Copa América no Brasil: enquanto falta pão, Bolsonaro oferece o circo, diz analista

Para o cientista Político Paulo Niccoli Ramirez (Fesp-sp) a tendência é que a população brasileira se revolte contra decisão de sediar o torneio de futebol em meio ao agravamento da pandemia

Diante da repercussão negativa, governo Bolsonaro disse que ainda não bateu o martelo sobre a realização da Copa América no Brasil. Foto: Carolina Antunes/PR

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), a decisão do presidente Jair Bolsonaro de sediar a Copa América no Brasil é mais um “tiro no pé” que deve se voltar contra o seu próprio governo. Trata-se de uma tentativa de desviar a atenção dos mais de 460 mil brasileiros mortos pela pandemia. Ele compara à política de “pão e circo”. Contudo, diferentemente do Império Romano, a plateia assistiria ao espetáculo de barriga vazia.

“A diferença é que não temos pão. As pessoas estão famintas, miseráveis, pedindo comida nas ruas. O que ele oferece é o circo. Mas talvez o maior palhaço dessa história seja o próprio Bolsonaro”, disse Ramirez, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta terça-feira (1º).

Inicialmente, a sede seria na Colômbia e, depois, na Argentina. No primeiro país, houve diversos protestos contra o presidente Iván Duque em relação à tentativa de implementação de reformas neoliberais que aumentariam impostos cobrados dos mais pobres. Em seguida, o governo argentino também desistiu de realizar o torneio por conta do avanço da covid-19 no país.

Terceira onda

Contudo, o Brasil também está na iminência de uma terceira onda da pandemia, que pode ser inclusive precipitada pela realização dos jogos. Ainda assim, a Conmebol quer a final com público no estádio do Maracanã.

“Talvez cheguemos à marca de 500 mil mortos em meio à competição, que começou a ser chamada ‘Copa Cloroquina’”, criticou Ramirez.

A decisão de sediar a Copa América foi mal recebida inclusive por parte da própria imprensa esportiva. Nas redes sociais, não faltaram críticas e memes ironizando esta opção . Além disso, os governos da Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte já anunciaram que não vão permitir a realização de partidas em seus estados.

Fora da realidade

De acordo com o cientista político, a insatisfação popular deve acabar engrossando ainda mais as próximas manifestações contra Bolsonaro, correndo o risco de repetir o ocorrido na Colômbia. Ramirez também prevê impacto negativo para os patrocinadores do evento, que acabarão tendo suas marcas associadas à gestão “genocida” promovida por Bolsonaro. Ele cogita, até mesmo, que o torneio seja boicotado.

“A tendência é que a população se revolte. Não teremos consenso da torcida, o que pode dividir ainda mais o Brasil. E essa divisão não é entre esquerda e direita, mas entre civilização e barbárie”, afirmou. Por fim, Ramirez também denunciou o “silêncio” dos jogadores diante do momento crítico.

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