Companhia de Teatro Heliópolis encena as sutis violências do cotidiano

Peça reflete sobre agressões e opressões naturalizadas diariamente no Brasil de hoje: preconceitos de gênero, raça, credo, orientação sexual e de ideologia.

Foto: Bob Sousa

Na correria do dia a dia, não há tempo para checar se o homem caído no chão repousa cansado ou se está morto; ninguém repara no momento em que uma mulher é silenciada nem quando olhares fuzilam um homem que usa sapatos de salto alto. Estas são algumas violências abordadas na peça Sutil Violento, que a Companhia de Teatro Heliópolis leva ao palco da Casa de Teatro Maria José de Carvalho de 5 de maio a 8 de julho. A obra que tem texto de Evil Rebouças e encenação de Miguel Rocha, estreou em 2017 e reestreia neste sábado, às 20h no bairro do Ipiranga, em São Paulo.

Com direção do fundador do grupo, Miguel Rocha, a peça pretende pontuar especialmente as microviolências do Brasil de hoje e mostrar que as pequenas ou sutis agressões se potencializam quando naturalizadas. “Sutil Violento está em diálogo com questões urgentes do nosso tempo. A proposta é trazer ao público a provocação do quanto já se naturalizou a violência, potencializou-se ao ponto de nem a percebermos. A violência, às vezes, é bem sutil”, declara o diretor.

Rocha afirma que a obra é muito mais uma forma de provocação do que de denúncia. “Cada um vai compreender o espetáculo pela perspectiva pessoal. Por isso, acho importante trabalhar com símbolos em cena, que reverberam sempre de forma diferente para cada pessoa. O espectador vai se deparar com alguns deles em Sutil Violento. É importante fazê-lo pensar, e um artifício bom para isto é mesmo a provocação”, opina.

Estão em cena abusos, agressões, confrontos e opressões diárias, principalmente ligadas aos preconceitos de gênero, raça, credo, orientação sexual e de ideologia. Estas formas de coerção privadas ou públicas são representadas pelos atores Alex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia, David Guimarães, Klaviany Costa e Walmir Bess. “A peça apresenta algumas situações de microviolência do cotidiano da nossa sociedade, onde em um gesto, em um olhar a coerção está presente. Não tratamos de tipos de violência e sim das situações de violência”, afirma Rocha. “A dramaturgia é composta por um conjunto de elementos: ações físicas, movimentos, música ao vivo e texto”.

A trilha sonora de Meno Del Picchia executada ao vivo e o cenário todo vermelho potencializam a carga dramática da peça que nasceu a partir do projeto “Microviolências e Suas Naturalizações”, contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

O grupo teatral promoveu em 2016 uma série de atividades como forma de pesquisa para o desenvolvimento de Sutil Violento. Foram feitas entrevistas com pessoas da comunidade de Heliópolis e encontros para discutir a naturalização da violência com vários pensadores e ativistas. “Os debates possibilitam ampliar os horizontes sobre o tema abordado, aumentando a possibilidade de criação de um discurso poético polifônico. Participaram pensadores e ativistas como Leonardo Sakamoto, Marcia Tiburi, Zilda Iokoi e Bruno Paes Manso”, afirma o diretor em entrevista feita por email.

Sutil Violento
Reestreia: sábado, dia 5 de maio, às 20 horas
Temporada: de 5 de maio a 8 de julho, aos sábados (20h) e domingos (19h)
(não haverá apresentação nos dias 26 e 27 de maio e 24 de junho)
Onde: Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, 1533, Ipiranga, São Paulo (SP)
Quanto: pague quanto puder
Retirada de ingresso na bilheteria 1 hora antes das sessões
Duração: 90 minutos
Capacidade: 48 lugares
Gênero: Experimental
Classificação: 14 anos
Mais informações: www.facebook.com/companhiadeteatro.heliopolis

Ficha técnica
Encenação: Miguel Rocha
Texto: Evill Rebouças (criação em processo colaborativo com a Cia de Teatro Heliópolis)
Elenco: Alex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia, David Guimarães, Klaviany Costa e Walmir Bess.
Direção de movimento e preparação corporal: Lúcia Kakazu
Oficinas de dança: Nina Giovelli e Camila Bronizeski
Direção musical e preparação vocal: Meno Del Picchia
Oficinas de voz e canto: Olga Fernandez, Sofia Vila Boas e Lu Horta
Músicos: Giovani Bressanin (guitarra), Eduardo Florence (violoncelo) e Luciano Mendes de Jesus (percussão)
Sonoplastia: Giovani Bressanin
Cenografia/instalação: Marcelo Denny
Assistente de cenografia: Denise Fujimoto
Figurino: Samara Costa
Iluminação: Toninho Rodrigues e Miguel Rocha
Assistente de iluminação: Raphael Grem
Operação de luz: Gabriel Igor
Direção de produção: Dalma Régia
Designer gráfico: Camila Teixeira
Fotos: Geovanna Gellan
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Realização: Companhia de Teatro Heliópolis

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