Como Juan Guaidó perdeu a liderança da Assembleia Nacional da Venezuela

“Nós vamos abrir caminho para transitar a despolarização do país e do parlamento”, disse novo presidente do Poder Legislativo, que integra a oposição e é reconhecido por Maduro

Twitter Luis Parra
Luis Parra, ao centro, novo presidente da Assembleia Nacional venezuelana

Por Fania Rodrigues.

O deputado Luis Parra, ex-integrante do partido Primera Justicia, foi eleito presidente da Assembleia Nacional com 81 dos 104 deputados presentes. A nova mesa diretora também está composta pelo parlamentares Franklin Duarte, do partido Copei, eleito primeiro vice-presidente, José Gregorio, Primero Justicia, segundo vice-presidente, e Negal Morales, do partido Acción Democrática, secretário.  Nenhum deputado chavista compõe a nova diretoria. O congresso é composto de 167 deputados, o quórum mínimo é de 84 parlamentares e bastavam 76 votos para eleger a nova diretoria.

A próxima sessão do Congresso está convocada para terça-feira da semana que vem. O presidente da Assembleia Nacional, Luis Parra, reconhecido pelo presidente Nicolás Maduro, destacou que o objetivo da nova diretoria é diminuir a polarização entre chavistas e opositores. “Nós vamos abrir caminho para transitar a despolarização do país e do parlamento. Nossa primeira mensagem a Nicolás Maduro é que ele tem que voltar a dar a cara no Parlamento, mas também respeitar o Parlamento que foi legitimamente eleito por 14 milhões de venezuelanos”, disse Parra em seu primeiro discurso como presidente do Congresso.

O deputado também falou sobre possíveis sanções dos Estados Unidos, que divulgaram um comunicado nesse domingo onde afirmam que sancionariam os deputados opositores que não votassem em Juan Guaidó. “Nós vamos defender as decisões legítimas do Parlamento. Quem vai por esse lado da censura, da ameaça, se equivoca, porque esse parlamento está decidido. Não tenho conta, nem bens nos EUA e não há nada que me importe além do povo da Venezuela. Pedimos respeito aos governos, assim como em algum momento pedimos ajuda e seremos agradecidos. Agora pedimos respeito ao Parlamento venezuelano”, disse o presidente Luis Parra.

Leia mais: Venezuela: Juan Guaidó perde presidência da Assembleia Nacional

Maduro, por sua vez, pronunciou-se sobre a eleição e reconheceu a nova direção da Assembleia Nacional: “Como o estabelece a Constituição, neste 5 de janeiro, foi eleita a nova direção da Assembleia Nacional para o período 2020-2021, que será presidida pelo deputado opositor Luis Parra”. Maduro também acusou Guaidó de ser um títere dos Estados Unidos: “O país repudia Juan Guaidó como títere do imperialismo norte-americano, um ser muito corrupto e que deixa a Assembleia Nacional multimilionário, com os 400 milhões de dólares que lhe deu o governo estadunidense”.

Segundo o deputado Francisco Torrealba, o líder da bancada do PSUV, o próximo desafio do Congresso será votar e eleger a nova direção do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que foi dissolvida pelo presidente Nicolás Maduro. Essa era uma das reivindicações dos partidos opositores que aceitaram dialogar com governo Maduro. Portanto, a composição do novo CNE será resultado do diálogo entre opositores moderados e o chavismo. “Vamos trabalhar para a restituição dos poderes da Assembleia Nacional. Depois disso, vamos trabalhar para a eleição do novo Conselho Nacional Eleitoral e com isso poder oferecer à população venezuelana às condições necessárias para uma eleição parlamentar”, disse Torrealba.

O deputado disse ainda estar otimista. “O parlamento continua na mão da oposição, com a diferença que esses deputados eleitos para a nova mesa diretora não recebem ordens dos EUA e com isso nós começamos uma nova etapa nesse parlamento, onde realmente vamos poder fazer política”, afirmou o líder do PSUV.

As eleições parlamentares devem ser convocadas esse ano, segundo o prazo estabelecido pela Constituição da Venezuela, mas ainda não foi definida a data da nova disputa.

O isolamento de Guaidó

Depois da sessão, o Juan Guaidó afirmou que foi impedido de entrar no Palácio Legislativo, na sessão que elegeu a nova mesa diretiva da Assembleia Nacional da Venezuela, o único órgão do Estado venezuelano controlado pela oposição. No entanto, quem estava presente conta outra história. Deputados opositores e chavistas afirmam que ele não entrou porque não queria iniciar a sessão legislativa, já que não tinha os votos suficientes para ser reeleito presidente do Congresso.

O deputado opositor Luis Brito, ex-filiado ao Primero Justicia, afirmou que Guaidó se negava entrar no Parlamento. “Pedimos informação e nos disseram que Guaidó se negava a entrar. Pretendiam fragilizar o processo de eleição”, disse Brito.

“Não entrou porque não tinha os votos que precisava para ser reeleito presente da Assembleia Nacional”, afirmou o deputado Pedro Carreño, do PSUV. Todas as bancadas opositoras estavam presentes no Congresso. Guaidó chegou por volta das 10h, segundo declarações ele mesmo fez à imprensa, mas se manteve do lado de fora do Palácio Legislativo. A sessão deveria começar às 11h, segundo regulamento da Casa. No entanto, às 13h, Guaidó seguia do lado de fora. Nesse momento o deputado Ezequiel Pérez Roa, do partido Ação Democrática, propõe a conformação de uma comitiva integrada por parlamentares chavistas e opositores para convencer a Guaidó a entrar. Eles voltaram sem o deputado.

O deputado Pedro Carreño, um dos líderes do chavismo no Congresso, aparece em um vídeo, momentos depois, conversando com um deputado opositor e o chefe de segurança da Assembleia Nacional, um comandante da Guarda Nacional Bolivariana, deixando claro que a entrada do deputado Guaidó era livre. No entanto, estavam impedidos de entrar cinco ex-deputados que o acompanhavam, pois tiveram seus mandatos cassados devido a condenações na Justiça.

Por volta das 13h, depois de ter esperado por mais três horas, os deputados opositores, contrários a Guaidó, decidiram seguir o regulamento que estabelece que, na ausência do presidente do Congresso, a sessão pode ser iniciada pelo deputado mais velho, nesse caso o parlamentar Héctor Aguerro, de 79 anos.

Do lado de fora Guaidó decidiu entrar, no entanto, estava acompanhado dos ex-deputados cassados. “Guaidó disse que entraria se os deputados cassados entrassem com ele. O que não foi permitido pelo chefe de segurança do Congresso”, conta o jornalista argentino Hernan Cano, que testemunhou os fatos.

A sessão estava terminando, a nova mesa diretora já havia sido eleita pela maioria dos deputados, foi então que Guaidó tentou pular a grade do pátio com Palácio Legislativo e entrar à força. Porém, foi impedido pelos militares da Guarda Nacional Bolivariana. A ordem da nova diretoria era que ninguém mais poderia entrar, pois o expediente havia acabado. Nesse momento ocorreu a cena, que já viralizou nas redes, onde Guaidó cai de uma grade.

Depois disso, Guaidó conformou uma Assembleia Nacional paralela, com sede no jornal de linha editorial opositora, El Nacional, onde fez uma sessão simbólica e recebeu votos de deputados aliados. Assim, teria sido “reeleito presidente” dessa nova composição legislativa. Guaidó também afirmou continua sendo “presidente interino da Venezuela”.

Membros do corpo diplomático de países que reconheceram Guaidó como presidente estiveram presente na sessão da Assembleia paralela.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.