Comunicação por esquerda: precisamos mais do que o diagnóstico para vencer. #Editorial

Leitoras e leitores do Portal Desacato e audiência do JTT Agora, bom dia.

As mesas redondas que organizou o Portal Desacato, com motivo dos seus 13 anos de vida, reafirmaram diagnósticos que são comuns aos jornalistas e comunicadores populares do campo progressista e da esquerda da Argentina, o Brasil e o Uruguai. A maciça unanimidade só reforça a necessidade de nos debruçarmos sobre o problema da comunicação por esquerda, escutar, estudar, avaliar, criar e ousar. Sem isso não conseguiremos superar a situação atual. Hoje a direita nos derrota de forma contundente e nossas vitórias são escassas.

Os governos progressistas que conduziram os países da região, com talvez a única exceção da Venezuela chavista e o governo kirchnerista na Argentina, não levaram a sério a comunicação ou o fizeram de maneira muito pobre. A atitude de Alberto Fernández, a traição de Lenín Moreno e a derrota da Frente Ampla no Uruguai pioraram o cenário. Não seria exagerado afirmar que as derrotas progressistas são em boa parte o resultado do erro de avaliação da importância decisiva da comunicação.

Talvez, um dos casos mais gritantes seja o brasileiro. Os governos de Lula e Dilma sempre demonstraram medo ao poder da mídia oligopólica e o disfarçaram com o discurso do respeito à liberdade de expressão, embora essa suposta liberdade fosse a de mentir, manipular e agredir diuturnamente a democracia. Nem sequer houve disposição para defender as novas ferramentas comunicacionais que esses próprios governos criaram. Menos ainda, para entender e defender a mídia independente e alternativa, que lutou sozinha contra os desmandos de meia dúzia de famílias.

Os governos e as esquerdas institucionais do Brasil e da região, com escassas exceções, se acomodaram confortavelmente às veleidades e massividade da mídia inimiga de classe. As concessões públicas para a comunicação social continuaram em mãos dos monopólios midiáticos que acertam seus acordos na Sociedade Interamericana de Imprensa e azeitam suas mãos com as polpudas contas da publicidade oficial. Enquanto isso, a mídia alternativa e independente morre à míngua ou deixa a vida na desigual batalha cultural e comunicacional que enfrenta, sem recursos e sem projetos nacionais que diminuam a terrível assimetria entre os meios das oligarquias e os veículos de mídia do campo popular.

Soma-se à falta de comprometimento real dos espaços progressistas, o avanço desenfreado da mentira como arma, a campanha de ódio e a guerra comunicacional que a ultradireita coloca em campo as 24 horas do dia através das redes sociais. O governo Bolsonaro sim aplica dinheiro nessas redes, sujas de falsificação da realidade.

Precisamos buscar novos caminhos, acertar discursos e relatos, propor-nos a disputa de narrativas, mas também necessitamos que o progressismo entenda de forma urgente que o campo de batalha da comunicação é central para a retomada dos governos populares. E se um dia, ele voltar ao governo, não pode ser tão omisso e timorato com o inimigo como foi nos primeiros 15 anos deste século.

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