O suplente de deputado Nelson Nahim (PSD-RJ) tomou posse na Câmara, nessa quarta-feira (4), três meses após ter sido solto graças a uma liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF). Condenado em primeira instância a 12 anos de prisão por estupro de vulnerável, coação no curso do processo e exploração sexual de adolescentes, Nahim passou quatro meses na prisão, cumprindo pena determinada pela juíza Daniela Barbosa Assunpção, da terceira Vara Criminal de Campos dos Goytacazes (RJ). Antes dela, outros 17 magistrados se declararam impedidos de julgar o caso, que envolvia empresários e autoridades do município.
Irmão do ex-deputado e ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ), de quem é rival político, Nahim assumiu a vaga do deputado Índio da Costa (PSD-RJ), que se licenciou para comandar a Secretaria Municipal de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, na gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB), no Rio.
O caso que levou à condenação de Nahim ficou conhecido como “Meninas de Guarus”, referência a uma localidade de mesmo nome em Campos, onde garotas pobres eram mantidas encarceradas e submetidas a exploração sexual.
Além do agora deputado, outras 13 pessoas, entre ex-vereadores e empresários, foram condenadas por participação no esquema. De acordo com o Ministério Público, 15 meninas foram mantidas em cárcere privado, entre 2008 e 2009, e só deixavam o local para fazer programas sexuais. Em troca, recebiam parte do valor pago pelo cliente, comida e drogas.
Conforme o processo, as vítimas ficavam em um ambiente fechado, presas a correntes e cadeados, sob permanente vigília armada. Além disso, reforça a acusação, as crianças e as adolescentes eram obrigadas a consumir drogas como cocaína, haxixe, crack, maconha e ecstasy antes dos programas. Segundo a acusação, crianças e adolescentes de 8 a 17 anos tinham de fazer até 30 programas por dia.
Ex-presidente da Câmara de Campos, o ex-vereador chegou a ser prefeito interino do município durante o período em que a então prefeita Rosinha Garotinho, sua cunhada, esteve afastada do cargo pela Justiça eleitoral.
Preso em junho, assim como os demais condenados no caso, Nahim só deixou a prisão no final de outubro, após conseguir uma liminar em seu habeas corpus (HC 137697) no Supremo Tribunal Federal. Lewandowski garantiu a ele liberdade até que seu recurso seja examinado no mérito. Nahim apelou ao Supremo depois que o desembargador Antonio José de Carvalho negou o seu pedido de soltura por considerar que a prisão do político e de outros acusados era primordial à segurança de partes envolvidas no processo. Com o foro privilegiado garantido a deputados, senadores e outras autoridades, ele só poderá ser julgado agora pelo Supremo, enquanto estiver no exercício do mandato.
Nahim chegou a ser preso em 2014 por coação de testemunhas no mesmo caso. O deputado sempre negou envolvimento com os crimes atribuídos a ele. O Congresso em Foco tentou contato com o gabinete do deputado, mas ninguém atendeu as ligações. O Congresso está em recesso parlamentar. Nahim é uma das 30 mudanças provocadas na composição da Câmara em razão das eleições municipais.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do ex-governador esclareceu que Anthony Garotinho “está afastado de seu irmão” há pelo menos seis anos e que sequer “mantém relações políticas” com Nahim. O texto destaca ainda as eleições para o governo do Rio, realizadas em 2014, quando “Nahim foi, inclusive, um dos coordenadores da campanha de Pezão” – contra quem Garotinho concorria na eleição para o Palácio Guanabara – e acrescenta que Garotinho “repudia o crime de pedofilia cometido por qualquer pessoa”.
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