Como tudo pode não levar a nada

    vem pra rua

    Por Paulino Júnior.

    O mais perigoso no capitalismo, conforme o filósofo esloveno Slavoy Zizek, é que sustenta uma constelação ideológica, privando a maior parte do povo de qualquer mapeamento cognitivo significativo. O capitalismo é a primeira ordem socioeconômica que destotaliza o significado.

    Estamos assistindo in loco a exata constatação disso, como uma manifestação social, articulada e legítima, tornou-se um mero passeio cívico – o caráter de ameaça foi isolado e em seu lugar foi posto o da participação. A mídia oficial provou que a melhor maneira de boicotar não é proibir, mas impor. Todo e qualquer cidadão preocupado em melhorar o Brasil que levasse sua indignação para a rua em uma cartolina (compondo assim esta constelação ideológica). Não à toa esta “coqueluche” tem sido vinculada ao movimento “cara pintada”, arquitetado coreograficamente para desempenhar um dos paradoxos da liberdade na democracia burguesa: travestir de iniciativa própria o que é previamente roteirizado.

    Para tanto, a polícia até auxilia, formando um cercado tranquilo e aconchegante para que as pessoas se emocionem e rebolem com os versos do hino nacional. Na verdade, o que está em jogo, como acontece nas eleições (cinicamente chamadas de “festa da democracia”), é uma renovação de votos com a sociedade liberal burguesa.

    Em muitos momentos parecia até mesmo que a maior preocupação dos manifestantes era identificar os “vândalos” e “baderneiros”, combinando inclusive pelas redes sociais em “facilitar a ação da polícia”. Cabe então a pergunta: estas manifestações são pacíficas ou passivas?

    Foto de telefone: Larissa Cabral.

    3 COMENTÁRIOS

    1. Paulino Júnior se olvida del contexto social-político general y supervaloriza el dominio de la institucionalidad burguesa. Me quedo con el análisis de Elaine Tavarez: el principal responsable de la despolitización es el PT que la sustituyó con el clientelismo electoral. Esos análisis que intentan diluir las responsabilidadades políticas objetivas no me los trago. Además es un análisis pesimista: es una situación para ser optimista por la multitudinaria movilización de protesta que hay en el país. No es perfecta de acuerdo a los manuales: así es siempre la realidad.

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