Contra o Marçalismo? Uma saída. Mais Política. Por Flávio Carvalho.

Por Flávio Carvalho.

Não é só problema nosso. Moro na Espanha. Veja esse exemplo, daqui.

Uma criança de 11 anos assassinada a facadas após um joguinho de futebol. Nazifascistas (porque chamar docemente de extrema-direita? Que mais precisamos para categorizar bem, como, faz anos, já devia ter sido?)… repito, Nazifascistas, elegeram mais um deputado espanhol ao Parlamento Europeu. Sua única base eleitoral: Fake News. O que ele fez? Associou a morte do menor, aquele, em meio à comoção nacional espanhola, à migração. Lembram-se das ruas de Londres, dias atrás?

O assassino assumido é um jovem espanhol com problemas mentais. O tio do menino morto virou alvo dos fascistas, por ter pedido para pararem com isso. Foi ameaçado de morte. Jornais de verão, quando a Europa fecha de férias (quem pode dar-se ao luxo), acharam como vender mais.

Georges Lakoff ficou famoso com a expressão “Não fale do elefante”. Ao lançar essa frase, já botou o bicho nas nossas cabeças. E agora? Como tirar ele daí?

Opino. Precisamos evitar, na esquerda, dois antiquíssimos mitos políticos.

Evitar dar margem para manchetes de oligarquias da mídia não significa pautar, jamais, nossa ação política, por medo (sim, medo) do que poderia vir dali. Quem tem ilusão com isso que as guarde pra si. Sim.

Qual seria então nossa proposta de pauta alternativa? Rebaixar o nível? Não. Subir pra Política.

O que você entende por Política, com P Maiúsculo? Pra mim, Política é vida. Cotidiano. Dia-a-dia.

Vens me dizer que O Povo (tá falando de quem, cara-pálida? A que Povo esse, você se refere?), “nosso Povo” prefere manchete ruim?

Botou comida boa na mesa e já viu o seu sorriso na cara, que antes era de fome? Puniu polícia assassina? Clínica pública pra menina pobre, aquela que ou aborta ou morre? Trocou o cachê da Popstar por centenas de artistas de periferia fazendo show grátis na esquina?

O segundo mito desse texto é mais velho que a Igreja da Sé, em Olinda. Maquiavel passou séculos sendo mal interpretado por isso: os fins justificam os meios? Não responda rápido. Reflita, por favor.

Se a Mentira é alimento à direita, à esquerda eu não costumo ter medo. Mas de uma coisa, sim. Sabe qual? Da danada da hipocrisia. Aquela mentira sorrateiramente eficiente. A que a gente esconde da gente mesmo. Muito cuidado com essa. Ontem mesmo eu a peguei em mim.

Sabe Feminicídio? O tempo está provando que a gente só agora está descobrindo que não é só monstro que assassina. Pra conter esse monstro solto, aí fora, eu preciso conter esse monstro em mim. E, lamento, mas eu tenho até que acreditar que ele pode estar bem escondidinho aí, dentro de ti. Tranquilo. Por incrível que pareça, essa desconfiançazinha, de boas, pode nos servir. Aí, sim, pode até suprir aquela carência de um mundo mais feliz.

Sigam-me.

Presidente de esquerda lucra politicamente cedendo ao Deus Mercado, sabia? É fato. Siga-me, ainda.

Aumenta a receita pra ter mais dinheiro pra despesa. Pra gastar até com os mais pobres, sim. Isso lhe dá lucro político. Votos: leia-se. Freia aquilo que a maioria insiste em chamar docemente de Extrema-Esquerda. Leia-se Fascista, mesmo. Ou Nazi. Pior. Tá com medo? De Quê?

Mas, e então? Quem lá vai: Dar O Toque pro Presidente? Quem tem coragem, sem bajulação (que ele mesmo disse várias vezes que nem gosta), que, nesse ritmo, Presi, com todo o respeito (patrimônio de esquerda, antifascista, não esqueça, o Respeito), nesse ritmo, querido, salvaremos até um milhão. Quem disse que não? Quem não quer salvar tanta gente?

Porém, atenção. Eu falei de Ritmo.

Nesse ritmo, se você já almoçou, jantou, pensou nas próximas férias, vontade de ir ao cinema, pipoca cara da pôrra, salvar-se-á um milhão. Oxalá seja trinta. Mas quantas Gazas brasileiras ainda morrerão, podendo ser salvas? De fome. De raiva. Sim, raiva mata. De bala “achada”. De morte matada. De tanto filho, “sem pai”, querendo um copo de leite, num país com tanta vaca.

Quanto vale o sacrifício, quando não é seu? Quem vai lá olhar na cara daquela mãe e pedir pra ela esperar um pouco mais? Delfim Neto?

Chama-se Privilégio. É disso que estamos falando. Ou então, senão, deveria.

Aquele abraço.

@1flaviocarvalho.

@amaconaima.

Sociólogo. Escritor. Professor. Barcelona, 21 de agosto de 2024.

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

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