Por Matias Aires.
Durante palestra da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA) o general do exército Edson Pujol reclamou do que é ensinado nas escolas públicas do Brasil. Incitando as pessoas a comparecerem às secretarias de educação ou ao Ministério de Educação para questionar o ensino. Sem entrar no conteúdo mesmo das aulas o general afirmou “Vocês concordam com o que está sendo ensinado para os seus filhos, sobrinhos, netos?“, segundo esta matéria do Estado de S. Paulo.
“Se nós ficarmos somente reclamando, insatisfeitos e inconformados, não vamos mudar as coisas”, afirmou. Nessa mesma ocasião, Pujol insistia em que as pessoas devem “sair às ruas para manifestar sua insatisfação”, conclamando de forma nada sutil as pessoas a defenderem nas ruas as opiniões manifestadas por elementos do Alto Comando das Forças Armadas.
O desejo manifesto é que haja atos em defesa do Escola sem Partido, projeto reacionário que ganhou nova força com a aprovação do ensino religioso confessional nas escolas públicas, pelo Supremo Tribunal Federal (que permite o professor seja um representante religioso, um padre por exemplo, e de forma prática transformaria a sala de aula em um verdadeiro culto).
Não deixa de ser repugnante que essa declaração seja dada pelo Comandante da região Sul, justamente a região do país que abriga hoje uma importante greve dos professores da rede pública estadual no Rio Grande do Sul. Seria um alerta do Exército frente aos “distúrbios e ao caos”, que segundo o Comandante geral do Exército, Villas Boas, autorizariam uma intervenção militar?
A seqüência de intervenções reacionárias na educação mostra que o plano do governo federal, do Judiciário, do Exército e da Igreja Católica não se limita a atacar direitos econômicos dos professores. Trata-se de um ataque em regra aos mais elementares direitos democráticos, como a separação entre Igreja e educação pública. Segundo o ministro do STF Dias Toffoli, não existiria uma “separação estanque” entre Estado e religião. Mentes como essa precisam passar pela “novidade” inserida pela Revolução Francesa de 1789: irrestrita separação entre a Igreja e o Estado.
Esta declaração de Edson Pujol é repudiável de todos os pontos de vista. Trata de dar voz ao obscurantismo mais conservador da alta cúpula das Forças Armadas, que cada vez mais buscam colocar o seu “peso” na política. O general Mourão, aprovado por Villas Boas, ameaçou uma ação militar caso o Judiciário não “elimine a corrupção”. A cúpula do Exército é um dos bastiões da corrupção histórica do Brasil. É inegável que esta ameaça tenha como objetivo influenciar o curso das eleições de 2018, sob a chancela do golpe institucional.
O complemento direto do “Escola sem Partido” é o Escola com padres e militares. Esse projeto precisa ser fortemente combatido pelos trabalhadores da educação, pela juventude, pais e mães, que desejam a liberdade de ensino, o respeito à diferentes adesões religiosas contra a imposição estatal de uma religião única, além do debate sobre os direitos das mulheres e da população LGBT.
Fonte: Esquerda Diário