Conteúdos golpistas nas redes dispararam a partir de junho de 2022 e mantêm patamar alto

De notícia falsa a notícia falsa, se criam bombas que hora ou outra explodem

Por Bianca Bortolon, Bruno Fávero e Luiz Fernando Menezes, Aos Fatos.

O volume de conteúdos com falsas alegações de fraude nas eleições, pedidos por intervenções militares golpistas e ataques a instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), disparou nas redes sociais a partir de junho de 2022, meses antes do início oficial da campanha eleitoral.

É o que revela análise exclusiva do Radar Aos Fatos com dados reunidos entre março de 2021 e janeiro de 2023, quando manifestantes golpistas depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

ferramenta, que coleta e avalia automaticamente milhares de posts por dia em seis plataformas, registrou aumento significativo em conteúdo antidemocrático no WhatsApp, no Twitter, no Facebook, no YouTube e em sites monitorados.

  • De junho de 2022 a janeiro de 2023, o Radar Aos Fatos detectou mais de 991 mil mensagens de Twitter no tema “ataques à democracia”;
  • O número é 1.278% maior do que o do mesmo período um ano antes (72 mil);
  • As outras plataformas tiveram aumentos menores, mas também expressivos: 281% no WhatsApp, 181% em sites hiperpartidários, 115% no YouTube e 71% no Facebook;
  • Mesmo após a eleição, o volume de publicações coletadas permanece elevado;
  • O levantamento foi realizado a pedido do jornal The Washington Post, que publicou no sábado (21) uma reportagem sobre desinformação eleitoral no Brasil.
Urnas. Mesmo confrontados com checagens, usuários questionavam a segurança das urnas eletrônicas e afirmavam que houve fraude nas eleições de 2022 (Reprodução/Twitter)

Golpismo. A análise qualitativa de uma amostra aleatória de 400 mensagens publicadas no Twitter e no WhatsApp no período de alto engajamento (jun.2022–jan.2023) sugere que o aumento súbito não está associado a nenhum evento específico e sim à proximidade com o processo eleitoral de 2022.

  • Da amostra analisada, 35% do conteúdo contêm algum tipo de desinformação objetiva. A mais comum é que de que as eleições foram fraudadas, seguida de tentativas de associar Lula (PT) ao crime organizado;
  • Uma parcela de 9,5% não contém desinformação checável, mas é abertamente golpista — pede intervenção militar ou convoca outros usuários para atos antidemocráticos;
  • A imprensa também foi alvo preferencial: ataques a veículos de mídia e jornalistas apareceram em 23% das mensagens. Esse grupo aponta uma suposta perseguição a Bolsonaro, favorecimento a Lula e a manipulação de pesquisas de opinião;
  • Já ataques a instituições democráticas e seus representantes, como o STF (Supremo Tribunal Federal), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o Congresso, estavam presentes em 7% do conteúdo analisado;
  • Por fim, outras mensagens coletadas consistem em ataques e xingamentos a políticos e partidos de esquerda, especialmente o presidente Lula e o PT. Em escala significativamente menor, também há conteúdo hostil a Bolsonaro e seus aliados.
Antipetismo. Montagens emulam sites de notícias para atacar o presidente Lula e a esquerda (Reprodução/Facebook)

Outro lado. Em nota enviada ao Aos Fatos, o WhatsApp disse que coopera com as autoridades para proteger a integridade do processo eleitoral e que “é importante que comportamentos inapropriados, além de conteúdos ofensivos e possivelmente ilegais, sejam denunciados às autoridades competentes”.

O Youtube afirmou que encerrou mais de 2.500 canais e removeram mais de 10 mil vídeos relacionados ao tema. A assessoria afirma ainda que a rede social destacou conteúdo de fontes autorizadas e expandiu sua política de integridade eleitoral para “proibir conteúdo que alega que os resultados das eleições presidenciais do Brasil foi roubada ou fraudada”.

Aos Fatos também entrou em contato com as assessorias de imprensa do Facebook e do Twitter. Este texto será atualizado caso haja resposta.

Metodologia. Os dados foram coletados por meio da ferramenta automatizada Radar Aos Fatos, que usa um algoritmo para estimar a probabilidade de publicações de certos temas serem de “baixa qualidade”.

No caso do tema “ataques à democracia”, esse conceito abarca desinformação sobre o processo democrático, mensagens de cunho antidemocrático (pedidos de intervenção do Exército, por exemplo), além de ataques (ameaças ou xingamentos) a personalidades e instituições da imprensa e da política.

A metodologia detalhada usada pelo Radar Aos Fatos pode ser acessada aqui.

Veja abaixo mais exemplos de publicações encontradas:


Artigo 142. Publicação em grupo no Facebook repete mentira de que fraudes foram comprovadas (Reprodução/Facebook)


Plano. Mensagem no WhatsApp alega que perseguição religiosa, descriminalização das drogas e “sexualização das crianças” estariam entre as propostas de um novo governo Lula


Pesquisas. Publicações questionam segurança na contagem de votos (Reprodução/Youtube)


STF. Imagem que circulou no WhatsApp usa desinformação sobre urnas para criticar Barroso


Apoio ao golpe. Mensagem no Twitter pedem que Exército impeça Lula de assumir Presidência


Militares e urnas. Tuíte faz apelo a militares e ironiza segurança das urnas eletrônicas

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