Na noite dessa quarta-feira, 6 de agosto, Florianópolis recebeu participantes de todo o Brasil para debater a imprensa sindical. Com o tema “A democratização da comunicação e a luta contra a criminalização dos movimentos sociais”, o 2º Seminário Unificado de Imprensa Sindical é uma realização do Fórum de Comunicação da Classe Trabalhadora.
A cerimônia de abertura contou com a apresentação do vídeo do 1º Seminário Unificado de Imprensa Sindical, realizado em 2013. Na edição de 2014, entre participantes, convidados e organizadores somam-se cerca de 180 pessoas, de 14 estados do país.
Representantes sindicais saudaram os participantes, rememorando a história do encontro em Santa Catarina, que iniciou em 2002 com o seminário realizado pelo Sindprevs/SC. Além disso, apontaram os desafios de enfrentar o poderoso monopólio da comunicação no Brasil que criminaliza os movimentos sociais.
O 2º Seminário Unificado de Imprensa Sindical ocorre no Hotel Canto da Ilha, durante os dias 6, 7 e 8 de agosto. O evento está sendo transmitido ao vivo pelo Portal Desacato em www.desacato.info.
Disputa da hegemonia: qual o papel dos meios de comunicação sindical e popular
A primeira palestra do seminário trouxe para o debate o tema “Jornalismo sindical e a disputa pela hegemonia”, ministrada por Laurindo Leal Filho.
Laurindo instigou o debate, sugerindo um questionamento: Qual o papel dos meios de comunicação sindical e popular para enfrentar essa hegemonia midiática?
“Acredito que o papel sindical na disputa pela hegemonia comunicacional se sintetiza em três ações: atrair o público, desconstruir a narrativa dos meios hegemônicos e construir a narrativa da classe trabalhadora. Essas ações são fundamentais para o enfrentamento a máquina poderosa que é a mídia privada brasileira”, destaca.
Para fazer essa disputa, Laurindo aponta a importância de se conhecer como se constituiu o monopólio dos meios de comunicação no Brasil ao longo da história. Para o palestrante, é essencial que os sindicatos e movimentos conheçam como chegamos a essa situação altamente concentrada e como estão articuladas as estruturas desses meios. “A comunicação no Brasil não pode ser compreendida de forma descolada da herança latifundiária e escravocrata. A lógica da acumulação capitalista aqui se tornou mais aguda por conta das raízes escravocratas que lhe dão origem. O senhor do latifúndio, no processo de urbanização, amplia seu raio de ação nas cidades. Prolongando o poder do campo para o meio urbano, muitos desses herdeiros rurais são hoje donos dos meios de comunicação. A propriedade cruzada, o quase nenhum controle público, seguem os moldes dos latifúndios agrários. A Rede Bandeirantes, por exemplo, é controlada por uma família de latifundiários. É muito difícil discutir esse caráter predatório, além do que o país não tem uma cultura do meio público de comunicação”, explica.
No Brasil, os meios de comunicação agendam a vida pública o debate político. Segundo Laurindo, os meios comercias filtram a relação entre sociedade e instituições públicas. “Candidatos organizam a agenda de campanha diária em tempo de pautar o Jornal Nacional. Isso é uma inversão da lógica democrática”, afirma.
Ações contra-hegemônicas para enfrentar o monopólio da mídia
Para Laurindo Leal, há três caminhos com viabilidade para essa disputa de ideias. O primeiro trata de acabar com a selvageria da comunicação privada com a adoção da lei de meios, um marco regulatório que permita que a liberdade de expressão seja ampliada. “A ideia é que o marco regulatório amplie o número de vozes existentes na sociedade. Estamos atrasados em relação à Europa em pelo menos 80 anos. Estamos ficando para trás também entre os países da América Latina que já compreenderam que só há perspectiva de avanço e inclusão enfrentando o monopólio da mídia. O melhor exemplo é o da lei de meios da Argentina, ela é um documento de referência acadêmica, incorpora o que tem de melhor em países da Europa, da Ásia e da América do Norte, evidente, fazendo as flexões necessárias às características do país”.
Nesse sentindo, Laurindo aponta também que a submissão dos governos brasileiros aos meios de comunicação privados é brutal. A ilusão de que os meios tenham um poder além do que de fato têm e, de outro lado, um desconhecimento dessa estrutura midiática, de como se produz a informação, faz com que os governos tenham medo de fazer esse embate.
O segundo ponto relevante para esse enfrentamento é garantir a existência e o fortalecimento de um sistema público de comunicação. Há experiências importantes de comunicação pública, mas a visibilidade ainda é pequena. “É preciso que os meios públicos de comunicação disputem espaço de opinião com os grandes meios privados e para isso é preciso investir nesse setor”, reforça.
Mídia popular e sindical no Brasil
O terceiro caminho apontado por Laurindo é a consolidação da mídia popular e sindical, possibilitando outro trato da informação, para além do que noticiam os meios privados tradicionais.
Nessa direção, Laurindo retoma as três ações apontadas inicialmente sobre o papel do jornalismo sindical na disputa de hegemonia. “Assim como a mídia privada é sedutora, precisamos constituir uma linguagem que ganhe as pessoas. Os meios de comunicação sindicais tem que cativar o público. Tem que atrair o leitor para que as mensagens sejam passadas com suavidade e inteligência. A ideia do panfleto e do jargão tem que ser repudiada”, reforça.
De acordo com Laurindo, o jornalismo tem um saber construído, por isso a necessidade do diploma. Para construir novos caminhos, é necessário que produção e reflexão permanente sobre a notícia. “O jornalismo é uma forma de construção de conhecimento. O fato é a base, mas a sua articulação e contextualização é um trabalho de produzir conhecimento. É um trabalho sofisticado que precisa ser respeitado”.
A desconstrução da narrativa hegemônica e a construção da narrativa da classe trabalhadora passam pela mudança também do movimento sindical. “Não vejo no movimento sindical a desconstrução das ideias dominantes. É fundamental que os veículos sindicais abram espaço para a desconstrução das notícias veiculadas por meios comerciais. Na mesma lógica é preciso construir representações simbólicas e práticas que estimulem valores como a solidariedade. Outro mundo é possível”, finaliza.
Fotos e texto: Clarissa Peixoto