Fernando Benicchio, estudante da USP, apresenta sintomas de coronavírus desde o dia 3 de março. O jovem apresentou crises constantes de tosse e uma febre de mais de 39°C e decidiu procurar ajuda.
Depois de buscar em três lugares diferentes, Fernando conseguiu ser testado no dia 10 de março. Mas o resultado ainda não saiu.
Benicchio morou em Manchester, na Inglaterra, por dois anos e voltou ao Brasil em dezembro, dois meses antes do primeiro caso oficial em território nacional.
Porém, trabalha na área de aviação e tem muitos amigos comissários de bordo, que estiverem em países de alerta na época que os primeiros casos chegaram ao Brasil. Eles tiveram contato durante o Carnaval.
Por morar com a mãe, de 61 anos, e estudar na Cidade Universitária, onde circulam todos os dias centenas de milhares de pessoas e que teve um caso confirmado de transmissão naquela semana, o estudante preferiu não arriscar e procurou o serviço de saúde.
Pela primeira vez em anos precisou recorrer ao sistema público, pois está sem plano de saúde desde quando se mudou para a Europa.
“O tempo que morei aqui no Brasil, sempre tive plano de saúde. Para ironia do destino, essa foi a primeira vez que não fui ao [Hospital Albert] Einstein”, contou.
No dia 5 de março, Benicchio buscou orientação via telefone no número 136 – disponibilizado pelo Ministério da Saúde para atendimento sobre a covid-19 – que o aconselhou a buscar um hospital público de São Paulo. Ele buscou primeiramente o Hospital das Clínicas da USP, mas teve dificuldade para entrar.
“Para você ter uma base, o Hospital das Clínicas tem portas fechadas em pronto-socorro. Se você passar mal, você não chega no HC e é atendido, só se você chegar de ambulância. Tive que ficar batendo na porta fechada até que me atendessem, até que uma pessoa de lá julgasse que o meu caso precisava do serviço no pronto-socorro”, afirmou.
Lá dentro, ele diz ter sido colocado em uma sala em isolamento e pediu para fazer o teste para a covid-19, mas a médica que o atendeu julgou que ele não estava com o coronavírus. “Vou fazer 38 anos, faz 38 anos que sei o que é ter uma gripe e nunca me senti desse jeito”, disse.
A orientação que recebeu foi para que voltasse para casa e procurasse atendimento caso piorasse. “Eu falei: ‘você está pedindo para que, caso tenha febre, tosse e diarreia, eu volte. Só que eu estou aqui exatamente porque eu estou com tudo isso’”.
Ele voltou para a casa e piorou três dias depois. Ligou para a UBS da Vila Gomes, onde mora no Butantã, mas recebeu a resposta de que não tinham estrutura para fazer o teste do coronavírus. No dia 10 de março ele ligou no Hospital Universitário da USP, que fez uma primeira triagem por telefone e o orientou a ir até o pronto-socorro de lá.
Chegando lá, ele conta que foi levado ao isolamento e avaliado. “A médica residente avaliou a minha oximetria, disse que a respiração estava boa, então não podia fazer nada e mandou procurar o AMA. Falei ‘escuta aqui, eu liguei para cá, me mandaram vir, você está vendo como estou me sentindo e você vai me mandar embora?’. Ela me desejou boa sorte, levantou e saiu”.
O hospital então entrou em contato com o serviço de Vigilância Epidemiológica do Butantã que orientou Benicchio a procurar a UBS São Remo. Apenas lá, depois de muito esperar, ele conseguiu fazer o teste. “Todo esse caos, que levou 9 dias, só para enfiarem um cotonete no meu nariz. Parece piada”.
O estudante recebeu um atestado de afastamento por 14 dias, com a numeração CID indicando uma infecção respiratória por coronavírus. Desde então, ele recebe ligações diárias da vigilância epidemiológica checando seu estado de saúde e o de sua mãe.
Porém, passados sete dias desde o exame, ele ainda não sabe se de fato teve a covid-19 ou não. Por segurança, decidiu fazer o autoisolamento.