Leitoras, leitores, companheiras e companheiros, colaboradores/as, apoiadores/as e amigos/as do Portal Desacato e da Cooperativa Comunicacional Sul:
Em primeiro lugar queremos agradecer a solidariedade, o apoio e a fraternidade que apoiadores/as, colaboradores/as, jornalistas, educadores/as, estudantes, militantes e dirigentes de diversos movimentos sociais do Estado, do país e do exterior, têm nos expressado neste momento pelo qual, inesperadamente, estamos passando.
Depois, gostaríamos de afirmar que a Cooperativa Comunicacional Sul e o Portal Desacato nascem da necessidade de classe de comunicar a partir de uma linha independente as informações que ao longo da história do Brasil, da América Latina e do Mundo foram negadas e/ou invisibilizadas. São 13 anos de projeto comunicacional comprometidos com os/as trabalhadoras e trabalhadores explorados/as, excluídos/as e oprimidos/as. Entendemos, a partir de nossa condição de classe, que nosso trabalho deve ser e é voltado às lutas anti-imperialistas, anticapitalistas, feministas, antirracistas, antifóbicas, na defesa da ecologia e meio ambiente, preservação da vida, do planeta e, sendo assim, necessariamente, nos coloca na condição de nos posicionarmos frente ao racismo e em defesa de um feminismo classista.
Desacato acompanha, cobre e visibiliza as lutas históricas de trabalhadores e trabalhadoras. Mesmo nos momentos mais difíceis economicamente, de falta de estrutura física e humana, insistimos contra a realidade que também nos é imposta. Decidimos, já faz muito tempo, que a comunicação independente continuaria sendo o nosso maior projeto de vida. Esse projeto sempre esteve aberto para receber, sem discriminação, toda e qualquer pessoa que concordasse com nossas premissas e limitações financeiras e por isso nunca selecionamos pessoas para compor a cooperativa, todas aproximaram-se por sentir identidade quanto ao projeto.
A própria natureza da cooperativa demonstra que compreendemos que vivemos em um mundo baseado na exploração e em diversas formas de opressão e que nossa essência é buscar combatê-las e lutar para que vivamos em um mundo cada dia menos desigual e opressivo. Entretanto sabemos que, sendo a exploração e a opressão estruturais na sociedade, acreditamos e lutamos, internamente inclusive, por uma constante desconstrução que permita em âmbito de sociedade superá-las do ponto de vista das relações individuais e institucionais, enquanto sua superação social depende de uma mudança estrutural pela qual lutamos junto aos movimentos sociais, partidos e demais organizações do campo popular.
No entanto, há uma discussão interna acontecendo há algumas semanas nas quais buscamos evitar a ruptura. Não é desejo da direção, nem de nenhum/a cooperada/o, a saída das três mulheres de nossos quadros, sendo elas, Janaína Machado, Mayara Santos e Manuela Campagna. Precisamos divergir de vários pontos apresentados na denúncia à nós proferida, onde somos acusadas e acusado de racismo, especialmente no levantamento divulgado nas redes sociais. Este levantamento considera como brancos tanto indígenas, como árabes, caboclos/as e mesmo pessoas que se autodeclaram negras mas podem ter fenótipo não reconhecido, ou seja, todas/os não pretas/os são designados/as como brancas. Isso pode ser facilmente comprovado e distorce fortemente o que, de fato, aparece no Portal e nas nossas mídias sociais.
Reafirmamos que a sugestão de Mayara Santos para que atuasse como âncora do “JTT diário”, antes do período da pandemia e da própria Jana Machado como âncora do “JTT Fica em Casa” no período do isolamento foram, além de reconhecimento da competência de ambas no exercício da função, uma sugestão dada por manter representatividade social em nossos meios de mulheres pretas. Sendo que a participação da Mayara na cooperativa foi aumentando progressivamente, a partir do quadro “Fala para Mayara” no JTT, até ela se tornar âncora e no caso da Jana Machado, que comandava o “Informativo paralelo”, até se tornar âncora do “JTT Fica em Casa”, além de todo o trabalho técnico de edição e pauta que faziam por trás das câmeras e do Portal. A contribuição de ambas é inestimável à Cooperativa e consideramos que pudemos dar alguma contribuição à formação destas que agora se desligam como comunicadoras populares e como militantes pela comunicação social como direito humano e que também, no mesmo sentido, aprendemos com elas.
Entretanto, sendo o Brasil um país marcado pela escravidão que vitimou na diáspora africana a milhões de pretos e pretas defendemos trabalhar para que essas vozes tenham o espaço que lhes é de direito, inclusive sugerindo programações e realizando entrevistas para ampliar a representatividade negra em nossa programação. Defendemos e sempre trouxemos presente por meio das fontes e leituras as lutas internacionalistas, latino-americanistas, de autodeterminação dos povos, de negras e negros, caboclas e caboclos, LGBTs, mulheres, povos indígenas, etc. Afirmamos nossa solidariedade à Cuba, especialmente diante do bloqueio criminoso; solidariedade à Venezuela e os territórios que sofrem com a opressão imperialista, à causa palestina, contra o antissemitismo, a islamofobia e a judeufobia; solidariedade ao povo iemenita que está sofrendo a maior catástrofe humanitária da atualidade, à causa saarauí, do povo basco, cigano, armênio etc; solidariedade aos levantamentos populares no Chile, Líbano, Equador, subúrbios de Paris, etc., às realidades da Pátria Grande como as antes mencionadas e a colombiana, hondurenha (Desacato esteve presente durante o golpe e o assassinato de Berta Cáceres), além dos temas locais, regionais, estaduais que abrangem os morros, as ocupações, as favelas, as periferias, as cidades, a roça e todos os espaços nos quais conseguimos estar, mesmo em um grupo tão pequeno e com tantas limitações econômicas.
