Dicionário das palavras mais utilizadas pelos media corporativos e pelos políticos ocidentais.
Por Majed Bamya.*
Este dicionário permite compreender melhor a desinformação dos meios de comunicação corporativos quanto aos acontecimentos na Palestina. Para entender os desenvolvimentos da situação ali é indispensável aprender as manipulações semânticas utilizadas pelos presstitutos.
Escalada: termo utilizado pelo governo israelense e por certos meios de comunicação quando é morto um israelense. Mas é preciso pelo menos uma centena de mortos palestinos para que eles falem de uma escalada da violência do lado israelense.
Civil: Esta palavra jamais se aplica a um palestino, mesmo que seja criança. Em contrapartida, aplica-se sem escrúpulos aos colonos armados e aos reservistas do exército israelense. Encara-se seriamente ampliar a sua utilização aos soldados de ocupação na activa.
Segurança: Direito exclusivamente reservado a israelenses. Este direito permite justificar tudo: bombardeamentos cegos, massacres, construção de um muro em pleno território palestino, prisões arbitrárias em massa, incursões, execuções extrajudiciais, demolição de casas e punições colectivas como o cerco imposto a 1,8 milhão de palestinos em Gaza.
Recrudescimento da violência: Esta expressão permite meter no mesmo saco o colonizador e a população ocupada, negando as causas e só se interessando pelos seus efeitos. Isso permite sobretudo isentar a potência ocupante da sua responsabilidade na irrupção da dita violência.
Território palestino ocupado: o local onde se passa tudo ou quase tudo, mas que poucas vezes é mencionado. Se se fala de um colono instalado ilegalmente em território palestino ocupado, é melhor falar de um civil sem qualquer precisão geográfica.
Ocupação: O quê? Não percebi o que significa. É um termo demasiado complexo que é melhor evitar a fim de não criar mais confusão no espírito das pessoas. É preferível contentarem-se em evocar as partes ou os palestinos E os israelenses. Assim, os termos “opressão” e “negação dos direitos” aplicam-se a todos os contextos do mundo, excepto ao do Médio Oriente.
Resistência (ao ocupante, entenda-se): Aparentemente o direito internacional proíbe-a apenas para o povo palestino. Em contrapartida, está plenamente autorizada para todos os outros povos do mundo. Os palestinos só têm o direito de recorrer a negociações.
Negociações: Trata-se de um processo de diálogo em que Israel explica aos palestinos, de armas na mão, todas as razões pelas quais não pode pôr fim à colonização. Ao denunciar a intransigência palestina, a potência ocupante recusa-se a evocar a perspectiva do fim da ocupação, o regresso dos refugiados, o controlo palestino das suas fronteiras ou discutir o estatuto final da cidade de Jerusalém.
BDS (Boicote, Desinvestimentos, Sanções): Campanha que contribuiu para o fim do apartheid na África do Sul, ali considerada como heróica. Mas quando esta mesma campanha visa o apartheid israelense deve ser claramente tratada como anti-semitismo.
Paz: Quer dizer que os palestinos devem se manter tranquilos e submissos enquanto a ocupação continua, os seus direitos são quotidianamente violados e as suas terras roubadas. Toda a revolta destas populações ameaça com efeito os esforços de paz, ao passo que a ocupação e a colonização são perfeitamente compatíveis com os esforços de paz.
23/outubro/2015
* Diplomata palestino.
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/… .
Tradução de Margarida Ferreira.
Fonte: http://resistir.info/ .