Uma escola da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, que conta com uma ativa comunidade antivacina está no centro do maior surto de catapora do Estado em décadas, dizem as autoridades.
Na sexta-feira, 36 alunos da Asheville Waldorf School foram diagnosticados com a doença, segundo o jornal local Asheville Citizen-Times.
O colégio tem uma das taxas de dispensa de imunização por razões religiosas mais altas do estado, o que permite que os estudantes não sejam vacinados.
As autoridades de saúde dos Estados Unidos dizem, por sua vez, que se vacinar é muito mais seguro do que ter que eventualmente tratar uma catapora.
“Este é o maior surto de catapora que as autoridades de saúde têm conhecimento desde que a vacina está disponível”, disse um porta-voz do Departamento de Saúde da Carolina do Norte à BBC em um comunicado enviado por e-mail.
Dos 152 alunos da instituição, 110 não foram vacinadas contra o vírus varicela-zóster, causador da catapora, conforme apurou o Citizen-Times.
E 67,9% das crianças matriculadas no jardim de infância da escola tinham dispensa de imunização por motivo religioso em suas fichas durante o ano letivo de 2017-2018, de acordo com dados do Estado.
Um porta-voz do colégio disse à BBC que eles estão colaborando inteiramente com as autoridades de saúde locais, conforme as leis da Carolina do Norte.
“Descobrimos que os pais são altamente motivados a escolher exatamente o que querem para seus filhos. Nós, como escola, não discriminamos com base no histórico médico ou na condição médica de uma criança.”
O condado de Buncombe, onde está localizada a cidade de Asheville, tem uma população de mais de 250 mil habitantes – e a maior taxa de isenção de imunização com base em religião do Estado.
As autoridades de saúde locais estão monitorando de perto a situação, de acordo com o departamento de saúde do condado.
“Queremos ser claros: a vacinação é a melhor proteção contra a catapora”, diz a diretora médica do condado, Jennifer Mullendore, em um comunicado.
“Quando vemos um grande número de crianças e adultos não imunizados, sabemos que uma doença como catapora pode se espalhar facilmente por toda a comunidade – em nossos playgrounds, mercearias e equipes esportivas.”
A lei da Carolina do Norte exige determinadas vacinas, incluindo aquelas contra catapora, sarampo e caxumba, para crianças do jardim de infância, mas o Estado permite exceções por razões médicas e religiosas.
A maioria das religiões não proíbe a vacinação, mas, nos últimos anos, alguns pais estão temendo reações adversas às vacinas nos Estados Unidos – e usando essa prerrogativa para deixarem de imunizar os filhos.
Embora alguns efeitos colaterais, como alergias, às vacinas sejam possíveis, a comunidade médica desmistificou a grande maioria dos medos, e associações, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Academia Americana de Pediatria, encorajam a imunização.
Quão séria é a catapora?
A catapora, também conhecida como varicela, é uma infecção viral que causa erupção cutânea, coceira e febre. Em casos graves, pode levar a complicações como inflamação do cérebro, pneumonia e até a morte.
O vírus é transmitido por meio do contato, da tosse ou de espirros, embora não seja tão contagioso quanto o sarampo, que pode se alastrar sem que haja qualquer contato.
O Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) recomenda a vacinação de crianças entre um e 12 anos. Embora casos graves sejam raros, o CDC alerta que a catapora se espalha facilmente e pode ser fatal.
A vacina contra catapora foi licenciada nos Estados Unidos em 1995. Segundo o CDC, a imunização evitou 3,5 milhões de casos da doença, 9 mil internações e 100 mortes anualmente no país.
E, embora algumas pessoas possam pegar catapora mesmo sendo vacinadas, ela é muito eficaz na prevenção de casos graves ou com risco de vida.
Além disso, a vacinação também ajuda a proteger indivíduos vulneráveis que não podem ser imunizados, como mulheres grávidas, bebês com menos de um ano e pacientes com câncer, evitando o contágio.
No Reino Unido, a vacina contra catapora para crianças é considerada opcional.
No Brasil, a imunização contra a doença faz parte do Calendário Nacional de Vacinação, sendo oferecida gratuitamente nos postos de saúde. De acordo com o calendário, a criança deve tomar a vacina aos 15 meses (tetraviral, que previne contra sarampo, rubéola, caxumba e catapora) e aos 4 anos (varicela atenuada).
Os pais que deixam de levar os filhos para a vacinação obrigatória correm o risco de ser multados ou processados por negligência e maus tratos, segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que reúne normas com objetivo de proteger o direito à vida e à saúde de crianças e adolescentes, estabelece que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”.