Corte dos juros segue a conta-gotas no BC. Por Altamiro Borges.

Nesta semana, uma pesquisa da Quaest apontou que o “deus-mercado” já encerrou a sua fase de amores com o ministro Fernando Haddad. O seu índice de confiança despencou, como mais uma forma de pressão sobre os rumos da economia.

Arte: Renato Aroeira @arocartum

Por Altamiro Borges.

Nesta quarta-feira (20), em sua sexta reunião deste ano para definir a taxa básica de juros da economia, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu por um novo corte de 0,5 ponto percentual, baixando a Selic para 12,75%. A votação foi unânime. É a segunda redução dos juros desde agosto, quando o BC interrompeu o ciclo de arrocho monetário e baixou a Selic em 0,5 ponto, de 13,75% para 13,25% ao ano.

A decisão suaviza o aperto na economia, mas é insuficiente. A redução dos juros facilita o crédito no mercado e, por consequência, aumenta o consumo da sociedade e a produção das empresas. Com isso, a queda da Selic ajuda a gerar mais empregos e renda no país. Ela também reduz a dívida pública da União, permitindo maiores investimentos em programas sociais e no crescimento da economia. O presidente Lula tem pressionando o BC “autônomo”, sob comando do bolsonarista Roberto Campos Neto – o Bob Fields Neto –, desde a sua posse.

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A pressão dos abutres financeiros

Mas a resistência dos abutres financeiros é violenta. Nesta semana, uma pesquisa da Quaest apontou que o “deus-mercado” já encerrou a sua fase de amores com o ministro Fernando Haddad. O seu índice de confiança despencou, como mais uma forma de pressão sobre os rumos da economia. A sondagem com os executivos da “Faria Lima” mostrou que a aprovação do governo caiu de 20% em julho para 12% em setembro, ao mesmo tempo em que a avaliação positiva de Fernando Haddad, no mesmo período, desceu de 65% para 46%.

Agora, diante da decisão do BC “autônomo”, os rentistas respiram mais aliviados. “Copom agiu bem e afastou chance de cortes maiores, dizem analistas. Segundo agentes do mercado, Copom foi prudente ao baixar Selic em 0,5 ponto e deve manter esse ritmo de queda”, registra o site Metrópoles. Um dos entrevistados festeja: “O comunicado do Copom elimina essa possibilidade de qualquer queda de 0,75 ponto percentual. Ele ressalta que é necessário ter serenidade e moderação com o processo de flexibilização monetária, indicando que o comitê vai ser cauteloso em relação a esse ritmo de corte da taxa”, bravateia Ricardo Jorge, sócio da Quantzed, uma plataforma dos especuladores financeiros.

A pressão dos movimentos sociais

No extremo oposto, a decisão do Banco Central foi criticada por todos os que desejam destravar a economia com o objetivo de gerar mais emprego e renda. A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann, foi uma das que protestou. “O processo de redução da maior taxa de juros do planeta começou tarde e não pode ser feito a conta-gotas, como indica o comunicado do Copom desta quarta-feira. O Brasil perdeu tempo demais com uma política monetária errada, imposta por um governo irresponsável e um BC sem compromisso com o país. O Brasil tem pressa e precisa voltar urgentemente à normalidade”.

No mesmo rumo, o movimento dos trabalhadores – preocupado com a elevada taxa de desemprego e o brutal arrocho dos salários – também exigiu mais e maiores cortes da Selic. “Ontem, dia 20, os bancários realizaram manifestações em todo o país para cobrar a redução da Selic e vamos manter a pressão por juros menores. A alta da Selic beneficia apenas o setor financeiro. Com o crédito caro, a população aumenta seu endividamento, os financiamentos encarecem, a economia não avança e reduz a criação de empregos. Além disso, os juros altos também aumentam o custo de financiamento da dívida pública. Assim, quando as taxas caem, amplia-se o espaço fiscal para investimentos em políticas públicas, que a população brasileira tanto precisa”, registrou em nota o Sindicato dos Bancários de São Paulo.

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