Por Paula Guimarães e Fernanda Pessoa.
Depois de dois dias de discussão, o 3 Congresso dos Trabalhadores da Eletrosul, realizado no hotel Cambirela, em Florianópolis, terminou na tarde de hoje. Antes da abertura da mesa “O impacto da gestão de Eletrosul para os empregados e para a empresa, o economista Daniel Passos apresentou a pesquisa realizada, por meio virtual, com 238 trabalhadores da Eletrosul – maior parte de Santa Catarina – que avalia em termos gerais as condições de trabalho, a perspectiva profissional e a atuação da diretoria. O resultado da averiguação serviu de base para as palestras de Sérgio Vieira da Fonseca, representante da Intersindical dos Eletricitários do Sul do Brasil (Intersul), e Ronaldo Custódio, diretor de engenharia da Eletrosul.
Dayson Waldschmidt, coordenador da mesa e representante da Intersul, abriu a discussão lembrando que o levantamento adianta o panorama da percepção dos empregados e que neste segundo dia de encontro, busca-se passar dos desafios (tratados no primeiro dia) para a realidade local, mais tangível aos trabalhadores. “A Eletrosul vive uma situação peculiar, distintiva das demais empresas. Os últimos anos foram de crescimento, porém de massa salarial perdida. A vitória no último leilão não foi comemorada com festa, mas com preocupação. Tivemos uma piora no clima e satisfação no trabalho. O que está certo e errado no ponto de vista das perspectivas envolvidas?”, propõe aos palestrantes.
Os números: empreendimento em andamento e novos projetos
O diretor da Eletrosul apresentou números positivos da estatal, previsão de investimentos e de receita, projetos de novas usinas e os empreendimentos em implantação – principalmente geração de energias renováveis, como solar, PCH’s e eólica. Entre os empreendimentos de geração própria estão a PCH Santo Cristo, Complexo Eólico Cerro Chato e o Complexo Eólico Geribatu. Em relação à compra de energia, o diretor justificou que esta ocorreu por dois motivos: obrigatoriedade do leilão de Mauá e atraso na construção das usinas.
As pessoas e falta de perspectivas profissionais
Representando a categoria, Sérgio apresentou os anseios dos trabalhadores frente às dificuldades apontadas pela pesquisa. Assinalou que o desempenho financeiro se consolida, em contrapartida, a pesquisa aponta para vários problemas na empresa. Com relação à satisfação em trabalhar na empresa, mais de 60% responderam “sim”. Um grau de satisfação elevado, porém, apresenta redução em relação aos levantamentos anteriores.
“Um indicador importante que precisa ser revertido. O trabalhador sempre vestiu a camisa, com um nível de comprometimento elevado. Para superar desafios com a expansão prevista, terá que se comprometer ainda mais”, afirma o representante do Intersul.
Vieira citou que metade dos entrevistados não tem boas expectativas para o futuro, mesmo que os números financeiros e operacionais sejam favoráveis. “O que está ocorrendo com os trabalhadores? Os números são robustos, mas na data base, os representantes da empresa destacam as dificuldades para não ceder às reivindicações da categoria”, afirma.
Opinião não é levada em consideração
De acordo com a pesquisa, a maioria dos trabalhadores afirmou que tem oportunidade de se expressar, entretanto, acredita que sua opinião não é levada em consideração pela empresa. Dados que, segundo o palestrante, sinalizam descrédito na capacidade de dar encaminhamento às manifestações. “O diretor-presidente propôs o diálogo em sua fala, ontem, mas isso envolve entendimento recíproco. Se não ouve, cadê o diálogo?”, questiona.
O número insuficiente de trabalhadores também foi evidenciado na pesquisa pela maioria dos entrevistados. Mesmo com a expansão da empresa, houve queda de 20% no quadro funcional. “Como os trabalhadores poderão sustentar a expansão prevista? E se nada for feito, a situação ficará ainda mais crítica em curto prazo”, crítica.
Quase metade dos entrevistados afirmou que a terceirização aumentou e a considerou desnecessária. A situação dos anistiados foi novamente colocada em questão, no sentido de dar oportunidade àqueles que desejam voltar. Outro dado apontado é que a motivação dos trabalhadores está no benefício e estabilidade. “A empresa precisa de trabalhadores comprometidos para superar os desafios. O dado demonstra que a Eletrosul está se tornando uma empresa em que não se tem carreira, apenas um trabalho. Isso é degradante”, destaca.
Desvalorização dos trabalhadores
O levantamento apontou ainda aumento do nível de estresse e acidentes de trabalhos. Conforme o trabalhador, a situação é consequência do aumento de horas extras, falta de perspectiva para concurso, acúmulo de funções, perda de qualidade técnica e obras feitas às pressas por interesses econômicos (com grandes riscos ambientais).
