Um profissional da saúde do Hospital Universitário (HU) da UFSC, em Florianópolis, enviou seu desabafo para o JTT – a manhã com dignidade, do dia 25 de março. El@ diz que o cenário é desconcertante.
“A demanda aumentou muito, e era esperado, só que no último mês chegamos a exaustão completa dos profissionais. A Ebserh ( Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) lançou edital para contratação de novos profissionais de saúde mas não foi suficiente. Médicos que não estavam no front foram deslocados pra cobrir a emergência covid. Então temos geneticistas, cirurgiões plásticos e médicos de outras especialidades nisso.
Muitos pacientes na UTI utilizaram o tratamento precoce, como a cloroquina e a azitromicina, que é um antibiótico e a gente não sabe até que ponto isso não vai virar uma resistência do indivíduo para outros tipos de antibiótico. Isso realmente tira o sono da gente. Não sabemos se no futuro haverá um antibiótico para tratar algumas outras doenças, porque a resistência vai aumentando.
Cada vez os pacientes são mais jovens. A gente perdeu uma paciente de 17 anos há uma semana por complicações da covid e todo mundo ficou muito abalado.
É assustador que cada vez tem mais pacientes gestantes com covid, porque a emergência obstétrica é porta aberta e muitos estudantes não foram vacinados. Muitas vezes a gestante só tem como sintoma a diarreia e não é identificada como suspeita de covid, inicialmente, pela triagem. Porque os estudantes são orientados a não atender pacientes com sintomas respiratórios, só que o covid agora também tem outros sintomas.
É intenso o desabastecimento dos medicamentos para entubação que são, muitas vezes, os mesmos medicamentos para analgesia do parto. Então as equipes de anestesia estão concentrando esses medicamentos na emergência e na UTI e as gestantes acabam não tendo acesso, algumas vezes, a esse direito, que é a analgesia.
Teve um dia em que o HU só tinha kit entubação para mais quatro dias, não sei como está esta semana, mas esse dia foi muito marcante pra todo mundo. O esforço para combater o covid é global mas todos viramos reféns das políticas do Bolsonaro, tudo o que ele faz e não faz impacta aqui no HU.
Espero que isso passe mas até lá vamos estar em pedaços.”
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