“Que os oportunistas preservem suas organizações legais a preço de traírem todas as suas convicções; os sociais-democratas vão utilizar seu espírito organizativo e seus vínculos com a classe operária para criar formas ilegais de luta, tendentes ao socialismo e à maior coesão proletária e que possam responder à crise. Vão criar tais formas de luta não para combater junto com a burguesia patriótica de seu país, mas para marchar lado a lado com a classe operária de todos os países. A Internacional proletária não sucumbiu, nem o fará. As massas operárias criarão uma nova Internacional, mesmo com todas as dificuldades.”
Com sua política independente e mantendo os princípios do socialismo, os bolcheviques pouco a pouco vão conquistando seu espaço entre a classe operária. Assim, no ano de 1917 se inicia um novo período. A guerra mundial tirou o véu do capitalismo acentuou em todos os países da Europa suas contradições, resultando num colapso econômico e político. Os três anos de carnificina nos campos de batalha já geram rebeldia em todas as trincheiras, e como Lênin havia previsto, sintomas de uma nova agitação revolucionária estavam surgindo.
O Império Czarista é o elo mais frágil da corrente imperialista. Durante os primeiros anos da guerra, assim como naquela contra o Japão, a Rússia coleciona desastres militares. A partir de 1916, as demandas da guerra vão desorganizar toda a economia do país. Os transportes sobrecarregados são caga vez mais inseguros. A alimentação é escassa, para a população e o exército. Os preços sobem rapidamente. O regime sofre um golpe brutal do inverno de 1916-17: a disciplina das tropas, que sofrem mais baixas pelo frio e a fome que do próprio fogo inimigo, se fragiliza. No dia 13 de fevereiro, 20 mil operários organizam uma manifestação contra a matança; no dia 16, o pão é racionado e os estoques de carvão se esgotam; no dia 18 os operários da fábrica Putilov são todos demitidos; no dia 19 os armazéns são saqueados. No dia 23 [3], as operárias têxteis de Petrogrado iniciam as primeiras manifestações de rua pelos direitos das mulheres trabalhadoras. A greve se espalha espontaneamente no dia 24, as palavras de ordem contra a guerra e a fome tomam as ruas. Ocorrem os primeiros disparos contra manifestantes. Nas manifestações do dia 25, os soldados se negam a disparar e se juntam às manifestações, ocasionando motins generalizados por todo o dia 26.
No dia 27 de fevereiro, a maior manifestação até o momento se reúne e marcha em direção ao Palácio Tauride, onde a Duma (parlamento) se reunia. Um mar de operários armados coloca abaixo os portões do grande palácio luxuoso e toma conta do espaço. A bandeira vermelha tremula sob a cúpula. Em lados distintos do Palácio se reúnem dois grupos: de um lado se organizavam as eleições para o Soviete da capital, do outro, deputados da oposição liberal, juntamente com os mencheviques, formaram um “governo provisório”. O Czar não oferece resistência e abdica do trono.
Enquanto o governo provisório promulga os decretos que dão fim ao antigo regime, libertando os presos políticos e dando liberdade sindical. Depois de anunciar a convocatória de uma nova Assembleia Constituinte, o Soviete organiza as comissões de bairro, de abastecimento e militar. Pressionado pelos operários, lança o Prikaz nº1 [4], que desintegrará o exército e romperá com a disciplina militar. Desta forma, durante os meses seguintes, o governo provisório perde o controle da única força que teria disposto.
Mas o grande embate estava longe de terminar. A comida era escassa, a inflação estava na casa dos 1.000%, os campos eram saqueados e queimados, e o pior: o governo provisório colocara à mostra seu caráter burguês: manteve a Rússia na guerra como forma de se aproximar das potências imperialistas. Num feito um tanto curioso, Lênin que estava na Alemanha, é ajudado a regressar à Rússia pelo próprio inimigo, pois este pensou que enviando o revolucionário de volta, o país se desestabilizaria e isso daria vantagem para as forças alemãs. Lênin regressa ao país com suas Teses de Abril [5], onde defende a nacionalização dos bancos, o fim da propriedade privada e que todo o poder seja destinado aos sovietes, política antagônica à do Partido Bolchevique que estava na direção do social-nacionalista Stálin, que queria compor o governo provisório.
Os problemas mais decisivos, inclusive o do poder, vão surgir como consequência daquele que originou a insurreição: a guerra.
No próximo texto, entenderemos como aconteceu a Revolução de Outubro, que deu origem ao primeiro Estado Operário da história.
NOTAS:
1- Parte 1:http://desacato.info/como-
2- A Liga Espartaquista, que organizou a campanha contra a guerra na Alemanha e futuramente se converteria no Partido Comunista Alemão.
3- O 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
4- “Ordem número 1”, que vai limitar o controle do governo sobre as forças armadas, e indicar que as ordens do governo provisório só devem ser acatadas se não se opuserem às diretivas do soviete.
5- https://www.marxists.org/
+ Parte 2: Como aconteceu Outubro II – O período de reação e a estruturação do Partido Bolchevique