Contestado: um crime de guerra imprescritível, destaca palestra vista por fraiburguenses

Integrantes de coletivos da Apafec (Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular de Fraiburgo) e da Associação Vital Fraiburgo de Karatê-dô / Projeto Karatê-dô Cidadão do Futuro acompanharam na noite de segunda-feira (29 de maio) uma palestra de Nilson César Fraga, professor e renomado pesquisador da Guerra do Contestado.

Na ocasião, o palestrante discorreu sobre o “Contestado, a arqueogeografia na terra da guerra esquecida: fragmentos de um crime contra a humanidade”, em que apresentou a Guerra do Contestado como uma imagem bastante presente na realidade social da Região Metropolitana do Contestado.

Em um período aproximado de duas horas, Nilson defendeu uma tese, segundo a qual as atrocidades cometidas pelo Estado brasileiro no Contestado são crimes de guerra, segundo o Acordo de Genebra de 1949, que o Brasil é signatário. Estes crimes não prescreveram, portanto os lutadores do povo brasileiro e continuadores da luta dos caboclos e caboclas têm que promover lutas para forçar o julgamento desses crimes de guerra, como uma das formas do estado brasileiro começar a pagar a dívida histórica com os remanescentes dos caboclos e caboclas.

O pesquisador tratou de desmistificar algumas imagens que muitos fazem da Guerra do Contestado, reproduzidas geralmente desde o ensino médio. Um pouco do que percebeu a integrante da Apafec, Mariza Aparecida Fidélis Ribeiro Rodrigues, ao destacar a lembrança das histórias contadas nas escolas, “onde são contadas versões muito diferentes daquelas que aconteceram”.

“Fiquei muito emocionada”, disse Mariza sobre outra passagem da fala do professor, “e com aquela impressão que eu estava vivendo e sentido o que eles [os caboclos] sentiram [antes de serem mortos pelas forças oficiais e pelos jagunços contratados para exterminar um povo]”.

Uma história que para Mariza, nascida em Fraiburgo, no caso, uma espécie de localidade do epicentro do conflito histórico pode reconhecer. “Ouvi algumas vezes minha vó contar e o quanto ela sofria em falar isso que ela falava muito pouco, o que a palestra me fez pensar”, disse.

A palestra

O que se pode ver da palestra foi, no mínimo, uma crítica contundente sobre o passado que tende e expor um presente que, por questões ideológicas e de relações de poder reproduzidas por motivos políticos e econômicos vendem a ideia da região do Contestado como uma terra marcada de colonizadores e que muitos dos hábitos e costumes da região teriam sido importados da Europa.

Nilson lembrou que as figuras do porco, do pinhão e do mate são heranças indígenas. “Muitas vezes, as pessoas se esquecem disso ou desconhecem”, disse o pesquisador, que passou boa parte da palestra ironizando a própria condição de filho de imigrante alemão nascido em Joinville.

Videira, por exemplo, local da palestra, foi alvo recorrente de um elegante e crítico ponto de vista. Videira, um considerado símbolo de decadência econômica, como, segundo ele, pode ser as demais cidades localizadas na região. “Aqui, estão os índices mais baixos de desenvolvimento humano do estado de Santa Catarina”, disse.

“Há cinquenta anos, Videira não consegue passar dos cinquenta mil habitantes. Por quê?”. A forma como os nativos de hoje ou as pessoas tratam a história da região é apontado como um xis da questão. “Não podemos deixar de reconhecer a história, a nossa identidade é cabocla”, disse.

O palestrante defendeu as raízes históricas do Contestado, o reconhecimento da importância da cultura cabocla, mescla de indígena com negro, e defendeu que a Guerra do Contestado, citando uma Convenção de Genebra, deve ser tratada como um crime de guerra. “O que aconteceu foi um extermínio de um povo”, disse.

De um lado, a força do Estado brasileiro e, de outro, a resistência da figura cabocla. “Não há futuro se não aceitarmos e entendermos a terra onde pisamos”, enfatizou o pesquisador ao fim da palestra, oportunidade em que questionou diretamente a chamada versão oficial história: “Derrotados, não! Heróis de uma luta desigual!”, em uma referência à resistência impressa no conflito.

Os vilões nesta história são, segundo o palestrante, o Estado brasileiro e o capital estrangeiro invasor simbolizado pela Brazil Railway Company e sua coligada Lamber, as quais têm uma dívida histórica por terem matado milhares de pessoas e por ter passado por cima de uma cultura rica, de uma civilização.

Organização

O evento foi realizado no auditório do Instituto Federal Catarinense – IFC de Videira, em uma promoção do Núcleo de Estudos do Contestado (NEC).

Ativistas de Fraiburgo

Acompanharam o evento, representando a Apafec (Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular de Fraiburgo) e a Associação Vital Fraiburgo de Karatê-dô / Projeto Karatê-dô Cidadão do Futuro: Maicon Sbardela (Karatê-dô); Jilson Carlos Souza (Apafec); Jocemir Belusso  (Apafec); João Carlos Rodrigues (Apafec); Karine França; (Karatê-dô); Mariza Aparecida Fidelis Ribeiro Rodrigues (Apafec).

A convite

Renato Renato (Jornal Caboclo).

O auditório do IFC Videira (Fotos: Jornal Caboclo)

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Fonte: Jornal Caboclo.

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