Para ele, a origem dos problemas começou nos governos dos anos 90 e se intensificou em 2002, quando o nível de insatisfação era tão grande, que os próprios trabalhadores “equivocadamente” torciam pela privatização. “Em 2003 com a mudança de governo, houve melhoria nas condições trabalho e abertura de diálogo. Mesmo sob negociações tensas e demoradas, sindicatos, empresas e todos os diretores sentavam à mesa com transparência. Os trabalhadores não levavam o que queriam, mas saiam satisfeitos. Chegamos a um pico de satisfação tanto que a Eletrosul ganhou o prêmio nacional de melhor empresa para se trabalhar”, analisa.
Em sua opinião, o governo atual iniciou um esvaziamento da negociação específica, com preponderância da nacional e retração para reuniões fechadas, menosprezando a reivindicação dos trabalhadores. “Existe uma aparente submissão à Eletrobras. Problemas não são resolvidos por falta de vontade política, como a flexibilização do horário”, acredita.
Conflito “homem-máquina”
Entre os pontos abordados no debate estão a situação dos anistiados, previsão de concursos públicos e falta de reposição de profissionais mesmo diante dos números financeiros positivos.
José Mendes de Sousa, representante do Sindicato Nacional da Indústria e da Energia (Sindel) fez a plenária refletir sobre o conflito “homem-máquina” na metáfora “Robocop” para definir a distância entre as realidades apresentadas pelos trabalhadores e diretor. “Com a falta de funcionários, alguém sempre tem que assumir mais, fica com a obrigação moral de ajudar o companheiro, mas não vê empresa tentando resolver questão administrativa que envolve a deficiência. Qual a missão da empresa? Gerar bem-estar para a sociedade brasileira. Mas, não pode ser em cima da falta de qualidade de vida dos trabalhadores”, opina.
O representante da Eletrosul respondeu que o retorno dos anistiados – muitos levados à demissão incentivada na época dos governos Collor e FHC – é decisão de governo e não da empresa. “Eles só voltam ao serviço público quando não tem uma área destino. Não podemos receber esses empregados”, enfatizou.
Sobre a necessidade de concurso público, o palestrante afirmou que ainda não há respostas, porém que a avaliação já foi iniciada devido à demanda de pessoal gerada com o conjunto de obras que iniciam em 2015. “São dois momentos: dar estrutura para gerenciar instalações e para manter. Não vemos caminho se não continuar crescendo. O debate sobre recursos humanos é legítimo, mas vem depois do resultado que é ter futuro para a empresa. A prioridade é terminar o trabalho”, explica.
O diretor respondeu ainda sobre a metáfora Robocop: “máquina somos nós, a Eletrosul é formada por nós. Existe a necessidade de se adaptar aos desafios e administrar as restrições que toda estatal tem”, finaliza.
O representante da Intersul explicou que as tratativas para o retorno dos anistiados foram conduzidas por várias entidades ligadas à Plataforma Operária e Camponesa. “Tentamos construir, mas não há ressonância por parte do governo”, afirma.
Quanto à necessidade de concurso público, afirma que é urgente aumentar o quadro de trabalhadores. “Esperamos que se efetive o mais breve possível”, afirma.
“Não sois máquinas, homem é que sois”. Sobre o conflito “homem-máquina”, o trabalhador Sérgio Vieira da Intersul, citou Charles Chaplin para fazer sua defesa pelo lado humano, na união da capacidade financeira com força de trabalho.
O encontro seguiu com a divisão dos presentes em dois grupos de trabalho. A ideia dos grupos é discutir o conteúdo abordado ao longo dos debates e sinalizar orientações para empresas e sindicatos. “A discussão é sobre a gestão em sua totalidade, frente ao setor, regulação, investimento, estrutura, relação de trabalho e política”, explicou.
Propostas
Algumas propostas surgiram como prioritárias nos dois grupos de trabalhos. Os trabalhadores exigem concurso público urgente para todos os cargos, respeito e cuidado aos reintegrados com o aproveitamento nas áreas das empresas, melhoria no Sistema de Gestão do Desempenho (diminuir a subjetividade e aumentar o feedback).
Além desses pontos, eles também dizem não à terceirização e querem o fim da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético (SPE). Também foi eleito como prioridade, o plano gerencial de carreira, a não admissão de aposentados com altos salários. Sobre a gestão da empresa, pede-se mais transparência, a exposição da gestão em relação aos trabalhadores, a ampliação dos canais de comunicação e o planejamento participativo.
Boa noite, achei de grande valia estes congressos, sou um dos Anistiados, que foi assunto deste encontro, e saiu minha ata de retorno em 27/11/2014, e também acredito que a empresa esta perdendo pessoas que ainda tem um potencial de trabalho para mais alguns anos, com baterias recarregadas e que podem contribuir em muito nessa empresa…