Texto enviado pelo leitor Felipe Schultze.
Não é de hoje que o Brasil mete-se em discussões infrutíferas. Os problemas da nação são tratados como se estivéssemos em um boteco bebendo uma cerveja de má qualidade. Diante do show de horrores apresentado pelo coronavírus, a situação não foi diferente. Empresários servos de uma política econômica inventada nos anos 70 se posicionam contra o isolamento social. O discurso procede em termos já que o isolamento significa danos à economia. Em visão simplista, a questão está correta, porém, há mais o que ser considerado.
A servidão dos empresários amarrados a uma política econômica ultrapassada custa-lhes o bom senso. “Velhinhos vão morrer mesmo” pronunciou um empresário de cabelos brancos. É verdade que o isolamento social irá produzir danos à economia, bem como é verdade que todos estamos temorosos. Acreditem, fico ansioso e temoroso em relação a situação econômica do país. Os empresários irão sofrer e os trabalhadores irão sofrer. Mas o Brasil não está sem piloto. Apesar do desejo imprudente de certos empresários, o governo ainda existe. E o governo pode nos ajudar a sair desta discussão. A mão do Estado ainda dispõe recursos para auxiliar os mais vulneráveis. E quando falo vulneráveis, englobo: pequenas empresas e trabalhadores. Apesar do desejo dos empresários de classe média comparar-se às elites, hoje eles necessitam do governo. Ou seja, precisamos que o presidente nos ajude.
Se o presidente acordar de seu sono profundo podemos criar alternativas preventivas sem maiores danos. É necessário que o governo largue discussões inúteis, esqueça o canto da sereia de Olavo de Carvalho e gerencie um plano econômico que englobe os mais pobres, trabalhadores e empresários. Com a mão firme do estado auxiliando os diversos setores é possível que o presidente use o dinheiro do governo para conciliar os efeitos menos danosos à economia com a prevenção ao coronavírus. Mas o que fazer? A economista Mônica de Bolle dá as coordenadas: revogar o teto de gastos, retornar a ideia de renda básica, aumento da dívida pública para investir contra a pandemia, apoio financeiro direto aos pequenos empresários e criar tributos à grandes fortunas. Empresário de classe média, fique tranquilo, você não se enquadra na categoria de grandes fortunas. O pai da extrema direita atual, Donald Trump anunciou um pacote de dois trilhões de ajuda financeira.
Precisamos de líderes sérios, soluções pensadas e empresários coerentes para enfrentarmos este decisivo momento. Não é hora de papo de boteco irresponsável, os sacrifícios precisam ocorrer em todas as vertentes, inclusive sacrificar a ignorância do governo. Ajude-nos, senhor presidente.
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Felipe Schultze é escritor formado em Direito, acadêmico de História e pós-graduando em Direito Constitucional.