Construir o furacão

greve-geral-raulPor Raul Fitipaldi, para Desacato.info. 

Um dia qualquer, para que acabe a impunidade dos poderosos, dos escultores das crises, há que ocupar as ruas, os parques, as praças, os teclados, os telefones, os gritos e os abraços. Esse dia qualquer tem que chegar logo porque a Terra não resiste, porque o genocídio se multiplica em marés de sangue. A necessidade de recuperar as utopias perdidas e ampliá-las, atualizá-las, para que siga caminhando o horizonte, é urgente.

Talvez, e não quero generalizar, na poltrona de um gabinete, na altitude de um avião a caminho de Brasília, não se sinta nem se veja o que acontece nos brasis profundos. Em menos de um ano o que era pobre virou miserável, o miserável, extinto.

Talvez, e não quero generalizar, pode ser que o contracheque, mesmo que mais fraco, siga chegando e a possibilidade de ser terceirizado nem para todos seja um fim fatal. Acontece que nessa esteira de ovos e serpentes, o veneno já deixou na rua mais de 12 milhões de pobres. Alguns transpuseram a fronteira da miséria e nos olham do além, se existir algo além desta nossa Terra ferida e violada.

Talvez, e não quero generalizar, algum dirigente progre, desavisado, não percebeu que o que se move abaixo dele não é cimento; respira, levanta os braços e exige ouvidos. Quem sabe o afastamento excessivo do chão da fábrica, da estrada cortada, da conversa aberta e franca o fez pensar que governo era poder e que a democracia representativa podia o que seus sonhos já não podem.

Talvez, e não quero generalizar, de tanto e tanto negociar, de tanto conciliar, os candidatos a nos representar esqueceram que à mesa se sentou o inimigo, aquele que uma vez mandou prendê-los e agora nos prende a todos. Esse inimigo atroz, insaciável, esse terrorista consumado, esse capitalista impiedoso, violento e ignorante, essa viga podre que tranca a roda da civilização, o lacaio dos impérios, o comisionista da morte. Com esse criminoso não se negocia.

Talvez, e agora sim quero generalizar, chegou a hora de debandar as asas e voar sobre os donos de tudo. Com paz se possível, com força se necessário, com ódio se urgente, para que não desagreguem mais, não interrompam mais nossa rota até a Liberdade. É possível que haja que caminhar todos os dias e se abraçar todas as noites. Provavelmente seja imprescindível e inevitável sermos tolerantes, unir todas e todos, arrebentar as “correntes” que nos dividem, colar os “partidos” e fazer de todos os pedaços e suas siglas uma Luta Nova que é a velha, porque se tem classes tem guerra.

Por enquanto, no horizonte curto e nublado tem uma Greve Geral para o dia 28. Tudo bem, greve na sexta não é tão greve assim, mas, é o que há e não vamos desprezá-la. Vamos abraçá-la, vamos fazer amor com ela para que nasçam todas as greves necessárias. Que essa ventania fétida que arrefece sobre nós vire contra eles num furacão de punhos e mãos e rostos e lágrimas e gritos e beijos e abraços; amor de trabalhadoras e trabalhadores para derrotar a delinqüência que pretende nos governar. É Greve!

 

Imagem: Abraço coletivo. Marcos Carrasco.

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