Com açúcar e sem afeto

Por Clóvis Campêlo.

Vejo em uma revista que Madonna, a grande artista pop, não consome açúcar branco refinado e nem permite que seus filho o façam.

A atriz Glória Swanson, diva do cinema americano, já falecida, também pensava assim. Dizia que não permitia a entrada do açúcar refinado nem na sua casa, quanto mais no seu corpo. Coincidência ou não, Swanson, que também praticava hatha yoga, passou dos 80 anos sempre bela e elegante.

Um dos seus últimos maridos, o jornalista William Duft, escreveu um livro interessantíssimo chamado “Sugar Blues”, em que estuda a chegada do açúcar no Ocidente, na Idade Média, através da cana-de-açúcar introduzida pelos árabes na Península Ibérica, e a sua influência no comportamento e no modo de pensar do homem moderno.

A escritora brasileira Sônia Hirscth, em um dos seus livros sobre alimentação natural, afirma que na Idade Média o açúcar refinado era um artigo tão caro e desconhecido que os nobres europeus o consumiam em bandejas de prata nas festas palacianas como um excitante exótico.
O cientista japonês George Oshawa, que no começo do século XX sistematizou e introduziu a filosofia e a alimentação macrobiótica no Ocidente, considerava o açúcar branco refinado como o inimigo nº 1 da humanidade. Segundo ele, o açúcar para ser metabolizado rouba cálcio e vitamina B do organismo humano. Ou seja, desalimenta.

Oshawa morreu aos 76 anos. Segundo os seus seguidores, supostamente envenenado. Juntamente com um físico francês, cujo nome não lembro no momento, ele havia descoberto como transformar cobre em ouro. Por se negar a fornecer a fórmula às grandes potências ocidentais, teria sido envenenado para que o segredo não caisse em mãos inimigas. A sua viúva, Lima Oshawa, também adepta das formas naturalistas de vida e alimentação, faleceu com mais de cem anos.

Para nós, nordestinos brasileiros, descobrir a malignidade do açúcar é terrível.

A sua cultura nos forjou a história, destruiu as nossas matas originais, contaminou os nosso rios, provocou guerras absurdas e permitiu o surgimento de sociologias explicativas dos nossos extâses e declínios sociais e econômicos. De certo modo, justificou a casa grande e a senzala. E quando os engenhos foram substituídos pelas usinas produtoras de açúcar, agudizou as desigualdades no campo e criou uma nova elite social e dominante.

“Sugar fields forever”, como já disse o poeta ao observar a paisagem monótona e desequilibrada dos nossos campos.
Com açúcar e sem afeto.

Recife, 2010

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