O Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco concedeu hoje a Lia de Itamaracá o título de Doutora Honoris Causa.
É o primeiro título dessa natureza concedido a uma artista em 70 anos da Universidade.
Lia nasceu na Ilha de Itamaracá, Pernambuco, em 12 de janeiro de 1944. Negra, filha de empregada doméstica e de um pequeno agricultor, aos doze anos de idade já cantava suas cirandas nas festas locais para depois se tornar embaixadora da cultura pernambucana e brasileira.
Os versos de Lia fazem parte do patrimônio imaterial da coletividade: “Esta ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá”.
Coincidência ou não, a palavra “Itamaracá” vem do tupi e significa “pedra que canta”: Lia de Itamaracá é “Lia da Pedra que Canta”, referência que se ajusta com perfeição às pancadas das ondas do mar, que marcam o ritmo da sua ciranda.
A ciranda é uma dança essencialmente democrática e, por assim dizer, acolhedora. Diferente de outras, como o frevo e o baião, na ciranda não se pode dançar sozinho, nem dançar a dois: a ciranda é necessariamente coletiva. Também não se pode dançar “solto”: na ciranda é preciso se darem as mãos, uns aos outros, sem protagonismos nem superioridades. Todos vão e vêm, de mãos dadas, no mesmo passo, no mesmo ritmo.
Cantora, compositora, cirandeira, brincante.
Agora Lia é também Doutora Honoris Causa pela UFPE.
Em tempos de agressão às Universidades públicas e à cultura, as duas se dão as mãos nesse título, exatamente como numa ciranda.