Condenados na Argentina responsáveis por crimes contra a humanidade

Após mais de três anos de audiências, terminou, esta quarta-feira, o chamado Mega-Processo do Campo de Maio, com a condenação de 19 envolvidos em crimes perpetrados na ditadura militar (1976-1983).

Imagem: Carolina Camps / Página 12

Ao longo de três anos e três meses, o julgamento que teve início a 29 de Abril de 2019 permitiu conhecer múltiplos detalhes dos horrores cometidos num dos maiores centros clandestinos de detenção, tortura e morte que funcionaram no período da ditadura militar na Argentina.

Ao todo, foram ouvidas 327 testemunhas, foram contabilizadas 350 vítimas e foram julgados 22 réus, de que ficaram 19 no final do processo (dois morreram de causas naturais e um foi apartado da causa por doença irreversível), que foram acusados dos crimes de torturas, sequestros e homicídios, bem como de assaltos, roubos agravados e abuso sexual agravado.

A declaração do veredicto do Tribunal Oral Criminal Federal n.° 1 de San Martín (Buenos Aires), adoptado por unanimidade, começou com a leitura dos nomes de todas as vítimas. Na decisão judicial, os juízes sublinham que se trata de crimes contra a humanidade e, como tal, imprescritíveis.

Dez dos 19 acusados foram condenados a pena perpétua, incluindo Santiago Omar Riveros, ex-comandante do Comando de Institutos Militares, que já foi condenado a outras 16 penas perpétuas. Os restantes nove réus foram condenados a penas de prisão que oscilam entre os 22 e os quatro anos, refere o diário Página 12.

No Campo de Maio, o nível de sobrevivência era inferior a 1%

Os crimes julgados foram cometidos na Zona de Defesa IV, a cargo do Comando de Institutos Militares do Campo de Maio, durante a ditadura militar na argentina (1976-1983). A procuradora Gabriela Sosti estima que tenham passado pelo Campo de Maio mais de 6000 pessoas – muitas delas dirigentes e activistas sindicais, bem como militantes de organizações de esquerda – e que o nível de sobrevivência tenha sido inferior a 1%.

Sosti destacou o modo como a repressão se centrou nas «empresas siderúrgicas que nesse momento marcavam o perfil argentino» e onde existia «uma classe operária muito consciente e militante».

Pela boca de um dos acusados – disse –, pôde-se saber «que altas patentes militares se juntavam com empresários da zona norte, ou seja, a pouca distância de onde eram torturados os seus trabalhadores, os responsáveis dessas fábricas encontravam-se com os quadros militares».

Entre os cidadãos sequestrados que foram para ali levados, contam-se 14 mulheres grávidas e nove pais de crianças roubadas, referiu a organização Avós da Praça de Maio, que continua à procura de dez crianças, cuja identidade foi alterada.

 

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