Nós, integrantes desse projeto, escolhemos, do humilde jeito que sabemos/podemos, estar do lado da comunicação independente, porque não serão as corporações midiáticas as que visibilizarão as lutas dos povos oprimidos. Por isso, tendo a prática como critério da verdade, temos assumido o papel comunicacional que nos correspondia, na modesta possibilidade que nos remete a essas lutas, falando delas e não por elas, contribuindo na luta diária contra a opressão em todas as latitudes possíveis.
Não pactuamos com os fundamentalismos e as tentativas de fragmentação da luta dos povos oprimidos, das mulheres e homens excluídos/as de todo direito. O Brasil precisa de uma frente social e política que inclua todas e todos e que derrote, definitivamente, as mazelas que nos subjugam desde a colonização genocida.
A demora em responder não se deve a darmos pouca importância ao fato, mas ao contrário, os fatos ensejaram por parte da direção e todas/o as/o cooperadas/o uma reflexão e a resposta não podia ser dada sem examinar com a profundidade e a reflexão que o tema exigem. Postura que permanecerá mesmo após a publicação desse comunicado, afinal, como comunicadores/as, nossa missão é aprender.
Diante das difamações e acusações a nós direcionadas através das redes sociais, reafirmamos que o Portal Desacato e a Cooperativa Comunicacional Sul sempre estiveram e continuam dispostos, como sempre, para qualquer reflexão, diálogo, dentro de um marco de construção e aprofundamento constante do próprio conhecimento. Seguimos, também, reportando, mesmo diante das inúmeras dificuldades, pois os povos como o do Contestado, os originários, das ocupações urbanas e camponesas, as realidades das periferias e do roçado, as lutas internacionalistas e internacionais não vão ficar sem amparo comunicacional e de classe de Desacato.info.
Conselho de Administração da Cooperativa Comunicacional Sul
Direção Geral de Jornalismo
Olá pessoal do Portal Desacato / Cooperativa Comunicacional Sul, venho externar meu carinho e admiração pelo trabalho que vocês desenvolvem nesses 13 anos de comunicação e difusão de ideias, que se dão a partir de baixo, das classes trabalhadoras e populares – um espaço de denúncias e de diálogos, distante das mídias burguesas e elitistas. Como pesquisador, extensionista e coordenador do Observatório da Região e da Guerra do Contestado, agradeço pelo fato de manterem espaço aberto para as demandas dos Povos Caboclos do Contestado, pessoas com quem divido a vida, para além da de um estudioso da causa. Nesses 13 anos, muitas matérias de divulgação de atividades culturais, eventos comemorativos, críticas profundas sobre o massacre contínuo deste povo tradicional catarinense, foram publicados por vocês, que nunca mediram esforços em atender as demandas desse povo, a partir de mim – povo que está na gênese da formação territorial catarinense. O material veiculado no Portal Desacato, sempre esteve junto das necessidades existências e das resistências das pessoas que vivem o ininterrupto massacre em terras catarinenses, brasileiras e latino-americanas. Não sou caboclo, mas vivo o mundo caboclo desde 1994, quando iniciei meus estudos sobre esse povo, sua história, sua invisibilidade, seu silêncio imposto pelas elites vencedoras e sua resistência – sendo hoje, eu, parte disso tudo! Gosto sempre de dizer que: não preciso ser negro, ser faxinalense, ser quilombola, ser caiçara, ser pescador, ser ribeirinho, ser quebrador de coco, para lutar contra o racismo e a opressão vivida por essas gentes fundamentais aos nossos territórios. Só preciso ser humano, e as pessoas só precisam ser humanas, para fazerem parte da luta pela dignidade de todos os Povos! Nós só precisamos ser humanos, para lutarmos por Todos e Todas!
A DESACATO hay que darle todo el apoyo que merece. Por ser una voz de los oprimidos, es normal que haya intento de destruirlo. La derecha, hoy “engrandecida” con su Bolsonaro en el poder, va a hacer todos los esfuerzos para eliminar todo voz que la denuncie. Siempre lo hicieron. Meten un policía, un fanático religioso, un acomplejado y luego acusan de discriminación. ¡Cuidado! Este es uno de los espacios mas importante de Brasil y América latina. DESACATO, por otro lado, no puede dejarse provocar y debilitar o desviar su accionar. Bolsonaro y la derecha están muy mal parados ante Brasil y ante el mundo. Buscan quitar del medio a DESACATO.
Apoyo el trabajo del Portal Desacato por conocerlo desde hace varios años. No me parece mal que en su seno exista diferentes opiniones siempre que sean compatibles con los objetivos básicos.
Seguiré apoyando a Desacato.