“Comida sem agrotóxicos precisa ser acessível”, diz coordenador de Centro de Agroecologia

Dia Nacional da Agroecologia, comemorado no domingo (3), marca a defesa da vida e do direito à alimentação sem veneno

“Comer é um ato político e está previsto em nossa constituição como um direito social”, destaca coordenador do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia – Foto: Diangela Menegazzi

Por Diangela Menegazzi.

Milhares de pessoas, movimentos e organizações em todos os cantos do Brasil celebraram o Dia Nacional da Agroecologia, no domingo (3). A data marca a defesa da vida, que se materializa na produção, comercialização e no acesso a alimentos saudáveis, sem a utilização de agrotóxicos.

A alimentação saudável de forma regular e permanente, e em quantidade suficiente, é um direito humano básico que vem sendo negado à população brasileira. No final de 2020, já haviam 19 milhões de pessoas passando fome no país. Para fazer frente a essa situação de violação, Fundação Luterana de Diaconia – Conselho de Missão entre Povos Indígenas – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (FLD-COMIN-CAPA) apoia centenas de iniciativas de promoção e defesa da agroecologia, mantém uma campanha solidária de apoio a esses projetos e reivindica uma política pública nacional efetiva.

“Comer é um ato político e está previsto em nossa constituição como um direito social. E essa comida saudável, livre de agrotóxicos, produzida por meio da agroecologia, precisa ser acessível a todas as pessoas”, destaca Jhony Luchmann, coordenador do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA).

“Comida saudável, livre de agrotóxicos, produzida por meio da agroecologia, precisa ser acessível a todas as pessoas”, diz coordenador do CAPA / Foto: Arquivo CAPA

Feiras agroecológicas

Um dos destaques para as ações de produção, comercialização e acesso a alimentos saudáveis, que promovem o comércio justo e solidário e o desenvolvimento local sustentável, são as feiras e pontos de comercialização de famílias agricultoras, camponesas e de povos e comunidades tradicionais presentes em diversos municípios. Algumas com décadas de funcionamento e outras que, apesar da pandemia, foram inauguradas nos últimos meses e encurtam ainda mais o caminho do alimento da família produtora até a mesa da família consumidora.

Referência na produção de alimentos saudáveis

O município de Marechal Cândido Rondon é referência na região Oeste do Paraná na produção e comercialização de alimentos saudáveis. São cerca de 40 famílias que produzem alimentos sem a utilização de agrotóxicos. Parte dessas famílias integram a Associação Central de Produtores Rurais Ecológicos (Acempre).

Os produtos das associadas e associados são comercializados diariamente por venda direta a famílias da cidade, pela loja física, pela internet, e também são entregues ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do município e no Programa Compra Direta do governo do estado. Do início do ano até agora, cerca de 100 toneladas de comida saudável foram produzidas e comercializadas por famílias agricultoras através da Acempre.

Em Marechal Cândido Rondon, cerca de 40 famílias produzem alimentos sem a utilização de agrotóxicos / Foto: Diangela Menegazzi

Mais saúde, mais qualidade de vida e menos poluição

Para o nutricionista, mestre em desenvolvimento rural sustentável e vereador de Marechal Cândido Rondon, Rafael Heinrich, a agroecologia tem uma contribuição para o desenvolvimento rural sustentável porque ela permite um sistema alimentar saudável.

“Quando adquirimos alimentos diretamente de agricultoras e agricultores, de imediato, nossa ação fortalece a produção e promove o consumo sustentável, porque demanda menos transporte, menos embalagem e, por consequência, menos poluição. Na produção familiar com base em práticas agroecológicas consome-se menos agrotóxicos. Isso reduz a poluição do ar, da água e do solo”, diz.

Segundo Rafael, o Guia Alimentar da População Brasileira recomenda que a base da alimentação seja de alimentos in natura, uma vez que o conceito de segurança alimentar não está relacionado apenas à quantidade de alimentos consumidos, mas também à qualidade deles.

“Quando a alimentação é pautada em alimentos in natura, estamos reduzindo o consumo de alimentos industrializados que, em sua maioria, são ricos em açúcares, gorduras, corantes, conservantes e outras substâncias associadas a doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, obesidade, diabetes, câncer. Essas doenças representam no mundo 63% de todas as mortes”, destaca o nutricionista.

Ele lembra ainda que quando optamos por alimentos in natura, reduz-se a especulação financeira dos produtos, as famílias conseguem comercializar os alimentos a preços justos e os alimentos chegam com valor acessível às pessoas consumidoras. “Fica uma relação mais harmoniosa entre produtor e consumidor”, afirma.

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