Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), a decisão do presidente Jair Bolsonaro de sediar a Copa América no Brasil é mais um “tiro no pé” que deve se voltar contra o seu próprio governo. Trata-se de uma tentativa de desviar a atenção dos mais de 460 mil brasileiros mortos pela pandemia. Ele compara à política de “pão e circo”. Contudo, diferentemente do Império Romano, a plateia assistiria ao espetáculo de barriga vazia.
“A diferença é que não temos pão. As pessoas estão famintas, miseráveis, pedindo comida nas ruas. O que ele oferece é o circo. Mas talvez o maior palhaço dessa história seja o próprio Bolsonaro”, disse Ramirez, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta terça-feira (1º).
Terceira onda
Contudo, o Brasil também está na iminência de uma terceira onda da pandemia, que pode ser inclusive precipitada pela realização dos jogos. Ainda assim, a Conmebol quer a final com público no estádio do Maracanã.
A decisão de sediar a Copa América foi mal recebida inclusive por parte da própria imprensa esportiva. Nas redes sociais, não faltaram críticas e memes ironizando esta opção . Além disso, os governos da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte já anunciaram que não vão permitir a realização de partidas em seus estados.
Fora da realidade
De acordo com o cientista político, a insatisfação popular deve acabar engrossando ainda mais as próximas manifestações contra Bolsonaro, correndo o risco de repetir o ocorrido na Colômbia. Ramirez também prevê impacto negativo para os patrocinadores do evento, que acabarão tendo suas marcas associadas à gestão “genocida” promovida por Bolsonaro. Ele cogita, até mesmo, que o torneio seja boicotado.
“A tendência é que a população se revolte. Não teremos consenso da torcida, o que pode dividir ainda mais o Brasil. E essa divisão não é entre esquerda e direita, mas entre civilização e barbárie”, afirmou. Por fim, Ramirez também denunciou o “silêncio” dos jogadores diante do momento crítico.