca o Plano Minas Consciente, do governo estadual, fechando o comércio no dia 11 e mantendo apenas serviços essenciais.
O efeito foi imediato. No dia 19, o município foi incluído na fase amarela, considerada menos grave – comprovando o sucesso da política de isolamento.
A flexibilização logo fez disparar o número de infectados, a ponto de a cidade aderir à “onda lilás” sugerida pela Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Granbel) em 9 de março. Naquele dia, todos os leitos de UTI para covid estavam ocupados.
Com isso, Ribeirão das Neves passou a ter o toque de recolher no período das 20h às 5h. Além disso, houve a proibição de venda de bebidas alcoólicas para consumo no local, em bares, lanchonetes e restaurantes. Supermercados também foram impedidas de comercializar bebidas alcoólicas geladas. As empresas de ônibus estão orientadas a operar com 100% da frota, para evitar aglomerações.
Edição: Rebeca Cavalcante