O sindicato onde trabalho, o Sintrajusc, está comemorando 20 anos e promove nesta quarta-feira, 16, o Seminário “Comunicação, Mídia Alternativa e Jornalismo Sindical”, às 14 horas, no auditório do Sintespe, em Florianópolis.
A mesa será composta pelas jornalistas Cátia Corrêa Guimarães, da Fiocruz/RJ, e Elaine Tavares, do Iela/UFSC. As duas são estudiosas da comunicação e do jornalismo na perspectiva contra-hegemônica e de emancipação social. A atividade é aberta ao público e concederá certificado de 4 horas. O Sintespe fica na Praça Olívio Amorim, 82, Centro, na pracinha da Hercílio Luz.
Abaixo vão o currículo e as linhas de pesquisa das duas colegas. Nesses dias cinzentos para o país e o jornalismo hegemônico, vale a pena conhecer outros caminhos para o jornalismo e os jornalistas.
Cátia Corrêa Guimaraes: Graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem especialização em Comunicação e Saúde pela Fiocruz, mestrado em Comunicação e Cultura também pela Eco/UFRJ e doutorado em Serviço Social pela UFRJ. É servidora pública da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da Fundação Oswaldo Cruz, onde atua principalmente como jornalista, exercitando experiências que tangenciem uma prática contra-hegemônica de comunicação nas áreas de saúde e educação. Sua área de pesquisa principal é a relação entre jornalismo, ideologia e contra-hegemonia.
Elaine Tavares: Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, tem especialização em Psicologia da Comunicação pela UFSC, mestrado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2001) e está doutoranda em Serviço Social na UFSC. Atualmente atua como jornalista e pesquisadora no Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da Universidade Federal de Santa Catarina e mantém programa semanal na Rádio Comunitária Campeche. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Reportagem, atuando principalmente nos seguintes temas: movimentos sociais, reportagem, América Latina, povos originários, excluídos, jornalismo popular e movimentos populares.
PERSPECTIVAS DE PESQUISA:
Cátia Corrêa Guimarães
A jornalista defendeu em 2015, na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a tese “Jornalismo e Luta de Classes: desvendando a ideologia do modelo informativo na busca da contra-hegemonia”, orientada pelo professor Mauro Iasi.
A tese de Cátia parte da hipótese de que o caráter ideológico da imprensa não se encontra apenas no conteúdo por ela veiculado, mas precisa ser buscado também (e principalmente) no conjunto de princípios, técnicas e orientações éticas que conformaram o modo de se fazer jornalismo que se legitimou como prática social e profissional. O modelo daí estruturado tem uma concepção de objetividade que se confunde com a busca da neutralidade e uma ideia de atualidade como fragmentação da totalidade social.
Mas a questão é que esse modelo se naturalizou para além da grande imprensa empresarial, tornando-se referência também para as práticas jornalísticas que se pretendem alternativas ao modelo hegemônico. A tese então discute caminhos possíveis para a superação desse modelo informativo na direção de uma prática jornalística construída organicamente pela e para a classe trabalhadora, no entendimento de que mais do que disputar versões, a batalha das ideias da classe trabalhadora passa pela desconstrução de um modelo de jornalismo que carrega, na sua própria estrutura, as marcas da ordem social que o promoveu.
Elaine Tavares
Entre os livros que publicou, Elaine escreveu “Jornalismo nas margens: uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas”, em que conceitua o jornalismo não hegemônico, feito às margens, voltado para a grande parcela da população que está abandonada pelo poder público.
A autora segue pela vereda aberta por Adelmo Genro Filho e busca raízes na Filosofia da Libertação, especialmente no que para ela contribuiu o filósofo argentino Enrique Dussel, trazendo para o jornalismo uma forma de pensar o mundo a partir dos oprimidos, de narrar a vida a partir da consideração de cada ser como único, diferente, mas real. E nessa perspectiva estão embutidos vários elementos citados pela autora. Um deles é o papel do próprio sujeito-jornalista que, ao trabalhar junto aos que estão à margem, precisa refletir sobre o comprometimento com certas realidades que são negadas ou distorcidas pelo poder público e pela grande imprensa.
A autora oferece caminhos para colocar a teoria em prática, discutindo as vantagens e as diferentes opções de veículos que podem ser usados nas comunidades. O livro “Jornalismo nas margens: uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas”, ao dar corpo ao conceito de jornalismo libertador, avança na construção de uma teoria que possa dar conta de inspirar narrativas e jornalistas comprometidos, dispostos, como aponta Elaine, a “dizer o dizível e o indizível, ser capar de ver o que está além dos olhos, narrar, descrever, contar a história”, ajudar, enfim, a narrar e construir um tempo novo.