O sepultamento de Dom Pedro Casaldáliga ocorreu na manhã desta quarta-feira (12), às 10h, no Cemitério Iny (Karajá) à beira do Rio Araguaia, em São Félix do Araguaia, no Mato Grosso, onde seu corpo está sendo velado desde às 18h, desta terça-feira (11).
Foi Casaldáliga quem pediu para ser enterrado no “Cemitério Karajá”, como é chamada na região a área onde eram sepultados indígenas e trabalhadores sem terra que foram explorados e, muitas vezes, assassinados pelos grileiros de terras da região.
Leia mais: Casaldàliga. O poeta não morre. O seu canto está na natureza e no seu povo.
A situação dos trabalhadores e indígenas da região, oriundos de diversas partes do país, sempre mobilizou Casaldáliga, pela extrema pobreza e a violência a que eram submetidos pelos grandes fazendeiros, durante a ditadura militar. Essa cadeia de eventos foi amplamente denunciada pelo religioso.
Saúde
Casaldáliga morreu no último sábado (8), em Batatais, interior de São Paulo, onde estava internado desde o dia 4 de agosto para cuidar de um derrame pulmonar. O religioso convivia com o mal de Parkinson, que contribuiu para o agravamento de seu estado de saúde.
Durante sua internação, foram feitos quatro exames para detectar a contaminação por covid-19, mas todos deram negativo. Com a saúde fragilizada, o religioso respirava por aparelhos e recebia alimentação por uma sonda.
Sua morte gerou profunda comoção e manifestação de diversas personalidades, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se manifestou nas redes sociais. “Nossa terra, nosso povo perde hoje um grande defensor e exemplo de vida generosa na luta por um mundo melhor, que nos fará muita falta.”
História
Nascido em uma aldeia nas imediações de Barcelona, na Espanha, em 1928, Dom Pedro Casaldáliga Plá é de família camponesa. Desembarcou no Brasil em 1968, em plena ditadura militar, e foi consagrado bispo em 1971, quando lançou a Carta Pastoral por Uma Igreja da Amazônia, em conflito com o latifúndio e a marginalização social. O texto ficou conhecido nacional e internacionalmente e marcou o perfil do missionário como porta-voz de índios e agricultores.
O bispo também foi um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que até hoje atua na defesa de indígenas, comunidades tradicionais e trabalhadores do campo.
Além de sua atuação junto aos pobres e em defesa da democracia, Casaldáliga também se destacou por suas poesias que abordam a urgência da reforma agrária e da luta contra o agronegócio.
Edição: Leandro Melito
—